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O Filho da Geni: nova peça de Luiz Fernando Almeida transforma dor em empatia

Apresentação ecoa vozes silenciadas e expõe feridas que muitos escondem

Tempo de leitura: 5 minutos

“Quando uma história é contada no palco, ela deixa de ser individual e vira coletiva”. 

A frase do ator e produtor cultural santista Luiz Fernando Almeida define, sem revelar tudo, o tema do qual trata O Filho da Geni, seu novo trabalho autoral. 

A peça aborda um tema forte e silenciado na sociedade: o abuso sexual masculino. E prova, mais uma vez, que a arte tem o poder de transformar dor em diálogo e empatia.

www.juicysantos.com.bt - o filho de geni luiz fernando almeida

Do Marapé para o mundo

Nascido e criado no Marapé, Luiz descobriu sua vocação artística através do Projeto Carlitos, que levava aulas de arte às escolas municipais. Essa experiência moldou não apenas o artista, mas também o produtor cultural que se tornaria.

Formado pelo CPT do Antunes Filho, ele construiu uma carreira sólida entre São Paulo, Rio de Janeiro e Santos. Além disso, acumula mais de 30 espetáculos no currículo, com destaque para “Dama da Noite”, que há 14 anos permanece em cartaz e lhe rendeu projeção nacional e internacional.

Contudo, seu legado vai muito além dos palcos. Luiz idealizou eventos que marcaram gerações na Baixada Santista, como o pioneiro Bazar Cafofo e a Mostra Sansex da Diversidade, consolidando Santos como polo cultural relevante no cenário nacional.

Um tema urgente e invisibilizado

A pesquisa para “O Filho da Geni” começou quando Luiz se deparou com notícias sobre o assunto. 

“Percebi o quanto esse tema é pouco falado na mídia”, revela.

Durante dois anos, ele e o dramaturgo Diego Lourenço realizaram entrevistas no Brasil e em Londres. Muitos dos entrevistados são homens heterossexuais, casados e com filhos, que carregam traumas desde a infância.

“Quando a gente fala em casos de abuso, automaticamente pensa em meninas. Mas a subnotificação entre meninos é altíssima”, explica o ator.

O processo exigiu força emocional de toda a equipe. Matheus Lipari assina a direção com sensibilidade, enquanto Marcos Ozzy criou uma trilha sonora original que potencializa a narrativa.

Juntos, os três construíram um espetáculo que transforma histórias reais em arte visceral.

Quando a arte rompe o silêncio

Após duas temporadas bem-sucedidas em São Paulo, o espetáculo ganhou vida própria. Luiz recebeu inúmeras mensagens de pessoas compartilhando suas próprias histórias.

 “Saber que esse trabalho encoraja outras pessoas a falar sobre o que viveram me deixa profundamente feliz”, celebra.

Para ele, a arte cria espaços de escuta onde o medo e a vergonha normalmente calariam tudo. Portanto, o público se reconhece, emociona-se e inquieta-se diante das narrativas.

“Quero que o público olhe para essa realidade com coragem, empatia e responsabilidade”, afirma Luiz.

O operário da arte

Diferentemente do glamour imaginado, a vida artística exige múltiplas habilidades. Luiz trabalha com cultura desde os 16 anos e já exerceu diversas profissões: garçom, corretor de imóveis, promoter, dono de agência e DJ.

“Somos verdadeiros operários da arte. Os boletos não esperam, né?”, brinca com sinceridade.

Atualmente, além dos três monólogos em cartaz (“O Filho da Geni”, “Dama da Noite” e “Gotas de Codeína”), ele comanda a Cafofo Produções, realizando projetos culturais e eventos de economia criativa. Também já foi colunista do Juicy Santos por vários anos, produzindo textos cheios de acidez, ativismo e humor. Além disso, assumiu como educador líder e produtor no Instituto KondZilla, que estreia em Santos em novembro.

A organização oferecerá cursos de audiovisual e economia criativa para jovens da cidade.

“Unir minha experiência ao desejo de inspirar e abrir caminhos para uma nova geração é o que me move hoje”, revela.

Três monólogos

“O Filho da Geni” completa uma trilogia de espetáculos que mergulham em temas difíceis e humanos. Enquanto “Dama da Noite” e “Gotas de Codeína” já percorreram o Brasil, o novo trabalho traz uma abordagem ainda mais visceral sobre fragilidade, solidão e resistência.

“Os três falam de temas que precisam ser discutidos num mundo cada vez mais apressado, onde quase ninguém olha de verdade para o outro”, reflete.

Luiz reafirma a arte como seu lugar de cura, expressão e encontro genuíno com o público.

Além da atuação e produção, Luiz é autor dos livros “Não Deixe a Ansiedade Destruir sua Vida” e “Notícias do Subterrâneo”. Essa versatilidade demonstra como ele transita por diferentes linguagens artísticas sempre com o mesmo propósito: conectar-se com as pessoas.

Para 2026, já prepara novidades para Santos através da Cafofo Produções. Entretanto, é no trabalho com jovens que ele enxerga o futuro.

“Fortalecer novos talentos e impulsionar a cultura criativa e periférica do litoral é fundamental”, destaca.

Luiz representa a arte que não se acomoda. Ele provoca, questiona e acolhe. Seja nos palcos, na produção cultural ou na educação, seu trabalho carrega uma missão clara: transformar vidas através da cultura e dar voz a quem sempre foi silenciado.

Se você quer assistir à montagem, anote: ele apresenta no dia 30 de outubro (quinta-feira), às 20 horas, no Sesc Santos. Os ingressos custam entre R$ 12 e R$ 40. 

O Sesc Santos fica na Rua Conselheiro Ribas, 136, Aparecisa. 

Vitor Fagundes
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