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Marcha das Vadias em Santos

Neste domingo (3 de novembro), tem Marcha das Vadias em Santos.

A segunda edição do evento na Baixada Santista tem como objetivo combater a cultura de culpabilização da mulher que sofre violência. A concentração será na Praça da Independência, em Santos, a partir das 13 horas. A saída está marcada para as 14 horas.

A organização do evento já programou diversas atividades no local: apresentações musicais da rapper e DJ paulistana Luana Hansen e da rapper santista Preta Rara, integrante do grupo de Rap Tarja Preta, um sarau feminista, pintura corporal com uma artista plástica, distribuição e venda de literatura feminista, distribuição de insumos de prevenção (preservativo masculino, feminino e gel), orientação sobre prevenção de HIV/AIDS e outras DSTs, e venda de comida Vegana. E, pela primeira vez na Baixada Santista, chega o projeto Todos Podem Ser Frida.

Marcha das Vadias em Santos

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O projeto Todos podem ser Frida, idealizado e realizado pela fotógrafa e publicitária paulistana, Camila Fontenele de Miranda, estará pela primeira vez na cidade e será uma das atividades propostas do evento. O projeto tem como principal objetivo transformar diferentes pessoas na artista mexicana Frida Kahlo a partir dos cinco fragmentos: AMOR, DOR, INTEIRO, CORES e ABORTO. Sentimentos e acontecimentos mais fortes na vida da artista.

Será realizado no Emissário Submarino de Santos, destino final da Marcha das Vadias.

Todas as atividades serão gratuitas e abertas ao público.

O que é a Marcha das Vadias?

O movimento surgiu em Toronto, no Canadá, no ano de 2011, em reação a uma palestra realizada em um campus universitário, durante a qual um policial disse às alunas presentes que, para evitar o estupro, elas deveriam evitar se vestir “como vadias”. Assim nasceu a Slutwalk.

O comentário machista gerou uma passeata em protesto, que logo foi reproduzida em vários lugares do mundo, em países da América, Europa e Ásia. A primeira edição brasileira aconteceu em São Paulo, no ano de 2011. Em 2012, ocorreram diversas Marchas em várias cidades brasileiras, incluindo a primeira edição do evento na Baixada Santista, que ocorreu em Santos no dia 30 de setembro, com a presença de cerca de uma centena de pessoas.

A idéia da Marcha é combater as atitudes machistas que consideram a mulher total ou parcialmente culpada pela violência que sofre (principalmente aquela de natureza sexual, incluindo o estupro), que classificam algumas mulheres como menos dignas de respeito devido a fatores como a forma como se vestem ou se comportam, sua orientação sexual (como as mulheres bissexuais) ou sua profissão (como as profissionais do sexo), e que colocam sobre as mulheres a responsabilidade de evitar sofrer violência, em vez de cobrar dos homens que não a pratiquem.

A Marcha é especialmente importante em um momento no qual uma pesquisa recente revela que 99,6% das participantes já foram assediadas, sendo que 85% já sofreram violência física de natureza sexual (“passada de mão”), 68% já foram agredidas verbalmente por reagir negativamente ao assédio verbal, e 81% já deixaram de fazer algo por medo do assédio. É importante lembrar também que estudo elaborado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (CEBELA) e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, com base em dados do Ministério da Saúde, revela que 41% dos homicídios e 71% de todos os casos de violência contra as mulheres ocorrem dentro de casa, e que 42% de todas as agressões são causadas pelo companheiro ou ex-companheiro da mulher (número que sobe para 75% quando se considera apenas a faixa etária dos 20 aos 49 anos). O estudo aponta a culpabilização da vítima como fator preponderante entre os mecanismos por meio dos quais a violência opera.

No entanto, apesar dos avanços da legislação, a proteção e assistência à mulher que sofre violência é insuficiente e, por vezes, inexistente. Levantamento do Conselho Nacional de Justiça revela que, de 400 mil casos, 80% (ou 330 mil) tinham seguido adiante na Justiça, com quase 80 mil sentenças definitivas e nove mil prisões provisórias ou em flagrante. Pode parecer muito, mas as 80 mil sentenças definitivas correspondem a apenas 20% casos registrados até 2009. E as prisões correspondem a pouco mais de 2%.

Dentre as vítimas de violência, as mulheres negras são maioria. Segundo estudo das instituições supracitadas, no ano de 2010, foram assassinadas 48% mais mulheres negras do que brancas.

Outro ponto que deve ser ressaltado é o fato de que tais estatísticas são incompletas, pois não levam em conta um dos grupos de mulheres que mais estão expostas à violência e ao preconceito: o das mulheres travestis e transexuais. Segundo uma pesquisa realizada pela Rede de Pessoas Trans Brasil (REDTRANS Brasil), só no ano de 2013, 83 travestis e mulheres transexuais foram assassinadas no Brasil.

Além do machismo e da misoginia que agride todas as mulheres, elas são também vítimas da exclusão social que, através da não aceitação, do escárnio e da recusa a reconhecê-las como mulheres, expulsa muitas da escola, do mercado formal de trabalho e do próprio seio familiar, as empurrando para a marginalidade e o trabalho como profissionais do sexo, o que multiplica os riscos a que se vêem expostas.

Chama atenção o número de vítimas jovens, assassinadas antes de completar 20 anos (entre elas uma garota não identificada de 13 anos, estrangulada em Macaíba, Rio Grande do Norte). Muitas vítimas, como ela, não são sequer identificadas, o que revela a ausência de qualquer rede de apoio, inclusive familiar.