Texto porJuicy Santos
Santos

Entrevista com Dani Nolden, vocalista da banda de metal Shadowside

Com pouco tempo de estrada no heavy metal, Dani Nolden já contabiliza com a banda santista Shadowside uma série de resultados positivos incríveis.

Além de realizar turnês bem sucedidas pelo exterior, o grupo conquistou a crítica com seu disco mais recente, Inner Monster Out, e até o público do exterior se rendeu ao carisma da banda, que ganhou o prêmio pelo voto popular da Independent Music Award, nos Estados Unidos.

Com tudo isso, Dani continua sendo a mesma garota simples, que está sempre disposta a bater um papo com os amigos ou mesmo fazer um som com os colegas da banda.

Veja a entrevista que ela concedeu para o colaborador musical do Juicy Santos, Luiz Otero.

Entrevista com Dani Nolden, vocalista da banda de metal Shadowside

Veja vídeos da Shadowside no YouTube

O disco mais recente – Inner Monster Out – acaba de conquistar um prêmio pelo voto popular na 11° edição do Independent Music Awards, importante evento nos Estados Unidos. O que isso representa para a banda?

Dani Nolden: Um degrau a mais que subimos, de forma muito mais especial que poderíamos esperar ou querer, já que veio através do público. Os fãs deram esse prêmio para nós, que já foi dado à bandas como Lacuna Coil há alguns anos atrás. Nós estamos muito surpresos.

Acho que, aos poucos, estamos percebendo como o número de fãs que nos segue está crescendo. Nenhum de nós imaginava que tínhamos chance de vencer, especialmente porque algumas bandas realmente grandes estavam competindo, como o Asking Alexandria.

Para nós, a vitória deles era praticamente certa. Lembro que na última semana de votação, os organizadores do Independent Music Awards enviaram um e-mail à todos os finalistas, avisando que o tempo para que os fãs votassem estava acabando e que todos deveriam fazer suas últimas campanhas… como nós não acreditávamos que tínhamos chance, acabamos deixando de lado, pois não queríamos encher o saco dos fãs por algo que não conseguiríamos vencer…

Então, para nossa surpresa, o e-mail de anúncio dos vencedores chega dizendo: “…e o vencedor da categoria álbum de Metal/HardCore é… SHADOWSIDE!”. Eu achei que era um daqueles e-mails falsos, para roubar senhas, essas coisas… só acreditei quando vi no site (risos).

Tudo isso significa que avançamos um pouquinho mais, pois muita gente importante como Ozzy Osbourne e Keith Richards, além de renomados profissionais da indústria musical, fizeram parte desse concurso, além do prêmio ser em forma de divulgação extensa nas rádios, em distribuição para milhares de pessoas de um CD com músicas de todos os vencedores.

É provável que isso resulte na maior turnê pelos Estados Unidos que já fizemos até hoje, especialmente porque antes de vencermos, também alcançamos a 9ª posição entre as bandas de Metal e Hard Rock mais tocadas nas rádios dos EUA, de acordo com o CMJ. As coisas estão acontecendo bem rápido, mas isso apenas significa que temos ainda mais trabalho pela frente.

Há espaço para divulgar o Metal no Brasil? O que seria preciso para ampliar esse espaço?

DN: Eu acredito que há bastante espaço para um gênero considerado underground, mas não há espaço suficiente para se fazer carreira com uma banda de Metal apenas no Brasil, apesar de termos um público grande e bem fiel no aqui no país, não conseguiríamos manter a banda contando apenas com o mercado nacional.

Metal não faz parte da cultura brasileira e alguns poderiam dizer que é pelo idioma, pois a grande maioria dos brasileiros não entende inglês… Porém, nós temos bandas que fizeram e ainda fazem letras em português, como Claustrofobia,  Confronto, Glória.

Eu acho que antes de esperarmos que mais espaços sejam abertos para o Metal, temos que mostrar aos fãs que é possível estar na mídia sem perder a integridade, sem que a gente precise se vender.

Talvez duas coisas precisem acontecer ao mesmo tempo… A mídia mainstream que fala de Metal de forma pejorativa deveria respeitar tanto bandas quanto fãs, que vão aos shows e nunca causam confusões, que são apaixonados pela música, e os fãs e bandas não devem ver a mídia como nossos inimigos.

Aparecer na TV não é ser vendido, a menos que você mude quem você é e o que você faz apenas para estar ali. Acho que aos poucos, mais espaços se abrirão, é apenas uma questão de tempo para mostrarmos aos brasileiros que o Metal pode e é parte do Brasil também.

O estilo veio de fora, para muitos ainda é algo estrangeiro e exótico no país, mas já criamos nossa identidade, já exportamos bandas e a vitória de cada grupo, cada conquista de cada banda beneficia a toda a cena, pois abre as portas para todos.

A formação atual parece ter se firmado, depois de um período de transição com mudanças no início. Como funciona o processo criativo da banda?

DN: Todos nós criamos e não apenas permitimos, mas queremos que todos opinem e mudem as ideias iniciais que cada um de nós leva ao estúdio.

Antigamente, não trabalhávamos dessa forma, era mais comum um ou dois membros entregarem o disco inteiro praticamente pronto aos outros integrantes, com pouca interferência, e as demos eram praticamente iguais ao resultado final.

Porém, no Inner Monster Out, nós decidimos fazer algo completamente diferente, envolver a todos os membros, não parar de trabalhar nas músicas enquanto todos não estivessem felizes com o resultado final. Diferenças musicais passaram a ser algo muito bem-vindo na banda, pois passamos a ter o desafio de agradar 4 pessoas com gostos completamente diferentes, o que torna o trabalho algo único.

Eu e o guitarrista Raphael Mattos fizemos praticamente metade das ideias iniciais cada, mas nenhuma das nossas músicas que apresentamos aos outros membros da banda ficou igual ao que você escuta no Inner Monster Out. Todos mudamos melodias, riffs, estruturas, cortamos algumas partes, acrescentamos outras.

Uma das músicas favoritas de todos nós, Waste of Life, foi escrita de forma bem espontânea. Eu tinha um refrão sem o restante da música, acho que tinha um riff que eu queria usar como verso que nem lembro como era, nem lembro se é alguma parte que usamos na versão final da faixa (risos). Raphael tinha um riff, ele tocou, achamos que ficaria legal com o meu refrão…

Fabio disse que sempre teve vontade de fazer uma música começando já na voz, uma ideia foi inspirando a outra e em 15 minutos, uma das melhores músicas do álbum estava pronta. Trabalhar dessa forma fez com que ninguém ficasse com responsabilidade em excesso, ficou leve e divertido para todos nós. Eu não sou a criadora do álbum, nem o Raphael… a banda Shadowside é. Não paramos de mudar as composições enquanto os quatro não escutaram e disseram: “era exatamente isso que eu queria”.

Entrevista com Dani Nolden, vocalista da banda de metal Shadowside

Em sua versão nacional, o disco contém uma versão de Inútil, com a participação do Roger Moreira, do Ultraje a Rigor. Como surgiu essa oportunidade?

DN: A ideia partiu de uma vontade nossa de gravar uma música em português, por sermos brasileiros. Ficamos em dúvida entre gravar uma versão de uma das nossas músicas em português ou fazer uma nova, porém como eu tinha todo o restante do álbum pra escrever e nunca escrevi uma letra em português, senti que não teria tempo suficiente para fazer algo interessante, tanto pela falta de prática e experiência quanto pela quantidade de trabalho que ainda tinha para fazer com o nosso material principal.

A ideia ficou meio de lado, até que Raphael tocou Inútil com uma banda de noite, eles fizeram uma versão mais rápida e pesada, então pensamos… “por que não?” Inútil foi escrita há 30 anos atrás, mas ainda combina muito bem com o que o Brasil é hoje.

Todos nós gostamos muito de Ultraje a Rigor. Então pedimos autorização ao Roger para gravar uma versão Metal da música. Ele nos deu a permissão e fizemos um arranjo bem pesado para ela. Quando terminamos a gravação, nosso baterista Fabio mostrou ao Roger e perguntou se ele queria participar, e para nossa honra e felicidade, ele aceitou.

Quando voltamos a São Paulo, gravamos com ele no estúdio Norcal. Foi uma tarde divertidíssima, ele gravou rapidamente, deu aquele toque fantástico e irreverente para a música e depois passamos tempo conversando, trocando ideias. Tenho uma admiração enorme por esse cara e fiquei muito feliz tendo a oportunidade de cantar essa música com ele.

Como está a divulgação do trabalho de vocês no exterior? Há planos para realizar uma nova turnê no exterior?

DN: Sim, agora estamos começando a pensar com mais calma na turnê do exterior. Temos ainda várias datas sendo agendadas no Brasil, porém enquanto estamos fazendo a turnê aqui, estamos divulgando o álbum lá fora e no começo de 2013 provavelmente começarmos a anunciar as atividades na Europa e Estados Unidos.

Temos algumas datas pré-agendadas, mas como temos bastante tempo para divulgá-las, afinal são coisas entre junho e outubro de 2013, vamos esperar que todos os planos estejam concretos e a turnê completa.

Não sei se conseguiremos fazer alguma coisa no Japão também, mas é uma possibilidade, já que o álbum ficou entre os 30 mais vendidos lá, seguido por Nightwish, Lamb of God, Evanescence. Acho que o ano que vem será bem cheio para nós, vamos acabar tendo que escrever álbum na estrada. Eu não posso dizer que fico chateada com isso (risos).

Como é estar na frente de uma banda como integrantes homens? Que receita você adotou para garantir uma convivência harmoniosa?

DN: Eu nunca tive uma companheira de banda, nunca tive a oportunidade de estar em bandas com outras mulheres na formação, então tudo sempre foi muito natural pra mim.

Eu tenho bandas com homens desde 14, 15 anos de idade, acho que acabei não desenvolvendo muita frescura por causa deles (risos). Eu sinceramente não consigo entender que tipo de problemas as bandas com homens e mulheres na formação conseguem encontrar (risos).

Para mim, tudo parece tão simples… cada um respeita o espaço do outro e um não tenta mudar a forma de pensar do outro. Eles não reclamam do tempo que eu preciso pra me arrumar, nem do tamanho da minha mala porque eu levo muitas roupas… e eu não reclamo se eles querem falar bobagem na minha frente, se não são cavalheiros.

Eles são meus companheiros, meus amigos de banda, de trabalho, estamos todos no mesmo barco, eles não estão lá pra abrir a porta pra mim e me tratar como uma estrela, que é o que às vezes as meninas esperam de todos os homens do mundo (risos). Eles estão tão cansados quanto eu no final de um show.

Ter uma banda significa conviver durante muito tempo em um lugar muito pequeno quando você está em turnê. É como dividir um quarto com 5, 6 pessoas, pois o ônibus não é muito espaçoso. Por tudo isso, não podemos ser cheios de cerimônias uns com os outros, somos como uma família realmente. Tiramos sarro uns dos outros e curtimos essa vida na estrada.

Na sua opinião, como está o panorama do mercado fonográfico do Metal no exterior? Quais bandas têm se destacado mais recentemente?

DN: Eu não tenho acompanhado muito as novidades, acho que a última coisa nova que eu conheci e gostei foi Killswitch Engage e eles já não são mais tão recentes assim. Sei que bandas como Dark Tranquillity, Soilwork e In Flames, ainda estão muito bem tanto na Europa como nos Estados Unidos, o público parece gostar bastante desse tipo de som por lá.

Sua voz é sempre um destaque a mais na banda. Que tipo de cuidado você toma com a voz?

DN: Eu não fumo, evito álcool em dia de show e na noite anterior, procuro descansar o máximo que puder antes de uma apresentação. Os rapazes falam que eu passo a turnê inteira dormindo (risos).

Em um ponto é verdade, porque o sono em um tourbus é bem ruim, não é a mesma coisa que deitar em uma cama dentro de um quarto silencioso. Então eu acabo me isolando um pouco, eles podem dormir mais tarde e eu só posso participar das festas quando temos um dia livre.

Meus cuidados não são necessariamente voltados para a voz, mas para o meu corpo… porque a voz apenas segue o corpo. Se você está saudável, naturalmente sua voz vai estar na melhor forma também. Então, nada de chazinhos quentes antes do show, nada de cachecol para proteger a garganta (risos).

By: Luiz Otero