11 bandas de Santos: as melhores de todos os tempos

Cá estou eu, em uma missão de resgate.

Sim, um resgate quase que arqueológico da memória musical do rock em Santos, para o qual o Juicy Santos seria um veículo sensacional, pelo seu alcance e importância dentro do contexto cultural da cidade atualmente.

A ideia é não apenas mostrar quem moldou e construiu as fundações do estilo por aqui, mas também deixar um registro da cena musical e das bandas de Santos para a posteridade.

www.juicysantos.com.br - melhores bandas de santos de todos os tempos

Como surgiu a ideia de listar as melhores bandas de Santos de todos os tempos

Numa conversa informal com a Flávia Saad, editora do site, falamos sobre a importância de algumas antigas bandas de Santos serem apresentadas à gerações mais novas e lembradas pelas mais antigas. A partir dessa conversa várias ideias surgiram, inclusive a de não só abordar bandas de rock. Inclui músicos que deixaram um trabalho bacana, porém não chegaram a alcançar um sucesso comercial significativo.

Perguntei para mais de 2.600 amigos no meu Facebook quais eles achavam as bandas de Santos mais importantes, excetuando quatro nomes óbvios. Como falávamos especificamente de Santos exclui, por exemplo, uma de São Vicente que considero bem importante: Santuário, que inclusive fez um show matador no Sesc Santos no Dia do Rock em 2018.

O resultado desse enquete básica foi bem interessante: alguns amigos queridos citaram a minha primeira banda (Ecossistema) que fez um trabalho super digno na década de 80, aqui e ali. Alguns outros puxaram as brasas para as suas sardinhas, citando suas próprias bandas ou bandas de outros amigos queridos.

Para poder ser o mais imparcial possível tive que estabelecer alguns critérios de seleção, então decidi pelo seguinte: influência sobre outros músicos/bandas, circulação por outras cidades/estados/países (em shows ou lançamento de discos, na era pré-streaming). E, por fim, como a banda aparece em pesquisas no Google.

É lógico que a seleção final não vai agradar a todos, mas dentro desses critérios acho que consegui criar uma lista, ao menos, bem balanceada. Ela está em ordem cronológica.

1. Recordando o Vale das Maçãs

Formada em 1974 por Fernando Pacheco (guitarra), Fernando Motta (violão), Domingos Mariotti (flauta), depois contando com Lee Eliseu nos teclados e voz.

lee vale das maçãs

Em 1976, teve um LP lançado pelo selo da extinta TV Tupi, com ampla divulgação na mídia da época. Com a extinção do selo a banda foi se dispersando aos poucos, retomando atividades esporadicamente. A partir de 1987, o RVM começa a distribuir sua produção fonográfica na Europa e Japão. Com isso, nos anos 90, ganha prêmios na França e na Noruega. O resultado é um convite oficial da Embaixada do Brasil na França para um concerto em Paris em 1997.

Desta forma o RVM foi a primeira banda brasileira de rock progressivo a oficialmente se apresentar na Europa.

Em 2014, fizeram um show de reunião no Sesc Santos com membros remanscentes.

2. Sombras da Noite

Com o perdão do trocadilho, de todas as dez foi a que mais ficou “nas sombras”. No entanto, pode-se dizer que influenciou muito a geração de bandas locais que surgiu nos anos 80, no levante do rock nacional que assolou o país.

Iniciou por volta de 1976, como reunião de amigos de escola que gostavam de rock e tocavam alguma coisa. Depois de diversas formações, já com Alex Podrão nos vocais e Gilvan Gomes na guitarra (que mais tarde tocaria na Gang 90), o baterista Marcos Scazufka (atualmente no Ex-Machina) cursava medicina no Rio de Janeiro. Lá, fez contato com diversas figuras proeminentes da música, inclusive Eduardo Dusek, que se apaixonou pela pegada punk/brega da banda e se inspirou em gravar o disco Brega Chique (o do megahit Doméstica), no qual incluiu Maldito Dinheiro do Sombras.

Infelizmente, por não morarem todos no Rio de Janeiro e pelo fato de outras bandas de lá já estarem em ascensão, acabou sendo preterida e se diluiu, sem deixar outros registros decentes em áudio. Talvez por isso não seja tão lembrada em listas de melhores ou mais importantes da cidade. Quem sabe esta matéria lhe faça um pouco de justiça.

3. Vulcano

A banda, eleita recentemente a mais importante da”’ história de Santos pelo Blog’n Roll, foi formada em 1981 por Zhema, Paulo Magrão e Carli Cooper e já teve incontáveis formações desde então. Apesar de um início mais hard rock, é pioneira no heavy metal da Baixada Santista e do metal extremo no Brasil.

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E se mantém firme na ativa. Lançou um compacto duplo em 1983 dando início a uma discografia de 11 álbuns (dois ao vivo) e 4 singles. Já fez várias tours pela Europa e EUA e é considerada uma das mais importantes e influentes bandas de heavy/black metal brasileiras. Em 2016, foi tema de um documentário, dirigido por Wlad Cruz.

4. Druidas

Criada em 1984 pelo baterista Plínio Romero, já no ano seguinte contava com o virtuoso guitarrista Mauro Hector, que se tornaria ícone local do instrumento.

A banda, no início, tocava hard rock em português. Em 1989, iniciou uma fase blues, sem nunca deixar de lado influências de ícones como AC/DC, Black Sabbath e Jimi Hendrix.

Com a entrada do baixista e cantor Marcos Paulo, estava formado o trio básico. Mais tarde, Plínio saiu, dando lugar a Alexandre Faccas, o Monga, e a Druidas ficou com essa formação até o seu final, em 2017.

A banda só teve um registro em CD na coletânea Sons da Cidade, de 1996. Mauro Hector tem uma discografia solo respeitável e seu trabalho na banda inspirou dezenas de guitarristas que surgiram na cidade desde então.

5. Harry

Formada em 1985 pelo ex-Vulcano Johnny Hansen e pelo baterista Cesar Di Giacomo. Ambos já haviam investido em um projeto de música pop (Bi Sex) que chegou a ter algumas boas execuções em rádio na cidade. Como a banda foi preterida por uma gravadora (diz a “lenda” que pela bem-sucedida Metrô), Hansen resolveu radicalizar e partiu para o som alternativo, com influências de bandas como Joy Division e Chrome.

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Lançaram um EP (Caos, 1987) e um LP (Fairy Tales, 1988 – este disponível nas plataformas de streaming) pelo selo independente Wop Bop. A partir daí, tornam-se referência no underground brasileiro, com citações em vários veículos importantes de comunicação.

Em 1990, com a saída de Di Giacomo, partem para um som mais eletrônico no disco Vessel’s Town, tornando-se também referência da EBM (Electronic Body Music) no Brasil.

O Harry parou por um tempo e retomou as atividades no início dos anos 2000, com o lançamento mundial de um box, Taxidermy, com os três discos mais bônus. Em 2014, voltaram à pegada guitarreira com Electric
Fairy Tales.

Em 2017, o líder e frontman Johnny Hansen nos deixou precocemente, aos 56 anos, tornando o futuro da banda totalmente incerto.

6. Psychic Possessor

Formada em 1986, lançou seu primeiro LP dois anos depois pelo selo Cogumelo Records. O álbum trazia uma sonoridade diferenciada e inédita à época, do gênero crossover trash, e ainda misturando elementos do death metal e do trash metal com o hardcore punk.

O álbum foi gravado em uma semana no Estúdio JG em Belo Horizonte, pelos integrantes originais, o guitarrista Zé Flávio, o vocalista e baixista Lauro Neto e o baterista Arthur Von Barbarian.

O trabalho trouxe uma musicalidade inovadora à época, com bases mais graves e solos não muito longos sendo, por vezes, referido como o maior trabalho da banda. No ano seguinte, lançaram o segundo álbum, Nós Somos da América do Sul.

Com algumas mudanças na formação, encerrou suas atividades em 1991. Após definitivamente se separarem, o então baterista Maurício Boka passou a integrar a banda Ratos de Porão e, posteriormente,I Shot Cyrus. Já o guitarrista Zé Flávio fundou a banda Safari Hamburguers e, em seguida, o Sociedade Armada, enquanto o baixista Fabrício Baiano e o vocalista Alexandre Farofa fundaram o Garage Fuzz (outra banda bem conhecida saída de Santos).

O som do Psychic ainda iria reverberar em regravações de The Mist e Ratos de Porão e até hoje é citada por muitos como uma banda referencial.

7. Carnal Desire

Criada em 1991, após o final da banda Alcoólica do vocalista Tarso Wierdak, que assumiu as guitarras, voz e composição de todas as músicas. Nascia ali o estilo que chamou de sexycore e sexual pornometal.

Nestes quase 30 anos de estrada, fizeram vários shows na Baixada, na capital e no interior. E Wierdak adotou um visual zoeira, utilizando elementos sadomasoquistas, com máscara, botas, sunga, etc.

A banda também tem o hábito de jogar revistas e DVDs pornôs nos shows, combinando com suas letras. Dois dos seus melhores momentos do foram participações no Programa do Jô, em 2006 e 2008.

A banda não tem nenhum registro oficial em LP ou CD, mas segue na atividade.

8. White Frogs

Nasceu em 1993 quando o baixista João Veloso convidou amigos para fazer um som. Foi uma das primeiras da Baixada a investir no hardcore melódico e a que mais se projetou. Teve uma trajetória de mais de 400 shows no Brasil e EUA, inclusive abrindo para bandas referência para o seu som, como Bad Religion, NOFX, Millencolin, Down by Law, No Fun at All, e Agent Orange.

Como quase todas as outras bandas de hardcore da cidade, teve inúmeras formações diferentes. Mas chegou a receber mais de 200 cartas por mês em alguns momentos, de todos os lugares do mundo. Entre vinil, CDs, coletâneas e material oficial, foram mais de 30 discos lançados em 18 países. Encerrou suas atividades em 2004.

9. Garage Fuzz

Formada em 1991 e tem suas origens ligadas a diversas bandas do cenário santista, como Ovec, Psychic Possessor e Safari Hamburguers. É considerada uma das bandas mais influentes do underground brasileiro durante as décadas de 1990 e 2000.

Banda santista que comemora 20 anos de carreira

Lançou seu primeiro álbum, Relax in Your Favourite Chair, em 1994 pela gravadora holandesa Roadrunner, iniciando uma discografia de seis álbuns, 3, EPs, 2 splits e participações em coletâneas. Fez turnês por todo o Brasil ao lado de nomes internacionais como Sick of it All, Down By Law, e Fugazi. Entre idas, vindas e diversas formações diferentes, a banda continua na ativa.

10. Charlie Brown Jr.

Um dia, em 1990, Alexandre Magno Abrão, o Chorão, subiu ao palco do bar Crepperie (que ficava na Rua da Paz) para ocupar o lugar de um que cantor que passou mal e teve que ir ao banheiro. A performance agradou a uma outra pessoa da platéia, que o convidou para cantar em sua banda.

Surgia o What’s Up, que logo contaria com o baixista Champignon, então com apenas 12 anos de idade. Em 1992, a banda adotou o nome que a eternizou na calçada da fama do rock brasileiro. No ano seguinte, começou a se destacar no cenário santista com um som pesado e letras em inglês, inspirado em bandas como Pantera e Bad Brains.

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Em 1996, o produtor Rick Bonadio investia freneticamente bandas que pudessem de alguma forma ocupar a lacuna do sucesso estrondoso dos recentemente falecidos Mamonas Assassinas, que haviam sido produzidos por ele. Estava pensando em promover uma banda de ska (não por acaso, o primeiro sucesso do CBJr foi um ska) que parecia que iria ser a “próxima onda” na época.

Gostou do estilo e da relação do Chorão com skate, mas queria um som menos pesado, mais comercial e em português. Assim, em trinta dias, a banda produziu as várias canções que compuseram seu primeiro álbum, Transpiração Contínua e Prolongada e o resto da história todo mundo conhece.

Os dois fatores que provavelmente fizeram com que o CBJr se tornasse a banda de rock de Santos mais famosa – pelo menos em termos de grande mídia – foram o fato de Chorão sempre se cercar de músicos extremamente habilidosos e talentosos e da sua sensibilidade em captar os anseios e frustrações dos jovens (e mesmo de muitos não tão jovens) e traduzir isso em suas letras.

11. Shadowside

A “caçula” da lista de 10 bandas de Santos fundamentais iniciou suas atividades oficialmente em 2001.

Então formada por apenas adolescentes, gerou curiosidade por parte do público após abrir para o Nightwish, em show no Credicard Hall em São Paulo. Isso criou uma grande expectativa para seu primeiro álbum completo.

Theatre of Shadows, lançado em 2005, rendeu uma turnê com a lendária banda alemã  Helloween no Brasil e uma passagem rápida pelos Estados Unidos, onde começaram a ser chamados pelos fãs norteamericanos de “brazilian metal hurricane”.

Entrevista com Dani Nolden, vocalista da banda de metal Shadowside

Seu segundo álbum apareceu em diversas listas de melhores do ano da mídia especializada e a banda então excursionou pelo Brasil, Estados Unidos, Espanha, Romênia e Bósnia e Herzegovina, onde o show foi transmitido ao vivo para 250.000 pessoas.

No final de 2010, a Shadowside saiu em uma longa turnê europeia como convidados especiais da banda W.A.S.P. Os quase dois meses de viagens incluíram apresentações na Itália, Espanha, Alemanha, Holanda, Suíça, Inglaterra, Escócia, País de Gales, Irlanda, Irlanda do Norte, Hungria, Polônia, Lituânia, Estônia e Finlândia.

No início de 2011, abriu para o Iron Maiden no Rio de Janeiro. E, em seguida, lançou seu terceiro álbum. Dois anos mais tarde, acompanhou Helloween e Gamma Ray em uma turnê de 36 shows pela Europa.

Com tanta bagagem, a banda segue gravando e excursionando pelo exterior, levando seu metal melódico por aí.

E aí, quais bandas de Santos fizeram a história do rock e deveriam estar na lista? Conte pra gente nos comentários!

Por Rogério Baraquet, músico santista com mais de 30 anos de estrada em bandas e carreira solo.