Texto porLuiz Fernando Almeida

Personalidade da Noite: David Marques

O Diretor Artístico David Marques, 61 anos de idade, é a nossa Personalidade da Noite esta semana. Contador e Artista Plástico de formação. Esse santista, hoje reside em São Vicente. Ao longo de seus 36 anos de carreira, tornou-se o principal nome da cena LGBT da Baixada Santista.

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É bem verdade que sempre surge um novo nome a cada ano, mas o David sempre esteve presente e mantem-se em atividade constante.

Não há quem frequente a noite LGBT e nunca tenha ouvido falar nele. E não me refiro somente as bees da Baixada Santista.  O Brasil todo conhece Davirina. Por isso, nada mais justo do que convidá-lo para esta entrevista onde ele poderá contar um pouco a respeito da noite LGBT na região e de sua carreira.

Eu comecei a sair muito cedo e o David já estava lá. Na época, nós tínhamos medo dele porque achávamos que ele era brabo. Mas anos depois, eu fui entender que ele era apenas exigente demais consigo mesmo e com todos que trabalham com ele. David já viu todas as casas abrirem e fecharem e sabe de absolutamente todos os bafos da Cena LGBT da Baixada Santista.

Tive o prazer de convidá-lo para coreografar o Concurso Rainha Gay de Cubatão em 2012, ano em que assinei a Produção Artística do evento, e consequentemente, o prazer de ter a oportunidade de estreitar os laços de amizade a partir deste momento.

“Age Preta!” -Você já deve ter ouvido em algum canto da The Club, o pequeno David, gesticulando e pedindo que alguém pare de corpo mole e resolva algo.

AGE

O David é assim: Ou você vai amá-lo ou odiá-lo. Não tem meio termo. Mas, se você tiver o privilégio de conhecê-lo verdadeiramente, tenha a certeza de que terá um grande amigo ao seu lado.

Conheça um pouco mais a seu respeito… 

Juicy: Quando você percebeu sua ligação com o mundo artístico?

David: Em 1982, após desfilar a uma vez na escola de samba X9 de Santos.

J: Você sempre trabalhou com a noite LGBT?

D: Não, iniciei minha vida profissional como corretor de café na Yoshioka e Cia. Após um tempo, passei a trabalhar como autônomo vendendo jóias semipreciosas, depois iniciei na noite LGBT no ano de 1987, como assistente de palco, cenógrafo e às vezes bailarino em shows montados.

J: Há quanto tempo você trabalha na noite?

D: Há exatos 36 anos.

J: Em sua carreira, você teve a oportunidade de lançar diversos nomes da noite LGBT, prova disso, é a quantidade de artistas que levam seu sobrenome, cite alguns.

D: A Dimmy Kieer já trabalhava na noite a algum tempo, mas nunca havia tido oportunidade como apresentadora, após uma brincadeira no antigo e conhecido Chalé Privet ela passou a apresentar constantemente festas, concursos e eventos em todo o Brasil.

Lancei vários GO GO Boys renomados na noite LGBT que atuam em todo o país como o Rick que saiu como vencedor do meu concurso de GO GO Boys novos talentos na casa noturna Camaleão.

A minha cria, Jhullia Marques, nunca havia feito show nem algo parecido, sua área de atuação era a dança e teatro, e após vencer o concurso Drag Camaleão Mix Club no Ilha Porchat e iniciou sua carreira nacional e internacional na noite LGBT no ano 2000 fazendo shows em navios de cruzeiros europeus sem esquecer-se de suas notáveis l participações em vários concursos de Misses.

O GO GO Boy Jorginho também iniciou sua carreira comigo e tornou-se um dos melhores GO GO Boys do Brasil, em seguida vieram também o Will, Robertinho, Marlon, Lipe, Júlio Resende, o Rick da nova geração entre outros…

Na área de Shows e Hostess, vieram também Gabbana Cyber, Letoya Pool, Flavia Schiffer, Samantha Dior, Loren Lee, Claudia´s…

J: Você não acha que as noites LGBTS estão todas iguais? 

D: Sim, a noite caiu na rotina. Perderam o interesse em criar algo inédito e atraente para o público. Os tempos são outros, o público LGBT vem crescendo constantemente e tornando-se cada dia mais exigente. A noite LGBT foi invadida pelo público hétero e simpatizante e os DJs foram os responsáveis por isso graças a seus vastos e interessantes repertórios musicais que atraem grandes públicos e seguidores e consequentemente, tirando de cena o glamour da noite LGBT e seus shows inesquecíveis.

Antigamente o público procurava as casas noturnas para assistir a shows temáticos e musicais. Os artistas eram reconhecidos por seus impecáveis figurinos e dublagens perfeitas. Os shows, eram elaborados semanas e até meses com cenários e figurinos confeccionados especialmente para a ocasião, musicas editadas e aberturas e finais realmente glamorosos. Os artistas e principalmente os Diretores Artísticos , eram reconhecidos por seus trabalhos impecáveis e principalmente bem remunerados. Nos dias atuais o público vai para as boates em busca de boa musica e muitas vezes apenas para se drogar e isso é lamentável.

J: Sua relação com o carnaval vem de longa data né? Conte-nos um pouco a respeito.

D: Meu primeiro contato com o carnaval foi em 1980 na escola de samba X-9, onde desfilava em alas. Após três anos, iniciei como destaque nos desfile da pioneira desfilando durante 15 anos e recebendo vários prêmios de destaque de luxo e originalidade tais como os troféus Zelu e Brás Cubas que na época que era a maior premiação e reconhecimento no universo da samba.

Em 1990 comecei a produzir o concurso Miss Santos Gay, um evento anual que acontecia nas quadras de Escolas de Samba.

Em 1997 fui convidado pelo saudoso Marcão, ex-secretário de cultura no governo Telma, para assumir o cargo de carnavalesco da GRES. Unidos dos Morros com o enredo: Rio de Janeiro, cidade maravilhosa. Neste ano, a Unidos dos Morros saiu da última posição e foi para quarta, não conseguindo uma melhor classificação por perda de pontos devido à falta de componentes.

Dai veio à gestão do Beto Mansur, e o carnaval Santista foi cancelado durante oito anos. Após esse fato , não retornei mais ao mundo da samba. Embora tenha muita vontade.

J: O que um candidato a gogo boy precisa além de um corpinho bonito pra fazer sucesso?

D: Uma vez que a noite LGBT deixou de ser essencialmente LGBT, por conta dos DJS e principalmente dos BOYS um corpo bem desenhado conta é claro, mas principalmente saber dançar e a SIMPATIA, CARISMA e PROFISSIONALISMO.

J: As pessoas ainda se aproximam de você por interesse? Na noite rola muito isso né?

D: Sim, antigamente isso acontecia muito mais. Nos tempos áureos, nos estávamos sempre na mídia e éramos reconhecidos por nosso trabalho. Então, sempre apareciam pessoas capazes de tudo pra estar ao nosso lado. Hoje em dia, como os shows perderam espaço para os DJs, esse tipo de aproximação não existe mais.

J: Além da The Club Litoral onde você atua como Diretor Artístico, quais seus projetos para 2014? 

D: Ultimamente atuo somente na The Club Litoral. Infelizmente quando você trabalha para uma determinada balada “é quase impossível fazer paralelamente outros tipos de eventos e afins no litoral, pois o publico não é tão grande assim”.

Meu próximo projeto para 2014 e voltar a organizar o MISS SANTOS GAY como nos velhos tempos com muito glamour, seriedade e grandes shows, e quem sabe voltar a desfilar novamente nos carnavais santista.