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Adeus, Ferrs

Era ano de Copa do Mundo. 1970, seleção campeã.

Há 46 verões atrás, Fernando Rodrigues dos Santos abria as portas de uma das lojas de discos mais emblemáticas de Santos e do País, a Ferrs.

No auge dos discos de vinil, ela chegou com um conceito ainda bem novo: trazer produtos importados para os fãs de música da cidade. E não só daqui. A lista de clientes VIP inclui os membros do Titãs, Lulu Santos, o astro soul Billy Paul e Harry Casey, da KC and the Sunshine Band.

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Por um motivo um tanto triste, fomos atrás dessas e de outras histórias pra registrar a história da Ferrs.

A loja do Shopping Parque Balneário está em sua última semana de atividades. O ciclo se encerra no dia 28 de maio de 2016.

O começo

Em sociedade com o irmão Paulo Sérgio, Fernando, como todo apaixonado por música, abriu o comércio pra vender os discos de sucesso dos anos 70, uma época muito diferente quando se fala do consumo de cultura – tanto na forma quanto no conteúdo.

Depois de estabelecer boas relações com fornecedores nacionais, iniciou a importação de títulos, o que elevou de uma forma absurda o padrão da Ferrs. Tinha coisas que você só encontrava lá.

Ainda nos anos 70, a marca viveu uma expansão incrível e chegou a ter 3 unidades: na Galeria AD Moreira, na Galeria 5ª Avenida e uma terceira chamada Korneta, que oferecia produtos de áudio e vídeo, além dos discos, e ficava na Rua Luiz Suplicy.

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Em uma época pré-internet, os lançamentos eram anunciados no boca a boca, no balcão mesmo. Ou então os clientes pediam que telefonassem para eles quando uma determinada novidade chegasse.

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“A música mudou muito ao longo dos anos e nós passamos por todas essas fases. O vinil, o cassete, o CD, o Laser Disc, o DVD, o Blu Ray. Mas ainda hoje recebemos fãs da Beyoncé ou da Adele, por exemplo, que querem sentir o disco na mão. Já baixaram o álbum na internet, mas precisam tocar, manusear e guardar aquilo”, conta Fernando.

Pirata

Em 1979, o ritmo nas lojas diminuiu porque a dupla montou uma das casas noturnas que marcaram época em Santos. A Pirata ficava na Ilha Porchat e, até 1991, tocou os maiores sucessos da era disco e o pop dos anos 80.

Quando a casa fechou, Fernando retornou aos queridos discos, dessa vez em novo endereço, na Galeria Campos Elíseos.

“Era época dos 12 polegadas, da Madonna e do New Order. Isso aí vendia que nem água. Eu pedia 300 discos e, no dia seguinte, ligava pro fornecedor precisando de mais”.

Foi em 2002, no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, que a alta do dólar obrigou a loja a diminuir o ritmo das importações. As coisas ficaram ainda piores dali pra frente, por causa da popularização dos downloads e serviços de streaming.

Mas há, ainda hoje, um público fiel que consome na Ferrs e que vai continuar a fazer suas compras na loja, como clientes que procuram filmes antigos ou raridades fonográficas.

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Agora, todo o estoque vai para a loja online que, aliás, foi o primeiro e-commerce de música brasileiro, em 2000.

O bota-fora da Ferrs chega com descontos direto no caixa pra quem quiser completar sua coleção.

Um lugar pra viajar

Escrevi aqui no Juicy Santos sobre 10 discos que comprei na Ferrs e mudaram minha maneira de ouvir música.

Nem preciso dizer que conversar com Fernando trouxe à tona emoções fortes pra mim. Nesse lugar, passei momentos de descoberta, de empolgação, de curiosidade.

Com essa matéria e lágrimas nos olhos, me despeço da Ferrs, uma das lembranças mais queridas da minha adolescência em Santos.

E você, quais memórias têm da Ferrs e das outras lojas de disco em Santos?

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