Por que amamentar é bom para mães, bebês e toda uma cidade?
O vínculo entre mãe e bebê não são só um laço de intimidade, mas também ajudam na manutenção da saúde pública de um território. Amamentar é resistir e cuidar do futuro.
Você já deve ter visto fotos lindas, iluminadas, de mães amamentando — sorriso no rosto, bebê tranquilo no colo. Mas a verdade é que, no dia a dia, o aleitamento materno é um processo cheio de desafios, dúvidas e, muitas vezes, solidão.
Mas não precisa ser. O apoio pode vir de dentro da família (a começar, claro, pelo pai) ou de outras mães. Porém, quase nunca se fala sobre o que a cidade em que a mulher mora precisa ter como política pública e quais são as consequências positivas. Mais bebês que mamam significam mais crianças saudáveis e felizes no território.
Quando falamos em saúde, bem-estar e qualidade de vida, a amamentação desponta como uma ação simples com benefícios para a saúde coletiva que ultrapassam a intimidade entre mãe e bebê.
Quer saber como? A gente explica.
Amamentar é revolucionário
Estamos no Agosto Dourado, mês dedicado à promoção e apoio à amamentação. É quando especialistas reforçam um ponto que todos nós — família, amigos, profissionais de saúde — precisamos absorver: amamentar não é tarefa só da mãe.
É muito simplista falar na amamentação como um vínculo especial entre mãe e recém-nascido. Porque vira muito mais do que isso.
De acordo com o Ministério da Saúde, a ciência já comprovou que amamentar reduz o risco de hemorragia após o parto, ajuda a recuperar o peso pré-gestacional, protege contra câncer de mama e ovário, diabetes tipo 2 e até síndrome metabólica. E mais: mães que amamentam têm menos chance de depressão pós-parto, sentindo-se mais seguras e conectadas com seus bebês. Portanto, cada gotinha de leite materno é, também, uma potência para a saúde da mulher que acaba de passar por uma enorme transformação.
Bom para o futuro
Segundo o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI 2022), apenas 45,8% dos bebês brasileiros menores de seis meses recebem aleitamento materno exclusivo. O dado está aquém da meta de 50% estabelecida pela Organização Mundial de Saúde para 2025. E essa triste realidade se repete na Baixada Santista.
Embora não haja estatística local oficial publicada recentemente, especialistas que atuam nos hospitais e UBSs da região confirmam: o início da amamentação nem sempre é fácil. E o desmame precoce ainda é comum, seja por dificuldades técnicas, pressões externas ou falta de rede de apoio efetiva.
O Ministério da Saúde recomenda amamentação exclusiva até o 6º mês e estendida até 2 anos ou mais. No entanto, para chegar até lá, toda mãe precisa de informação e suporte.
E vale dizer que a amamentação não é instintiva. E não dá pra gente, que é mãe, aprender sozinha.
O que só o leite materno oferece
O poder do leite materno para os bebês é surreal.
O alimento é completo, fácil de digerir, fortalece o sistema imunológico, previne infecções respiratórias, diarreia, alergias, controla o peso e reduz drasticamente os riscos de mortalidade infantil.
Quem mama no peito começa a vida com menos risco de doenças como hipertensão, diabetes e obesidade, inclusive com vantagens cognitivas e maior rendimento escolar e profissional na vida adulta. Sem contar menos gastos com medicamentos e menos hospitalizações.
Ainda que fórmulas infantis busquem se aproximar da composição do leite humano, não existe tecnologia capaz de reproduzir anticorpos e células vivas. É por isso que o leite materno protege contra uma série de doenças. De diarreias a pneumonias, de alergias a diabetes, e até alguns tipos de câncer infantil, é um superalimento.
Para bebês prematuros ou com baixo peso, isso pode representar a diferença entre uma internação prolongada e uma alta mais rápida, reduzindo taxas de mortalidade infantil.
Uma rede de apoio sustentável para amamentar
Durante o Agosto Dourado, o tema da WABA 2025 (World Alliance for Breastfeeding Action) é “Priorizemos a Amamentação: criemos sistemas de apoio sustentáveis”.
O leite materno é insubstituível, mas o que realmente sustenta essa prática são os gestos que a comunidade, seja em casa, no trabalho ou na cidade, podem fazer pela mãe que amamenta. Trazer um copo de água, oferecer um ombro amigo, filtrar opiniões não solicitadas, facilitar a jornada de trabalho da mãe estão entre as ações que você pode fazer hoje para ajudar uma mãe.
Tudo fica mais fácil quando a família, vizinhos, amigos, profissionais de saúde e mesmo os empregadores participam, do jeito que podem desse momento.
Quando mães são apoiadas a amamentar, todo mundo sai ganhando. O leite materno é sustentável. Não gasta energia nem recursos naturais para ser produzido e reduz o lixo de embalagens e restos de fórmulas artificiais.
Menos crianças doentes significam menos sobrecarga no nosso sistema público de saúde e mais economia para o município, que pode investir em áreas como educação, lazer e infraestrutura. Pesquisas apontam que investir em redes de apoio, informação e políticas públicas de proteção à amamentação resulta em cidades com cidadãos mais saudáveis, produtivos e com maior senso de coletividade.
E mais: programas locais, como o incentivo à doação de leite materno e o fortalecimento de grupos de apoio, já são realidade em Santos, mudando trajetórias e sustentando o futuro da cidade gota a gota.
Mãe também precisa de colo
Além de um sistema que colabore com esse período tão importante, como sociedade, precisamos combater crenças que desestimulam as mulheres.
Muita gente já ouviu aquelas falácias de “Meu leite é fraco” ou “Peito pequeno produz menos”. Isso não é verdade.
O leite materno é completo e adaptável. E mais: a produção depende da sucção, não do volume das mamas.
Bebê não precisa de água até os 6 meses. Isso porque o leite materno supre todas as suas necessidades.
Agosto Dourado: mais que campanha, um pacto
Na Baixada Santista, hospitais, postos de saúde e organizações de apoio à maternidade têm intensificado ações educativas durante o mês.
Santos, por exemplo, promove rodas de conversa, palestras e atividades com pais para reforçar que amamentar é um ato coletivo, que precisa de rede e de presença, especialmente paterna.
O principal deles é a Hora do Mamaço, que já está em sua 14ª edição.
Hora do Mamaço 2025 em Santos
Evento pensado para mães, bebês, famílias e profissionais de saúde, ele acontece no domingo (17 de agosto), das 14 às 16h30, nos jardins da Pinacoteca Benedicto Calixto.
A Hora do Mamaço vem para fortalecer a rede de apoio à amamentação na Baixada Santista, além de oferecer informação, acolhimento e uma programação cheia de trocas e vivências. As 60 primeiras pessoas que chegarem ganham camisetas.
Vai ter desde espaços interativos para a família registrar o momento, passando por uma abertura oficial com depoimentos reais e roda de conversa com especialista, até atividades práticas que envolvem técnicas de amamentação, relaxamento e cuidados com os bebês.
Este encontro receberá, ainda, doações de roupas e fraldas que serão destinadas ao “Chá do Bebê Solidário”, beneficiando famílias atendidas pela policlínica da Vila Gilda. A área sofreu enormes perdas após um incêndio no fim do mês de julho de 2025.
Amamentar é resistir, cuidar do futuro e transformar um território a partir do começo da vida.