Curta mostra a primeira cidade do Brasil através do olhar indígena
Conheça as histórias da Aldeia de Paranapuã através do emocionante filme 'Se Ver'.
Enxergar memória, território e identidade da primeira cidade do Brasil, além dos marcos históricos e das paisagens conhecidas. Essa é a ideia por trás do curta-metragem “Se Ver”, realização de um grupo de artistas e da comunidade indígena Guarani Mbya. O lançamento aconteceu em uma noite emocionante no Cine Roxy Brisamar, com uma sala lotada.

Para quem vive ou circula pela Baixada Santista, esse filme representa não só um produto cultural. Mas é um convite a repensar as origens da região a partir da vivência de quem esteve ali muito antes da colonização. E, claro, o tema ganha ainda mais significado quando vemos moradores da Aldeia de Paranapuã tomando a tela e o palco para contar suas próprias histórias.
Quando as terras falam: raízes indígenas no território de São Vicente
Talvez você ande por bairros como Japuí, Bitaru ou Itararé todos os dias. E nunca parou para pensar no quanto esses nomes carregam um pedaço da história indígena local. Segundo dados do Instituto Socioambiental, antes da chegada dos portugueses, a Baixada Santista abrigava diferentes povos indígenas. Sobretudo do tronco Tupi-Guarani, que deram origem a muitos dos topônimos ainda presentes na nossa geografia atual.
Mesmo com a urbanização intensa e as mudanças que mexeram com o mapa da região, São Vicente guarda marcas dessa ancestralidade. Marcas estas que, por muito tempo, foram apagadas ou silenciadas pela narrativa oficial. A volta do povo Guarani Mbya à Aldeia de Paranapuã, depois de quase cinco séculos, é parte viva desse movimento de retomada cultural e identitária. Agora, isso é documentado pelo curta-metragem “Se Ver”, que mostra a primeira cidade do Brasil através do olhar indígena.

Palavras e canções em Se Ver
Dirigido por Maia de Barros e Danila Bustamante, e coproduzido pela própria Aldeia de Paranapuã, o curta é narrado integralmente em Guarani. Mas não se trata “apenas” de um filme documental. O projeto coloca a comunidade como protagonista em todos sentidos: na tela, nas canções, na direção e no próprio lançamento.
Durante a sessão, além do filme, o público ouviu discursos do Cacique Ronildo e apresentações do coral Mensageiros Nhãndêrú Rêmbíguái, formado por crianças, jovens e mulheres da aldeia. O clima ficou carregado de emoção especialmente no encerramento, quando os gritos por “demarcação já” ecoaram pelo cinema, reforçando a luta pelo reconhecimento formal da Terra Indígena Paranapuã, uma causa que segue sem solução aqui na região.

O curta-metragem “Se Ver” mostra a primeira cidade do Brasil através do olhar indígena, e propõe uma nova forma da cidade se entender: não só como um marco da colonização, mas como território indígena vivo, plural, multifacetado e resistente.
O projeto foi viabilizado com apoio da Lei de Incentivo Cultural Paulo Gustavo, permitindo a montagem, gravação e estreia do curta em São Vicente. Em breve, fará o circuito de festivais e exibições para o público.