Clique aqui e confira também nosso tema da semana

Sabores e sons: como o Nordeste ajudou a moldar a Baixada Santista

Entenda as influências e a herança da cultura nordestina em Santos e região.

Tempo de leitura: 4 minutos

Sabia que a Baixada Santista também pulsa no ritmo do Nordeste? Quem circula diariamente por Santos e cidades vizinhas sente, vê e ouve as marcas deixadas por gerações de nordestinos que fizeram da região seu lar. E, mais ainda, ajudaram a transformá-la. Das festas populares aos aromas da culinária, passando pelo sotaque e pelas manifestações culturais, as influências nordestinas protagonizam cenas que costuram passado, presente e futuro aqui. 

www.juicysantos.com.br - O melhor acarajé de Santos? Nós achamos!

Um Nordeste inteiro no coração da Baixada

Segundo dados do CENSO 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Sudeste continua sendo o principal destino dos migrantes nordestinos no Brasil. São 10,4 milhões de nordestinos vivendo fora de seus territórios de origem, com 6,8 milhões (65,5% do total) na Região Sudeste. Eles se concentram, em sua maioria, no estado de São Paulo, incluindo uma presença marcante nos nove municípios da região, como Santos, São Vicente, Praia Grande, Cubatão e Guarujá.

Bairros como a Zona Noroeste santista, os bairros-cota de Cubatão e o distrito de Vicente de Carvalho concentram orgulho, tradição e vínculos familiares nordestinos. 

Em Cubatão, estima-se que cerca de 60% da população tenha origem direta no Nordeste. 

Raízes fincadas pelo trabalho 

A onda migratória nordestina começou a ganhar força na região na década de 1940, com destaque para trabalhadores vindos em busca de emprego. Esse movimento não apenas mudou o perfil demográfico da Baixada, mas também trouxe práticas, saberes e sotaques variados, que tornaram a nossa cultura ainda mais rica. 

O cenário da época era de transformações econômicas e sociais tanto no país quanto na região. O Nordeste enfrentava graves problemas socioeconômicos, como seca, desigualdade no campo e falta de oportunidades. E esses fatores levaram milhares de pessoas a buscar uma vida melhor no Sudeste, especialmente nas cidades paulistas e no litoral.

O porto de Santos se desenvolvia de forma acelerada no século XX e se tornava o maior do país, responsável por movimentar a economia nacional. Muitos nordestinos foram para o trabalho portuário ou atuar em serviços relacionados ao comércio de exportação e importação, aproveitando a demanda por mão de obra intensa para carga e descarga de mercadorias. 

A região prosperou com suor nordestino

E, se antes disso Cubatão era marcada pelos bananais e uma população quase toda local, a partir dos anos 1940 a implantação das indústrias – especialmente aquelas ligadas à química e ao petróleo – mudou o cenário. Essas fábricas precisavam de milhares de trabalhadores, promovendo a migração em massa de nordestinos, principalmente de Sergipe, Bahia e Pernambuco. Muitos se instalaram nos chamados “bairros-cota” e outros núcleos operários, formando novas comunidades. 

Além disso, a construção da Via Anchieta, nos anos 1940, e posteriormente da Rodovia dos Imigrantes, demandou centenas de trabalhadores vindos do Nordeste e de outros estados. Muitos deles montaram acampamentos próximos às obras e, concluídos os projetos, ficaram por aqui. 

Esse fluxo se acentuou entre os anos 1940 e 1970, alimentado por políticas estatais que facilitavam o deslocamento, como o pagamento de passagens e hospedagem para trabalhadores migrantes. O Estado estimulava a vinda de nordestinos para suprir a necessidade de mão de obra urbana, num contexto de modernização acelerada do Sudeste. 

A influência não se limita aos números. Está nos festejos de junho que aquecem o inverno com fogueiras e comidas típicas, nos forrós animados de casas tradicionais e na música nordestina ecoando nos rádios, bares, praças e festas populares. Eventos como a Festa Nordestina dos Morros de Santos, que rolou em 2023, se tornaram uma celebração de diversidade e brasilidade por aqui. 

www.juicysantos.com.br - Mostra Cultural do Maracatu Quiloa reflete sobre o tempo em sua 20ª edição

Culinária e tradições que atravessam gerações

É impossível falar da influência nordestina sem ficar com água na boca. Restaurantes, bares e feiras pela cidade oferecem delícias como baião de dois, sarapatel, acarajé, canjica, cuscuz, tapioca e muito mais. 

Aqui tem 8 dicas de onde curtir os sabores do Nordeste em Santos

Na cultura, não dá pra esquecer dos grupos de maracatu Quiloa e Oju-Obá, que mantém vivo o batuque pelas ruas de Santos. 

Nessa síntese do Brasil profundo e plural, a presença nordestina nos lembra diariamente que migrar é também ressignificar. Histórias de luta, resistência, esperança e superação são comuns, mostrando que a construção da região foi e e segue sendo feita por mãos vindas de muitos cantos, com sonhos e coragem de sobra para criar uma identidade urbana única.  

Avatar
Texto por

Contato