Texto porSuzane G. Frutuoso

Proteção e guia sob as bençãos de Juarez Bahia

O início de 2020 reservou um dos momentos que já posso considerar dos mais especiais do ano.

Assumi uma cadeira de acadêmica da jovem Academia de Letras e Artes de Praia Grande (ALAPG). Me senti honrada ao ser considerada para fazer parte desse grupo, em meio a tantas pessoas talentosas da região e da minha cidade – que está cada dia mais linda, moderna, com melhora da qualidade de vida e aumento de oportunidades para a população.

Espero estar sempre à altura da confiança que me foi dada para representar e incentivar a cultura de Praia Grande. Quem sabe até mesmo ajudar a formar uma nova geração de escritores por lá.

Quando assumimos como acadêmicos é preciso indicar um patrono, uma espécie de padrinho ou madrinha dessa fase que se inicia. Alguém que consideramos uma inspiração da escrita ou da arte que nos acompanha na vida.

Engraçado que quase todo mundo achou que eu escolheria uma mulher como patrona por causa do meu trabalho com empoderamento e liderança femininas. Faria sentido, claro.

Mas, assim que eu soube da indicação para uma cadeira me veio apenas, e imediatamente, um nome em mente: Juarez Bahia.

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Escritor e jornalista, como eu, Benedito Juarez Bahia foi um dos poucos jornalistas negros no Brasil a ser editor de jornais, ainda na década de 1960, considerado um dos jornalistas mais importantes na construção da História da Imprensa Brasileira.

Juarez atuou como repórter premiado no extinto Diário de Santos e em A Tribuna, editor e correspondente internacional pelo Jornal do Brasil em Portugal, na Espanha e em países africanos. Também dos Estados Unidos colaborou para Folha de São Paulo, Estadão e Revista Visão.

Falecido em 1998, foi ele o personagem escolhido para meu trabalho de conclusão de curso da faculdade de jornalismo na Unisantos, que posteriormente se tornou um capítulo do livro 200 Anos de Imprensa no Brasil – Cátedra Unesco, com o título: “Bahia: vencendo no jornalismo, apesar do preconceito racial”. São dele as obras literárias Setembro na Feira, Ensina-me a ler e Um homem de trinta anos (este último meu preferido).

Mesmo não o conhecendo em vida, Juarez foi uma presença muito forte no começo da minha carreira. Para uma agnóstica é até um pouco difícil de explicar rsrs… Por muitas vezes me senti guiada nas minhas decisões como repórter quando eu ainda tinha tanto a aprender. Quando não tinha certeza do que fazer ou mesmo medo de não ser boa o suficiente. Eu “conversava” com Juarez mentalmente. Eu o “invocava” antes de começar um texto. E quando digo que era uma presença forte é exatamente isso: eu sentia que ele estava ali.

Ao longo do tempo, e talvez porque fui construindo confiança em mim mesma, perdi esse ritual, essa conversa, esse conselho em forma de inspiração. Mas quando, há três anos, comecei a trabalhar com questões femininas lembrei novamente de Juarez. Um cara que além de enfrentar preconceito racial no jornalismo foi um incentivador das mulheres nas redações de jornais. Deu oportunidade para a carreira de muitas jornalistas deslanchar, inclusive da professora Benalva Vitório, minha orientadora que me apresentou à história fantástica dele.

Sob suas bênçãos, novamente e 20 anos depois, Juarez é proteção e guia.

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Suzane G. Frutuoso é jornalista, escritora, professora e cofundadora de Mulheres Ágeis e ComunicaMAG. Mãe da cachorrinha Charlotte e da gatinha Jeannie é um Gênio