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Santos é mesmo a cidade dos idosos?

Santos traz um quadro complexo: se por um lado a cidade atrai e oferece qualidade de vida para uma parcela da população, especialmente a idosa com poder aquisitivo, por outro enfrenta desafios demográficos, econômicos e ambientais significativos. O envelhecimento populacional e o êxodo de jovens talentos impactam negativamente a economia e o futuro econômico da nossa cidade.

Em 2025, durante o mês de janeiro em que celebrávamos o aniversário de Santos, a grande mídia nacional retratou o município da seguinte maneira:

  • Santos é uma cidade para gente mais velha
  • Santos é uma cidade que vai te derreter
  • O movimento migratório negativo, representando o crescimento vegetativo negativo

Matérias ligadas ao tema saíram no Estadão e na Folha de São Paulo, destacando mudanças climáticas e a verticalização da cidade. Essa fama da “cidade boa pra se aposentar” somada à questão da cidade ser muito fortalecida na construção civil é um combo e tanto. Como exercício criativo, perguntamos para a Inteligência Artificial o seguinte:

Por que Santos é uma cidade que ficou famosa que era boa para se aposentar?

Olha só a resposta, meio alucinada.

Santos é uma cidade boa para se aposentar?

Sobre o item 1: em 2010, uma onda de calor causou a morte de 32 idosos entre 65 e 90 em Santos durante o mês de fevereiro. E a situação só se agrava.

Com o olhar de quem vive aqui, a gente precisa discutir se Santos é essa cidade boa para idosos mesmo. E também, pensar a cidade para os jovens que irão dirigir a força econômica nos próximos anos. A minha geração (nascidos entre o fim dos anos 70 e 90) será 70% da força de trabalho até 2030. E provavelmente, será uma geração que pouco terá relação com uma aposentadoria em sua integralidade.

Ímã de aposentados

Idosos em Santos já representam 26% da população. Enquanto as crianças e jovens de até 19 anos somam 19%.

Talvez essa fama de “cidade boa para se aposentar” comece quando Santos se tornou uma cidade balneária de prestígio principalmente entre as décadas de 1920 e 1950, quando as propriedades terapêuticas dos banhos de mar eram muito valorizadas. Vinha pra cá uma elite paulistana e do interior de São Paulo, que começou a frequentar Santos regularmente, inicialmente para tratamentos de saúde e depois como destino de veraneio.

E é bem possível que muitas dessas pessoas que frequentavam Santos em sua juventude acabaram escolhendo a cidade para se aposentar, num misto de memória afetiva, o fetiche de morar na praia e a fama da saúde, relacionada com esportes, proximidade com o mar, etc. Tem também o fator cruzeiros marítimos, que as pessoas 60+ adoram. Praticamente é embarcar na garagem de casa.

A cidade para se aposentar, aparece em várias matérias recentes no Google. Inclusive matérias de 2024 que parecem bem chapa branca sobre esse tema, falando super bem da cidade como “paraíso para aposentados”. É questionável se isso é verdade mesmo, porque envelhecer bem em Santos e ser esse paraíso na terceira idade, tem mais a ver com poder aquisitivo do que com qualquer outra coisa. Cenário diferente do que quem vive no interior, onde em alguns recortes ainda é possível “viver com menos”.

Para entender melhor o cenário, em dezembro de 2024 iniciou-se uma pesquisa em Santos, que faz parte de um projeto nacional.

O programa Envelhecer nos Territórios já está em andamento em 43 cidades de 12 estados para avaliar as condições de vida dos idosos com mais de 60 anos, promovendo um envelhecimento digno e seguro por meio de políticas públicas que serão criadas a partir das informações obtidas durante o trabalho de pesquisa.

Atualmente, 390 agentes em todo o País estão criando vínculos e fortalecendo laços com 87,8 mil pessoas. Em Santos são 32 agentes, selecionados por editais.

www.juicysantos.com.br - Santos é mesmo a cidade dos idosos?

Ilhas de calor

Santos é a cidade mais vertical do país, índice superior a 63% de acordo com o último censo. Temos muitos prédios, e cada vez mais altos, especialmente aqueles de frente para o mar. Vale lembrar que apenas três cidades têm mais apartamentos do que casas no Brasil: Santos e São Caetano (SP), e Balneário Camboriú (SC).

O percentual de cobertura vegetal é em torno dos 10%. A vegetação tem papel importante no combate às ilhas de calor, uma vez que a evapotranspiração ajuda a reduzir a temperatura local.

Dados da UrbVerde indicam que a maior ilha de calor está na zona noroeste, nas regiões do Rádio Clube, Castelo e Areia Branca.

“É um exemplo emblemático da desigualdade socioeconômica e da vulnerabilidade climática”, afirma o coordenador da UrbVerde Marcel Fantin.

A área, habitada por uma população de baixa renda, fica atrás de morros – o que limita a ventilação natural – está próxima ao porto, e tem alta densidade construída e habitacional. Mas os bairros mas abastados também não se salvam Embaré, Vila Bemiro e Campo grande também se destacam como essas ilhas e calor. E 19% dos idosos do município vivem nas áreas mais quentes, que são as pessoas mais vulneráveis ao calor.

Existem cada vez menos santistas no mundo. Dados da Fundação Seade, vinculada à Secretaria da Fazenda e Planejamento do estado de São Paulo, apontam que Santos foi o único entre os grandes municípios do estado (com mais de 400 mil habitantes) que apresentou saldo vegetativo negativo em 2023 —ou seja, há mais óbitos do que nascimentos, uma condição que teve início em 2020.

No caso de Santos, o saldo migratório também é negativo. Ou seja, mais gente sai do que chega para morar na cidade, o que diminui a população total. Do pico de 422,9 mil habitantes de 2018 (o maior desde 2000) caímos para 417,8 mil em 2023.

A Folha de São Paulo se destaca a questão da construção civil e ao mesmo tempo, o Estadão escreveu sobre a problemática dos prédios altos e como somos a cidade mais castigada pelas ilhas de calor.

Falamos sobre isto em detalhes neste episódio do podcast do Juicy Santos, olha só:

É crucial que Santos reconheça e enfrente essas contradições demográficas, buscando políticas públicas que promovam a intergeracionalidade, atraiam e retenham jovens, diversifiquem a economia e priorizem a adaptação às mudanças climáticas, garantindo assim um futuro mais próspero e habitável para todas as gerações. A reflexão crítica apresentada nas matérias da grande mídia e no podcast do Juicy Santos serve como um importante ponto de partida para essa urgente transformação.

Ludmilla Rossi
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