Texto porLuiz Fernando Almeida

Mais um caso de racismo e homofobia em Santos

Na ultima segunda-feira (24 de outubro), por volta da meia-noite, o estudante Lucas Gomes, 23 anos, foi vitima de racismo e homofobia, seguidos de agressão na unidade do Mc Donald’s na Ponta da Praia.

O relato foi compartilhado por ele em seu perfil no Facebook na terça-feira e viralizou na cidade.

Eu procurei o Lucas e bati um papo com ele pra tentar entender o que havia acontecido de fato.

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Já disse e repito:  Santos é uma cidade extremamente homofóbica e hipócrita no tocante à sexualidade. Aqui, tudo é permitido por baixo dos panos, mas ser autêntico, assumido ou diferente em aberto ainda incomoda, se você não for a bichinha bibelô de madame.

Já falamos um pouco a respeito aqui, quando ocorreu aquele caso no bar do Gonzaga, que repercutiu nacionalmente e mobilizou muita gente em uma manifestação histórica pra cidade. Aquele dia foi lindo de ver. Tinha muita gente na porta do bar exigindo justiça. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer aqui na Sonífera Ilha.

Nós sabemos que homofobia não é crime no Brasil. Então, os culpados e agressores continuam se valendo dessa brecha inadmissível em nossas leis e agem como bem entendem. Vale lembrar que racismo já é crime. Então, resta-nos acreditar que, neste caso, o agressor não sairá impune mais uma vez.

É sabido que faltam muitas politicas publicas para os LGBTS na região. Tem muita gente engajada, fazendo sua parte e dando duro para que possamos evoluir neste sentido. São cidadãos comuns que entendem a importância da militância e fazer valer seus direitos. Porém não vemos muitos avanços nesse sentido. O governo não tem politicas efetivas para a população LGBT. Desde o último caso, em 2014, até agora, nada foi criado neste sentido.

Ate quando teremos que tolerar esse tipo de coisa? Ate quando teremos que sentir medo de sair nas ruas? As pessoas estão sem filtro, agressivas, explosivas, intolerantes. Juntando tudo isso à certeza da impunidade, como faz?

Abaixo, o papo rápido que tive com o Lucas e  a reprodução do depoimento postado no seu perfil.

Foi à primeira vez em que você foi vitima de racismo e homofobia na Baixada Santista?

Sim, foi a primeira vez. Eu jamais imaginaria que isso aconteceria comigo e meus amigos. Jamais imaginei que pudesse realmente existir alguém capaz de agredir outra pessoa simplesmente por causa da cor dela ou de sua orientação sexual.

Apos a agressão, você registrou queixa? Se sim, como foi tratado na delegacia?

Eu e meus amigos fomos encaminhados para o 1º DP de Santos na Av. São Francisco. Fomos tratados normalmente, porém aguardamos a liberação durante muito tempo.

Apos a postagem nas redes sociais, algum órgão publico, ONG ou grupo assistencial entrou em contato? Como tem sido a reação das pessoas?

As pessoas têm sido muito solidárias comigo, alguns repórteres entraram em contato com interesse de também divulgar o fato ocorrido. Fico muito feliz que haja tantas pessoas solidárias, que se importam com essas situações de racismo e homofobia.

Como você está se sentindo?

Ainda estou muito assustado, pois não sei qual será o desfecho. Estou com muito, muito medo mesmo. Penso na minha família, não somente em mim. Preocupo-me mais com eles, pois não sei do que as pessoas são capazes e, além disso, nós fomos ameaçados pelo agressor dentro da delegacia e na própria lanchonete. Minha mensagem é a seguinte: por mais que tenhamos medo, que fiquemos assustados com as agressões, com as ameaças, jamais devemos abaixar a cabeça e deixar o medo tomar conta de nós, devemos, sim, buscar por justiça e agir de modo que essas pessoas racistas e homofóbicas paguem pelos seus atos. Não podemos mais admitir que esse tipo de atitude ganhe força na nossa sociedade. Por isso, lutem sim pelos seus direitos e façam que outras pessoas lutem também!

Os seguranças do Mc Donalds ou funcionários lhe deram alguma assistência?

Sim, tanto o vigilante que estava no local e como os funcionários nos deram assistência, chamaram a polícia e separaram a briga.

A resposta do Mc Donald’s

O Juicy Santos entrou em contato com a assessoria de imprensa do Mc Donald’s e a empresa se posicionou da seguinte forma:

“Apesar de não ter envolvimento direto com o ocorrido, a empresa se coloca à disposição das autoridades que apuram o fato, caso entendam que podemos contribuir.”

Leia o relato de racismo e homofobia:

Na segunda feira de madrugada, por volta das 00h05min, fui agredido por um rapaz de aparentemente 32 anos, alto e forte junto da sua namorada, no estacionamento do Mc Donald’s da Ponta da Praia. Estávamos na fila do drive thru, eu e meus amigos conversando sobre um prejuízo que eu levei de 150 reais causados por um motoqueiro enquanto trabalhava de Uber. Eu disse: “Caramba, vou ter que ficar com um prejuízo de 150 reais por causa de um pilantra”.

Esse cara (agressor) passou e falou:

–  Vai sim

Eu perguntei se ele estava louco, porque eu nem o conhecia. A partir daí, começou a agressão verbal: pretinho, veadinho, merda, etc. Fizemos o pedido e fomos retirar nossas coisas… Olhamos para dentro e ele estava na fila, olhou pra nós, em especial pra mim e minha amiga, que é negra também, coçou a pele com o indicador e nos chamou de pretinho, de cor. Começamos a chama-lo de racista e gritamos pra chamar a polícia. Nessa hora, ele saiu e me agrediu com um soco e agrediu minha amiga (grávida) com um soco na testa, um empurrão e chutou a porta na perna dela, ela o avisou da gravidez, mas ele disse que não estava nem aí.

Se eu tenho vergonha de ter apanhado?! Nem um pouco!

Tenho é vergonha de ter apanhado por causa da minha cor, por ser quem eu sou! Santos está contaminada por gente que se acha da elite, por uma classe media baixa que acha que tem poder pra sair por aí fazendo qualquer tipo de coisa, por gente que acha que receber 4 mil reais, pagar um aluguel de 2000 e ter um iphone 6/7 é ser rico! Um absurdo… RACISTAS E HOMOFÓBICOS NÃO PASSARÃO!

O post original pode ser visto aqui.