Os 30 anos do Cine Arte, os 25 do Miss e o circuito audiovisual em Santos
O audiovisual em Santos tem em 2021 duas efemérides marcantes: os 30 anos do Cine Arte Posto 4 e os 25 do Museu da Imagem e do Som de Santos (Miss).
São dois equipamentos, públicos, legado dos anos 1990, e dos quais hoje colhemos frutos, saborosos.
Porque tanto o Cine Arte como o Miss, somados à Cinemateca – existente desde 1980 – se configuraram em um dique de resistência ao processo de desaparecimento dos cinemas de rua e das salas de exibição de filmes de fora do circuito comercial.
Um parênteses: importante papel nessa resistência teve também o Cine Roxy. Por sinal, 2021 também se caracteriza pela sobrevivência desse patrimônio santista. Como tantas famílias, trabalhadores e empreendimentos totalmente desassistidos de uma política econômica nacional de enfrentamento à pandemia de covid-19, o Roxy esteve por um triz. A sociedade se mobilizou e o Roxy continua entre nós.
Voltamos aos anos 1990
Uma série de fatores – como a cultura do shopping center, a expansão da televisão por assinatura e da locação de filmes, e o ocaso pelo qual passou o audiovisual brasileiro (sobretudo na primeira metade da década) – fez com que os cinemas de rua fossem fechando.
As opções para se assistir a um filme na telona iam se restringindo às salas dos shoppings. Estas, um mercado dominado pelo oligopólio da indústria cinematográfica estadunidense. Priorizavam, evidentemente, a exibição dos chamados blockbusters.
Era um fenômeno nacional, e que se replicava aqui no litoral paulista.
A Cinemateca de Santos, conduzida por Maurice Lègeard, que veio a morrer em 1997, era um oásis.
Mas a área de refúgio se ampliou com a inauguração do Cine Arte Posto 4, em 8 de novembro de 1991. A cidade ganhava cinema público, de exibição de obras raras, à beira da praia, com entrada gratuita ou a ingressos com valores simbólicos.
Depois, no Centro de Cultura Patrícia Galvão, nasceu o Miss para expandir esse circuito, inaugurado exatamente cinco anos após o Cine Arte Posto 4 – em 8 de novembro de 1996. Também serviço público, com sessões e atividades gratuitas. E, mais ainda: espaço de guarda e preservação de acervos.
O Miss contava inclusive com um estúdio de gravação, muito útil para produções independentes de vários gêneros.
A revitalização e modernização desse estúdio, por sinal, foi escolhidos entre os projetos que a Prefeitura de Santos inseriu para serem votados pela população, no Orçamento Participativo.
A notícia despertou para a relevância que o Miss tem para o audiovisual de Santos e região, juntamente com o Cine Arte Posto 4 e a Cinemateca.
Depois desses espaços, surgiram outros, como o Cine ZN (Toninho Dantas, na Zona Noroeste) e as salas de exibição das Vilas Criativas, em várias regiões da cidade. Todos, reitere-se, espaços públicos, que contribuem para universalizar o acesso à sétima arte.
Ah, sem falar no Instituto Querô, como centro de formação, e que põe os meios de produção ao alcance de jovens de classes socioeconômicas desprivilegiadas.
*A coluna Santos90, dedicada a resgatar a memória da cidade e da região na década mais divertida do século XX, tem autoria de Wagner de Alcântara Aragão, em colaboração para o Juicy Santos.