Texto porLudmilla Rossi
Santos

Rica Mota e um marco para Santos: a escultura o Peixe

Rica Mota é um escultor e artista Santista que criou um dos maiores ícones da nossa cidade. Não me venha falar do Biscoito Praiano, das Muretas de Santos, ou do polvo das torres – nós já sabemos e esses outros ícones também moram em nossos corações! No entanto, não há ícone mais reconfortante de se enxergar do que aquele Peixe minimalista que se aproxima conforme os metros avançam em direção a Santos. Quem trabalha em São Paulo que o diga… você dá tchau para o peixe às 6:30h da manhã, e manda beijos para ele quando a noite cai.

O Peixe é uma escultura bastante ousada. Quem entende um pouquinho de arquitetura vê que não é tãaaao simples assim criar uma obra daquele tamanho e com uma estrutura tão diferente. E essa é a proposta do Rica, não só no Peixe-recepcionista, mas em tudo que ele faz! Solícito e cordial, Rica nos concedeu uma entrevista exclusiva que você confere a seguir.

 

JS – Você é o criador de um dos ícones mais relevantes para os santistas e marco referencial de Santos: a obra O Peixe. Como foi a concepção da idéia, do projeto?
Rica – Em 94, havia acabado de chegar da Itália e a motivação desse retorno, foi a grande crise política por lá, nominada “Mani pulite” (Mãos Limpas). Essa crise acabou espirrando em mim, quando os meus trabalhos se escassearam ao ponto de ter de fazer as malas e voltar para o Brasil.

Na obrigação de retomar o meu espaço por aqui, o primeiro trabalho foi a criação do Peixe. A inspiração veio num momento de crise existencial, que pintou muito severa; e eu tinha que fazer alguma coisa pra me sentir vivo de novo. A viabilização foi outro baita desafio. Foram 6 anos de pura insistência; indo pra todo lado e com o chapéu na mão, contando com o esforço e boa vontade de empresas e muita gente para colaborar com aquela loucura. Na época (1994): Cosipa; A Tribuna; Governo do Estado (Dersa); USP; Associação dos Engenheiros de Santos e muitos outros. Não seria nada ético, comentar sobre todos aqueles que fecharam as portas e não acreditaram no projeto. Como foi tudo pura loucura; não guardo mágoa de ninguém.

JS – O Peixe desperta um sentimento de chegada e despedida de Santos. Qual é o seu sentimento toda vez que passa pela obra?
Rica – É verdade. Esse é um sentimento recorrente com todos que passam por ali e isso é super legal. Uma arquiteta da Prefeitura de São Paulo, comentou: quando vou pra Santos com a família, os filhos criaram a disputa (no carro) de quem vê o Peixe primeiro. Não é louco!? O meu sentimento é de orgulho, sobretudo porque sei a história completa da realização dessa obra.

 

JS – Quais são os números de O Peixe?
Rica – A obra foi inaugurada em dezembro de 99. Possui 25m de altura; 45 toneladas de aço; 21 estacas tubulares com 20m de profundidade, apoiando 2 blocos com 16m3 de concreto cada. As curiosidades são muitas. Um exemplo: a escultura tem somente dois apoios (colunas em parábola), que tocam no chão e, totalmente, descentralizados.

JS – Quais foram as inspirações para a obra?
Rica – Na verdade, não consigo identificar um motivo, ou algo abstrato, que me levou a pensar na execução da escultura “O Peixe”. Naquele momento, comecei a brincar com a tesoura e papel. A evolução disso, sempre leva para algum lugar. As esculturas sempre saíram dessa prática.

JS – Você morou por algum tempo na Itália, o grande berço da arte. Como essa vivência na terra de grandes obras influenciou em seu trabalho?
Rica – A Itália, sempre me inspirou. Mesmo, quando ainda não estava por lá. Passei pela experiência de viver durante 6 anos em Torino (Norte da Itália) e tive a oportunidade de poder freqüentar um dos estúdios mais importantes do design mundial: Giugiaro Design e Italdesign. No primeiro ano da minha chegada por lá, pude estudar uma técnica de trabalho muito especial: fundição do bronze à cera perdida. Essa é outra matéria que me fascina muito: obras de arte em bronze. E poder fazê-las, ainda mais.

JS – Quais obras e artistas clássicos e/ou contemporâneos influenciam seu trabalho?
Rica – Todos os renascentistas; Picasso (fase escultórica); Marcel Duchamp ; Rodin (impressionista ) e curto bastante a espontaneidade da arte na cerâmica nordestina. Os caras reinventam a forma e conteúdo, no mais puro conceito da palavra simplicidade.

JS – Você nasceu em Santos? Qual a sua relação com a cidade?
Rica – Eu sou santista há 58 anos. Hoje me sinto impotente diante do estrago que estão fazendo por aqui: arquitetura, urbanismo e estética como um todo. O social está totalmente abandonado.

JS – Quais são os seus projetos atuais e futuros?
Rica – Existe um trabalho para o centenário do Santos Futebol Clube; um trabalho para o “Curta Santos”; acabei de trabalhar na montagem de um estúdio de fisioterapia e, também, a identificação (placa) de uma loja no Gonzaga. Continuo a jogar sementes por aí.

 


Rica Mota
é um escultor, cartunista, designer e cenógrafo que nasceu em 1953. Criador do Peixe, da escultura “Molecadinha” em frente à Pagu e da “Bicicleta” da ciclovia, entre tantos outros trabalhos. Mais um dos talentos que proporciona um orgulho enorme pra Santos!