Texto porJuicy Santos
Santos

Meça suas palavras, parça!

Vivemos na era do politicamente correto. Qualquer palavra dita poderá e será usada contra você.

Tome cuidado com o que você anda dizendo por aí, pode ser que seja um alvo fácil. Chame alguém de gordo, magrelo ou tampinha, por exemplo, e poderá ser rotulado como gordofóbico, magrofóbico ou baixofóbico.

Seria um exagero?

Quando uma mulher fala sobre os preconceitos que enfrenta no dia a dia ou quando um negro fala da discriminação que sofre, faço questão de fechar a boca e ouvir o que essas pessoas têm a dizer.

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É claro que sou contra a misoginia e o racismo empregados em nossa sociedade. Sempre levantarei minha voz contra aqueles que se julgam superiores, mas, ainda assim, não tenho a mesma autoridade para falar sobre esse assunto como eles. Não sofro isso, não sinto na pele.

Comprovo isso por experiência própria. Sou gay. E o que isso importa, certo? Sou formado em Gestão Empresarial, sou jornalista, filho, neto, irmão, namorado, ex-aluno, amante do cinema, leitor de biografias, fã de rock clássico e por aí vai. Sou uma mistura complexa de gostos, pensamentos e atitudes como qualquer outra pessoa.

A sexualidade é apenas um dos traços do “DNA” que compõem minha personalidade e que, no final das contas, não define de modo algum o meu caráter. Em outras palavras, orientação sexual não está relacionada em ser ou não uma boa pessoa.

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Você nasce assim e pronto. Logo, ser gay é um fato irrelevante, ou pelo menos deveria.

Ainda assim, quando ando pela rua de mãos dadas com meu futuro marido – e quando isso acontece, até porque em muitos lugares é perigoso – não é raro olhares tortos e encaradas, como se estivessem vendo um monstro.

Não foram poucas as vezes em que estava andando na praia e escutei de jovens passeando de carro pela orla esticarem suas cabeças para fora da janela e gritarem palavras ofensivas.

“Mas eles só falaram ‘viado’! Você não é isso?!”

“É apenas zoação!”, diria alguém adepto do politicamente correto.

A grande questão não é a palavra em si, mas a forma, o contexto e o sentido em que ela é dita.

O “viado” dito pelo estranho na rua que se faz de tartaruga na lataria do seu carro não tem o mesmo carinho dos amigos que me chamam no What’s App desta forma. (Agora entendo porque a palavra com “n” nos EUA só é dita entre os negros).

O sentimento desencadeado pelas palavras e pelos olhares e por tantas outras situações é de revolta, angústia e inconformidade.

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É justamente a parcela preconceituosa da população que faz um fato irrelevante se tornar manchete na sociedade. Pessoas agridem de diversas formas, estupram, abusam e matam pessoas simplesmente porque elas não seguem a orientação sexual esperada ou porque têm características de que não gostam.

Só eu sei o que passo e o que sinto, assim como só quem é gordo, magrelo ou baixinho sabe o peso que as palavras têm para eles.

É claro que, como jornalista, acredito que o “politicamente correto” não deve ser usado como ferramenta de censura. Cada um tem o direito de pensar o quiser. Qualquer humorista deve ter a liberdade de fazer piadas como quiser e conforme a sua consciência. Quem achar graça, ria, e quem não ver sentido, não o faça.

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Entretanto, somos seres humanos. Em maior ou menor grau, somos afetados de alguma forma pelas palavras que a nós são dirigidas. Algumas pessoas encaram certas rotulações como brincadeiras inocentes, outras as entendem como dolorosas ofensas.

Um artigo usado incorretamente pode desencadear uma disforia de gênero.

“Mas é só um artigo”, eles dizem.

É, na verdade, a dor que arde no peito de quem luta para ser reconhecido não como foi designado quando nasceram ou como as pessoas querem, mas sim como se sentem. Até porque gênero é uma construção social – assunto para outra hora.

Há uma condição acima do politicamente correto, há o bom senso e a compaixão. O que fere uma pessoa não deveria ser motivo de alegria; pelo menos para mim não é.

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Então, para além do politicamente correto, pela humanidade que nos resta, eu digo: meça suas palavras, parça, e seja feliz.