Café Paulista: desde 1911 na história de Santos
No salão do Café Paulista, o som das conversas, em sua maioria sobre o trabalho deixado para trás no escritório, encaixa-se perfeitamente nos ruídos emitidos por talheres, pratos e xícaras.
A mistura dá as boas-vindas aos visitantes.
Instantes depois, a tarefa passa a ser de um dos simpáticos garçons, vestidos de terno branco, gravata borboleta e sapato social. Tudo como se você houvesse embarcado em uma viagem de volta ao dia 25 de março de 1911, quando a casa abriu as portas pela primeira vez.
São mais de 100 anos anos no mesmo ponto, na Praça Rui Barbosa, 8, Centro Histórico. No decorrer deste tempo, muitas coisas mudaram e outras tantas se mantiveram intactas.
“Aquele ali é a nossa relíquia, sabe a história disso aqui como ninguém. Pode alugar ele pelo tempo que precisar”, diz, bem-humorado, o atual dono do estabelecimento, que o comprou há pouco mais de três anos.
Dimce Dobrevski é a lenda do local.
O garçom, posicionado no fim do salão, trabalha no estabelecimento há mais de três décadas.
Cumprimenta todos que entram, conversa com os outros funcionários e antes de qualquer coisa, escreve seu nome em um papel.
“É mais fácil que soletrar”, brinca.
Vindo da Ex-Iugoslávia, Dimce mantém um leve sotaque. Apesar disso, garante que se sente 100% brasileiro. Tem até um time do coração, mas não é o Santos FC, e sim o Corinthians.
Reunião de autoridades
Sem dificuldades e de cabeça, ele lista os grandes nomes da politica brasileira que passaram pelo salão do Café Paulista nesses últimos 30 anos: Valdemar Costa Neto, Paulo Maluf, Lula, José Genoíno e Jânio Quadros, entre outros. Independentemente do partido, sentaram-se nas cadeiras do restaurante desde vereadores da cidade até presidentes e candidatos.
E esses são apenas os que estiveram por lá desde que ele trabalha na casa! Antes disso, ele foi funcionário do Restaurante Vasco da Gama (Ponta da Praia) e trabalhou em outro ramo, só então foi parar no Café Paulista.
“De todos os políticos que estiveram aqui, o mais simpático foi o Valdemar Costa Neto. É gente como a gente, sabe? Não teve frescura nenhuma. Super simples, dava atenção mesmo fora da época de eleições”, lembra.
Entre suas memórias, também esta uma das finais que o Santos jogou. Apesar de não lembrar o ano exato, Dimce recorda que Pelé estava almoçando em uma das mesas e que, em poucos minutos, uma multidão se formou na calçada, na tentativa de ver o Rei e fazer uma foto.
“Uma vez, fui para Zurich e um cara me reconheceu. Perguntou como estava o Café Paulista, acredita?”, diz.
Por fim, quando questionado sobre o que o estabelecimento em que trabalha significa em sua vida, não há dúvidas.
“É tudo o que tenho, formei meus filhos e criei a minha família trabalhando aqui, é como se fosse uma parte de mim”.