Tu não sabe!
— Meu, tu não sabe!
— Não sei mesmo.
— Não sabe o quê?
— O que eu não sei.
— Como assim?
— Ué, se eu não sei, eu não sei o que eu não sei.
— Hã?
— Não foi o que tu disse?
— O que eu disse?
— Tu não sabe.
— Não sei o quê?
— Não, porra. Tu me disse: tu não sabe. Mas o tu que tu disse não é tu, o tu que tu disse sou eu.
— Eu disse que tu não sabe.
— Isso.
— E por que tu disse que não sabe mesmo?
— Porque eu não sei.
— Tá de sacanagem!
— Não, só concordei com o que tu disse. Tu falou que eu não sei, claro que não sei se tu nem falou.
— …
— …
— É, faz sentido.
— Mas o que eu não sei?
— Era um negócio que eu ia falar.
— Então.
— Então o quê?
— Se tu ainda nem falou, é porque eu não sei mesmo.
— E daí?
— E daí que não precisa falar que eu não sei.
— Hã?
— Se eu não sei, não precisa falar que eu não sei. Era só contar o que eu não sei, porque é óbvio que eu não sei antes de tu contar. Aí, tu fala e eu fico sabendo. Nem precisa ficar rodeando.
— É.
— É o quê?
— Faz sentido.
— Tá vendo?
— Tô sim.
— Então.
— Então o quê?
— O que eu não sei, que tu falou e não contou? Agora quero saber o que eu não sei pra ficar sabendo, né?
— Ah!
— …
— Pô. Nem lembro mais.
— Ah vá.
— Sério.
— E agora?
— Não sei.
— Quem sabe?
— Vai saber, sei lá. Eu…