Padaria Washington Luiz: pão de primeira e conexões desde 1984
O cheiro de pão fresco inconfundível toma o canal 3 em uma das avenidas mais movimentadas de Santos. A Padaria Washington Luiz é um verdadeiro ícone do Boqueirão desde 1984.
Foi naquele ano que a Washington Luiz abriu, mas a jornada de Alberto de Pinho começou muito antes. Nascido em São Pedro do Sul, em Portugal, ele desembarcou em Santos em 1961, assim como tantos outros conterrâneos que ajudaram a construir a cidade. Antes de entrar no ramo da panificação, o empreendedor trabalhou com um tio no comércio, na antiga Casa das Máquinas e teve barraca de peixe na feira livre.
Os anos 1970 não eram para amadores. A escassez de farinha de trigo de qualidade era um desafio constante. Se, em 2022, o Brasil teve a maior safra de trigo de sua história, com quase 10 milhões de toneladas de grãos, o papo era bem diferente naquela época. Foi quando teve início um esforço de aumento da eficiência no cultivo e na melhoria de tecnologias agrícolas para esse objetivo. Entre 1977 e 2022, o crescimento na produtividade foi, em média, de 3,5% ao ano, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).
Foi nesse cenário que Pinho abriu sua primeira padaria, em Cubatão. A Vila Paulista se tornou referência justamente por usar farinha de primeira linha – um luxo naquela época de abundância limitada e em uma área da Baixada Santista tão esquecida pelo empresariado.
Anos depois…
Quando inaugurou a Washington Luiz, em 1984, nada se parecia com o que conhecemos hoje. Inicialmente, não havia consumo no local. Os clientes compravam e iam embora. E a padaria era mais que um ponto de venda. Acabou virando um fornecedor essencial para outros estabelecimentos. Os sanduíches dos bares da vizinhança, por exemplo, tinham o pão da WL como matéria-prima.
Graças à criatividade e visão de Pinho, os anos 1990 consolidaram a fama do estabelecimento como um dos mais queridos da região. Filas se formavam do lado de fora pra comprar o pão que muitos consideram a melhor média de Santos. Juntamente com o padeiro da época, Pinho concebeu a “micromédia”, um pãozinho francês bem pequeno para distribuir gratuitamente entre os clientes que esperavam. Havia até mesmo uma cesta dentro da padaria para as crianças pegarem os pães à vontade. Uma estratégia que se tornou instantaneamente popular e, claro, as micromédias viraram febre pra levar pra casa e comer em eventos sociais.
Mais do que uma história de empreendedorismo, a Padaria Washington Luiz é um pedaço vivo da memória afetiva de Santos. Cada pão vendido ali tem um pouco das nossas lembranças. Eu, por exemplo, ia sempre lá após as aulas de piano. Toda segunda-feira à tarde, depois das aulas no apartamento de Dona Inez ao lado da padaria, passava lá com a minha mãe e sempre saía com um sorvete Tablito. Revisitar esse lugar e contar aqui a história de como tudo começou me fez viajar nas memórias da minha adolescência.
Doces e delícias da Padaria Washington Luiz
A Washington Luiz produz tudo internamente. Todos os dias, entre 6 e 7 mil médias (pães franceses) saem do forno. Para cada 1.000 pães de cará, faz 5.000 médias. Os produtos mais populares depois do pão tradicional são os brioches e bolos secos de laranja, limão e chocolate – todos com receitas próprias.
Falando em doces, quem passa pelos corredores cheios de opções da Washington Luiz com certeza sente vontade de levar um para casa. A confeitaria sempre existiu, mas era muito diferente. No início, não havia profissionais especializados. Os produtos eram simples, como pão de ló e os sonhos (um hit até hoje). Agora, o visual é parte fundamental do negócio. As pessoas “comem com os olhos” primeiro.
Em 2016, uma reforma significativa transformou definitivamente o espaço. Pinho colocou mesas e cadeiras em um espaço de convivência além do balcão e a padaria se tornou um verdadeiro ponto de encontro para famílias, amigos e até reuniões de trabalho.
Atualmente, está no top 10 das melhores padarias de Santos no Trip Advisor.
Muito mais do que pão
O proprietário entende o mercado em constante mudança. Tendências vêm e vão – como o famigerado pão de metro. Mas Pinho busca estar sempre um passo à frente fazendo experimentações. Se um novo produto não vende em uma ou duas semanas, sai do cardápio. Às vezes, basta mudar o formato para conquistar os clientes.
Atualmente, a Washington Luiz conta com 40 funcionários e funciona 24 horas internamente, atendendo ao público das 6 às 22 horas. Três colaboradores estão na casa desde sua inauguração em 1984 – um testemunho da estabilidade e da visão familiar do negócio. E das três filhas do empresário, uma trabalha diretamente no comércio da família, em uma outra unidade.
Sobre a panificação brasileira, a experiência de mais de 50 anos de Pinho mostrou: ela precisa ser diferente. Pães pesados não vendem bem no Brasil – e muito menos em Santos. A padaria brasileira tem que ser mais leve, mais adaptada ao nosso paladar. Por isso, o pão de cará em Santos caiu nas graças dos clientes.
Hoje, a Washington Luiz não é só uma padaria. É um espaço que vende de tudo, dos pães artesanais de fabricação própria e receitas originais a whisky e sorvete o ano inteiro, além de produtos industrializados de fornecedores locais. Mas dá pra afirmar que seu verdadeiro produto são memória e conexão.
Para os santistas, esse point faz parte do cotidiano e da vida. E prova que boas histórias, assim como bons pães, levam tempo para serem preparadas.
A Padaria Washington Luiz fica na Av. Washington Luiz, 449, Gonzaga. Tel: (13) 3232-3689.