Texto porSuzane G. Frutuoso

A coragem de ser imperfeito

Uma distensão muscular nas costas, e que se agravou nos últimos dez dias, me fez dar aquela diminuída de ritmo que só o universo sabe obrigar quando a gente insiste em não ouvir e sentir os sinais de que a coisa vai desandar de vez.

Ficamos preocupados em não descumprir prazos, em não decepcionar as pessoas ao redor e em quanto isso pode custar financeiramente (empreendedores entenderão). Em não parecermos eficientes e corajosos o suficiente para enfrentar TODAS as adversidades que aparecerem pela frente. E até assumir as adversidades que nem são nossas.

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Mas aí decepcionamos a nós mesmos ao perceber que só chegamos ao limite porque não fomos capazes de admitir uma preciosidade da vida: a vulnerabilidade.

Permita-se ser vulnerável

Se permitir ser vulnerável é o que nos torna seres realmente corajosos. Não sou eu apenas quem digo, mas a psicologia e uma das principais pesquisadoras do mundo no tema, a professora americana Brené Brown.

Há alguns anos uma das minhas melhores amigas de infância, a Nara, me deu de presente o livro “A coragem de ser imperfeito”, escrito por Brené. Foi ali, no início dos meus 30 anos, e quando eu começava a aprender a dizer “não” – mas ainda me sentia muitas vezes culpada por negar a perfeição e admitir que tem hora que não dá pra aguentar.

O livro foi o impulso que faltava, de um aprendizado iniciado na terapia, de que nem sempre as coisas sairiam como o esperado, apesar disso sempre seria possível recomeçar e tudo bem quando as pessoas fossem embora ou se sentissem incomodadas se a sua postura não é estar à disposição absoluta ou é a de questionar uma situação.

Tenha coragem de ser imperfeito

Não significa ser egoísta ou incapaz de estender a mão, mas saber até onde é possível ir sem se prejudicar, se machucar, se desrespeitar. Delegando a cada um a responsabilidade que lhe cabe.

Mesmo que você passe a ser visto como alguém “imperfeito”. E em tempos instagramáveis e de um desespero de tantos em serem “amados”, admirados, seguidos, é preciso muita coragem para falar não quero, não tá bom, não posso, não vai ser assim, lamento se desagrado, quero manter minha saúde e integridade, entenda meu momento.

Desde a leitura do livro realizei uma mudança atrás da outra, construí muito mais do que eu imaginava ser possível até então, aprendi meus limites e que saber desistir também pode ser conquista.

Só que às vezes a gente se empolga, acha de novo que vai dar conta de tudo e todos, e volta a estaca zero hahahaha

E num domingo à noite, depois de cinco dias de medicação e ainda sentindo muita dor, assisti junto com a minha Charlotte (porque às vezes nosso pet é a única “pessoa” que realmente entende o que estamos sentindo) na Netflix a palestra The Call to Courage (O Poder da Coragem). Novamente dela, a professora Brené Brown.

Mais uma vez foram as palavras de Brené que me lembraram que ser vulnerável é o que dá coragem para parar e investir no autocuidado quando assim se fizer necessário. Que é a vulnerabilidade que nos faz abrir o coração sinceramente para os amores maiores e para se arriscar naquelas experiências que de verdade nos darão alegria.

Nada tem a ver com largar tudo e só fazer aquilo que se quer. Isso é inconsequência, não coragem. É entender que, sim, estar bem pode estar diretamente ligado a não aceitar algumas exigências, venham de onde for, e bons sentimentos e boas histórias só surgem quando não se tem tudo sob controle. Organização é importante, faz a vida fluir. Perfeição é se preocupar demais com o que vão pensar e passar a vida rodando no mesmo lugar.

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Suzane é santista e cofundadora da plataforma Mulheres Ágeis e da consultoria ComunicaMAG. É jornalista, mestre em sociologia, professora e escritora. É autora do livro “Tem Dia Que Dói – mas não precisa doer todo dia e nem o dia todo”. Mãe orgulhosa da vira-latinha Charlotte.