Texto porLuiz Fernando Almeida

Precisamos falar sobre transexualidade masculina

Fala-se muito sobre transsexualidade feminina – as travestis. Mas ainda comenta-se pouco sobre os transhomens.

Mas o que quer dizer transhomem?

O transhomem é uma pessoa que nasceu no sexo feminino, mas tem sentimento de pertencimento total ou parcial pelo gênero masculino, a ponto de sentir necessidade de ser reconhecido socialmente como homem.

transhomem

Sua identidade de gênero, porém, não implica na sua orientação sexual, ou na relação com o seu corpo. Ou seja, essas questões são de caráter íntimo e individual e não comprometem a sua masculinidade.

Conversamos com dois transhomens da Baixada Santista, o Diogo Almeida e o Thomaz Oliveira, do canal Cavalos Marinhos no Youtube.

Conheci os dois na ultima edição da SANSEX.

Convidei ambos para participarem de uma mesa com o tema transsexualidade e fiquei muito feliz e surpreso ao ver dois jovens tão conscientes de suas escolhas e militando por seus direitos com muita propriedade.

Aquela noite de sábado no Miss foi muito produtiva e eu saí com um sentimento de que, aos poucos, estamos no caminho certo pra construir uma sociedade mais igualitária. Fico feliz ao ver jovens tão conscientes e lutadores: faz valer a pena todas as curras que a minha geração tomou, me faz botar fé nessa juventude que sabe lidar com gênero e sexualidade de forma natural.

Cavalos Marinhos

Desde então, tenho assistido o canal deles no Youtube porque acredito que ali tem muito conteúdo relevante sobre o tema, que pode ajudar as pessoas entenderem um pouco mais a respeito de sexualidade, identidade de gênero e do universo trans.

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Nome: Diogo Almeida
Idade: 20 anos
Profissão: Auxiliar de Departamento Pessoal
Estudo: Formado em Eletrônica e Recursos Humanos.

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Nome: Thomaz Oliveira
Idade: 22 anos
Profissão: Estudante de Psicologia (4º ano)

Quando você percebeu os primeiros sinais da transexualidade?

Diogo: Bom… Minha mãe me disse que antes de completar 3 anos, eu comecei a chorar e disse que era um menino.

Agora, da parte que eu me lembro, eu tinha por volta de 14 ou 15 anos. Uma noite, sozinho em casa, resolvi abrir o Google e começar a pesquisar sobre os termos relacionados a transexualidade que vinham na minha cabeça. Não parei mais.

Thomaz: Não acredito que houve algum “sinal”, de fato. Eu sinto que foi um processo bem natural. Acho que o mais próximo disso foi que eu me referia a mim no masculino, mas na brincadeira. Era bem bobo, mas eu simplesmente adorava, e isso foi ficando cada vez mais frequente (a ponto de pessoas me corrigirem, e eu ficava bem louco da vida). A verdade é que as informações foram chegando, eu fui me empoderando, conhecendo pessoas trans e conversando com amigos que tinham conhecimentos sobre o que, de fato, era a transexualidade… Aí eu acabei percebendo o grupo do qual eu realmente fazia parte na sigla LGBT, sabe?

Como é sua relação com a família e no meio em que vive? 

Diogo: Agora é boa, bem tranquila. Já passei por muitos momentos difíceis, no começo não me aceitavam bem, discutíamos bastante. Pensando nesse passado, eu vejo que era falta de informação, sabe? Aquela coisa de todo mundo dizer que é errado, que é ruim, que não pode. Com muita paciência eu consegui explicar que não é errado, que não é ruim e que pode sim. Então, as coisas começaram a mudar.

Minha mãe é a pessoa mais importante da minha vida, até cuidou de mim na minha cirurgia. Meu irmão foi o advogado autor da ação que retificou meu nome e gênero nos documentos. Hoje, eu consigo agradecer por fazer parte dessa família.

No meu trabalho, algumas pessoas sabem que sou trans. Trabalhei lá há alguns anos atrás, antes de iniciar a transição. Quando voltei expliquei a situação e a única pergunta que me fizeram foi se eu continuava sendo o mesmo profissional.

Quando eu penso nesses âmbitos da minha vida consigo ver o quão sortudo e privilegiado eu sou. A maioria das pessoas trans não têm apoio da família, grande parte chega a ser expulsa de casa. Estar num relacionamento com alguém que te respeita é um luxo, a busca é primeiramente sobre sobrevivência. Trabalho? Dá pra usar a situação das mulheres trans como exemplo: mais de 90% na prostituição, e os outros 10%, a grande maioria em salão de beleza e telemarketing. Não temos muitas opções, a coisa vem lá da base, falta o estudo, as escolas não sabem acolher as pessoas trans e travestis, ainda mais no país que mais mata essas pessoas em todo o mundo. (http://transrespect.org/en/idahot-2016-tmm-update/ ) 

Thomaz: Com ambos, hoje, é saudável. É certo que acabei perdendo contato com algumas pessoas, mas foi da minha parte. Passei por algumas situações complicadas com pessoas que eu admirava muito, foi bem decepcionante. Percebi que eu não saberia lidar com preconceito vindo delas, então simplesmente cortei laços, não consegui ser didático ali. Os amigos que eu mantive são maravilhosos. No dia que eu consegui o nome social na faculdade, eu tava todo bobo. Mandei foto da minha carteirinha pra muita gente, que vibrou junto comigo. Cada avanço é uma vitória…E eu sinto que não só pra mim. 

Como e por que surgiu o canal Cavalos Marinhos? 

O canal surgiu da necessidade de informar e dar visibilidade para homens trans de forma geral, mas principalmente daqui da Baixada Santista. Falando de grande mídia, quase não tem homem trans e dentro da militância, os caras que tem mais visibilidade são das grandes cidades. A gente quer ser lembrado também.

Dentro da militância LGBT, o movimento de homens trans é considerado “recente” (não é que nós não existíamos antes, só não estávamos organizados) então a gente quer fazer parte dessa organização e trazer pra Baixada eventos que nos contemplem enquanto homens trans. Sem contar na importância que é levar informação para pessoas trans e até mesmo cisgênero*. Acreditamos muito no didatismo (apesar de não considerarmos a única forma de militância) e estamos dispostos a desconstruir muitas ideias erradas que as pessoas têm de nós, se ela se permitir, é claro. Pode ser muita coisa para um canal recente, mas a gente está só começando…Cheios de ideias e carinho pelo projeto.

*Pessoa cisgênero é aquela que está de acordo com o gênero que lhe foi atribuído no nascimento. 

Por que o nome do canal? 

Bom, além do simples fato de sermos caiçaras, a gente resolveu fazer uma brincadeira.

Cavalos-marinhos é uma espécie que o macho “engravida” (podem pesquisar, o vídeo de um cavalo-marinho “parindo” é muito fofo). Alguém considera cavalo-marinho menos “macho” por engravidar? Pois é, nós também não somos menos HOMENS pela POSSIBILIDADE de engravidar (lembrando que não são todos os homens trans que querem ou podem engravidar). Resumindo, homens também podem engravidar gente, e a paternidade deles é linda. 

Você também integra o Coletivo Contra a Maré que há alguns anos vem fomentando discussões a respeito de sexualidade e identidade de gênero. Como é seu envolvimento e atualmente quais as ações realizadas pelo coletivo? 

Diogo: O Coletivo é totalmente aberto a novas propostas, o tempo todo. Chega uma pessoa com uma ideia, o pessoal acha bacana, discute, tira dúvidas, depois a gente vai lá e faz.

Atualmente a gente busca fazer rodas de conversa pra fomentar discussões sobre diversos assuntos, sexualidade, gênero, classe, machismo, racismo, etc. Acaba sendo bem “direitos humanos” de modo geral. Não da pra separar os preconceitos e opressões, na base tá conectado um no outro, é uma intersecção.

Thomaz: Eu busco sempre estar presente nas atividades e reuniões do Contra Maré. Eu acredito que estamos engatinhando ainda, em termos de militância, buscando formas de arrecadar dinheiro para realizar mais atividades e buscando espaços seguros que fazem falta para a população LGBT daqui da Baixada.

Atualmente, pretendemos continuar as atividades de discussão sobre sexualidade e identidade de gênero. Esse mês de setembro, por exemplo, é o mês de visibilidade das pessoas bissexuais, então pretendemos realizar algum evento relacionado ao tema. Em outubro, comemoramos o dia de luta pela despatologização das identidades trans…Bom, é claro que a gente não pode deixar essa data passar, né?

As pessoas não entendem muito sobre transsexualidade masculina de forma geral. Quais os procedimentos para esta transição? 

Diogo: Por incrível que pareça não existe algum “passo-a-passo” pra iniciar a transição. Também não existe um fator determinante que faça com que aquela seja travesti ou transexual, não da pra definir “olha, a partir de hoje aquela pessoa ali faz terapia hormonal com testosterona, por isso é homem trans”. Não. Não tem a ver com hormonioterapia, é muito mais complexo e maior que isso.

Tá junto de toda a construção social acerca dos gêneros que é encontrada na sociedade atual, toda aquela caixinha de que homem tem pênis, cabelo curto, barba, não pode usar saia e nem pintar a unha. A gente tá em 2016 e eu ainda vejo gente fazer piada com homem que usa camisa rosa. Não é engraçado, é problemático sabe? Tem algo estranho aí, não da pra botar o mundo todo dentro de uma caixinha de “mulher” ou “homem”.

Gosto muito da frase “binarismo é para computadores”.  

Thomaz: Acho importante começarmos pelo básico então. Eu sou homem trans. Não sou uma mulher masculina, nem lésbica. Eu sou um homem trans hétero. Por muitos anos, eu fui lido como menina, mas isso não me pertence, nunca me pertenceu. Gênero é construção social e sendo gênero construção o meu gênero é a minha história, e eu escrevo ela.

Falando de procedimentos, há uma série deles (mas não uma ordem). Basicamente, existe acompanhamento hormonal e cirurgias, tanto para homens quanto para mulheres transexuais. Mas nem toda pessoa trans faz tudo isso (e isso não a torna inferior a ninguém). Os motivos são bem variados, pode ser por saúde, financeiro e até mesmo um posicionamento político. A gente fala bastante de liberdade nos vídeos do canal, então não seria coerente da minha parte fazer uma lista do que toda pessoa trans faz.

Acredito que vocês passem por alguns constrangimentos cotidianos, como e ser um homem trans em Santos, que é uma cidade muito conservadora?

Diogo: Gosto muito falar da nossa região, da Baixada Santista. Aqui em Santos nós temos o único ambulatório de saúde integral para travestis e transexuais da Baixada Santista, que fica no Hospital Guilherme Álvaro. Ele ainda é novo e pequeno, também falta verba pra várias coisas. Tem pacientes de outras cidades da Baixada, mas nenhuma prefeitura dessas outras cidades se posiciona pra ajudar financeiramente.

Engraçado, minutos antes de começar a escrever aqui eu recebi alguns comentários assim:

“ Nunca será um de nós, é apenas uma mulher com problemas mentais! ”(sic)
“ Um homem de verdade ao menos tem pênis. Continua sendo mulher ” (sic)
“Ao menos não finjo ser quem eu não sou ” (sic)
“A adequação que eles devem fazer é na cabeça e não no corpo ” (sic)
“Para ser um homem de verdade vai ter que nascer de novo” (sic)
“Vc já percebeu que esse povo trans sempre procura um psicólogo ou um  psiquiatra? Pq tem problemas mentais.” (sic)
“Quando “ele” tiver um “pinto” a gente conversa” (sic)
“Ela é mulher e ponto final. Como vc disse vai ter q nascer de novo pra ser homem.” (sic)
“Continua sendo mulher” (sic)

Acho que dá pra ter uma ideia do cotidiano de uma pessoa trans a partir daí.

Também tem um pessoal elogiando, fazendo algumas perguntas, outros caras trans. Não dá pra dizer que as pessoas sempre reagem de forma transfóbica.

Já passei muito constrangimento por aqui, Santos é bem conhecida por ser uma cidade “tradicional” e recheada de pessoas LGBT não-assumidas. É complicado frequentar os espaços públicos, ter acesso à saúde, educação, trabalho.

Quando fui pedir o uso do nome social na UBS mais próxima, tive que explicar primeiro o que era nome social, voltar em casa, imprimir toda a portaria do SUS que regulamenta o uso, voltar lá e explicar tudo com a maior paciência. Parece que não custa nada pra gente explicar né? Mas a gente faz isso todo o dia, o dia todo. Eu não trabalho lá, sabe? Eu não preciso saber como as coisas funcionam e qual o campo exato dentro do painel do sistema que fica o nome social. Quer dizer que se eu não sei especificamente o nome da portaria, eu não iria poder usar o meu nome ali?

Eu consegui uma bolsa pelo ProUni e, na hora da inscrição, deixei bem claro que se não pudesse usar o nome social, eu preferiria perder a bolsa do que ter meu nome desrespeitado. Numa prova passou uma lista que saiu com meu nome de nascimento, quando fui reclamar a coordenadora disse que se eu sabia que aquele era o “meu nome” não tinha motivo pra eu não assinar do lado.  Mas ué, se fosse pra eu assinar com aquele nome ali, eu nem teria pedido o uso do nome social, não é mesmo?

Acho que falta empatia, não só em Santos. Se essas pessoas, por um segundo, tivessem se colocado no meu lugar iam ver que não faz sentido fazer o que fizeram.

Em Santos, temos a lei N°873 de 2015 (http://legislacao.camarasantos.sp.gov.br/Normas/Exibir/8736). Ela regulamenta o uso do nome social e tratamento das pessoas travestis e transexuais aqui na cidade. Foi um grande avanço, e tem ajudado na vida das pessoas trans.

No estado de SP tem o decreto Nº58.588 de 2010 (http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/2010/decreto-55588-17.03.2010.html)  que também regulamenta sobre o nosso tratamento.

O nome social ajuda muito, mas ainda não é como o nome civil. Ele pode ser usado só em algumas circunstâncias, é a forma com que o nome da pessoa é publicado, como ela é chamada, mas dentro do registro ainda fica guardado o nome civil. Ele também não pode ser colocado no RG, título de eleitor, CNH ou na carteira de trabalho. Então continuamos na luta pela Lei de Identidade de Gênero, ela pretende retirar essa necessidade de entrar com uma ação junto de um advogado pra retificar os documentos. É bem aparecida com a Ley de Identidad de Género, aprovada por unanimidade na Argentina em 2012.

Na minha opinião, o que mais prejudica o andamento da vida de uma pessoa transexual é a retificação do nome, isso te corta os direitos básicos. Você não tem documento, não é um cidadão, não tem direitos. Os documentos que tão dentro do seu bolso, da tua carteira, não te representam, mostram uma outra pessoa que não identifica quem você realmente é.

Thomaz:Santos seria um lugar melhor para se morar se oferecesse mais espaços realmente seguros para a população LGBT. Na Baixada Santista toda, existem poucos lugares que possamos chamar de nosso, e isso reflete bem a situação das pessoas LGBT daqui. Resumindo, considero a população LGBTfóbica, de forma geral, mas Santos tem esse Q de tradicional não é de hoje.

Mas olha, existem coisas boas, que valem a pena falar aqui… Temos leis municipais que nos amparam, temos um ambulatório, Comissão Municipal… Tudo isso conquistado com muito suor por pessoas que fazem um trabalho incrível. Mas, nem tudo são flores, não é mesmo? Falando de mim, especificamente, tenho a maior dificuldade é ter meu nome e gênero respeitado em alguns espaços, e isso me causa bastante constrangimento, apesar de existir o nome social e leis que me amparam ainda considero um desafio ter o nome respeitado. E isso é tão básico, estamos falando da forma como eu devo ser chamado, não deveria ser um empecilho.

Para tentar ilustrar: uma vez, fui pegar uma lotação lá na divisa de Santos e São Vicente. Minha namorada subiu e eu, em seguida. O motorista me tratou no masculino (acho que ele me chamou de “filho”, sei lá), a cobradora brigou com ele e falou que eu era “menina”. Minha namorada até tentou intervir e falou que eu devia ser tratado por ele, mas foi totalmente ignorada pelos dois, que ficaram um tempo discutindo se eu era menino ou menina. E eu? Bom, eu fiquei parado esperando eles terminarem a conversa porque na realidade eu só queria que ela liberasse a catraca mesmo.

E o fetichismo que existe em cima dos homens trans. e no mesmo nível das mulheres trans?

Diogo: O fetichismo acontece de formas diferentes. As mulheres trans sofrem com o machismo, como todas as mulheres. Acontece também de grande parte estar na prostituição. Muita gente nem sabe que dá pra ser travesti ou mulher trans sem ser prostituta, ou que uma coisa é diferente da outra.

O fetichismo mais comum é em cima do genital, o pessoal costuma achar que deve ser maior diversão sexual e a maior novidade pra se fazer a 4 paredes transar com um cara com vagina ou uma mulher com pênis.

Tem que lembrar também que algumas pessoas trans passam por cirurgias de transgenitalização – embora não seja regra – e também existem as pessoas intersexo que são transexuais.

Ser transexual significa ser de um gênero diferente daquele que lhe foi designado no nascimento.

Não significa ser homem e ter X ou Y genital. Nem nada a ver com cromossomos, ou apenas com aquele simples “se identificar”.

As pessoas transfóbicas tem aquele papo de “se eu me sentisse como um pão, você ia me tratar como pão?” Oras, se você viver numa sociedade em que pão é uma construção social imposta compulsoriamente através de única e exclusivamente uma parte do seu corpo que limita desde seus comportamentos até o banheiro e a roupa que você vai utilizar, sim. 

Thomaz: Definitivamente não. Ambos sofrem, são formas diferentes também, mas mulheres transexuais sofrem mais, é algo realmente preocupante. Esse ano, um site de vídeos adultos lançou uma nota falando que o quarto tópico mais buscado pelos brasileiros é sobre mulheres transexuais, isso dá uma noção bem básica do nível de fetichismo que as mulheres sofrem.

Relacionamento, como funciona essa dinâmica? Mulheres são mais abertas neste sentido?

Diogo: Eu ser trans nunca foi uma questão pra minha namorada, na minha visão ela lida muito bem com isso, nunca tive problemas. Eu conheci ela antes de iniciar a transição, não tínhamos muito contato. Depois de alguns anos a gente se reencontrou e ficou junto. No começo eu me preparei pra responder várias perguntas, explicar várias coisas e tudo o mais, mas não rolou disso.  A coisa foi muito natural.

Considerando que a gente vive numa sociedade machista, vejo que as mulheres são criadas pra serem mais abertas, pra aceitarem mais as coisas que os homens, aquela coisa toda de ser mais sensível e tal. Então acredito que elas sejam mais abertas, mesmo sabendo que isso é construção social.  

Thomaz: A dinâmica é bem simples: a gente se ama muito e se respeita. A Bárbara (minha namorada) está comigo desde o começo e me apóia em tudo que eu faço. Além da nossa relação, temos a militância, pautas e muita desconstrução. Viramos madrugadas loucos na problematização.

Acho bem curioso porque nunca pedi para ela me tratar no masculino, simplesmente aconteceu (e, pra mim, foi a coisa mais linda). Todas as situações importantes ela está comigo, e eu procuro sempre estar ali para ela. Nas minhas primeiras consultas no ambulatório, ela estava lá. Minha primeira injeção, todos os exames que eu fiz, todas as rodas que eu participei e quase todos os vídeos do canal ela está lá (é com ela que a gente se comunica nos vídeos e faz piada). Lembro que teve uma consulta em específico que eu estava mega ansioso e pedi para ela ir comigo quase um mês antes. Aconteceram alguns imprevistos e ela não pode ir, estava no interior de SP… Ela ficou tão triste que eu nem sabia o que falar para tentar consolar. Eu não tenho do que reclamar, sou sortudo demais nesse departamento, levando em consideração a dificuldade que é para pessoas trans e travestis terem um relacionamento saudável e público.

Nós vivemos numa sociedade bem machista, então se formos fazer um comparativo, acredito sim que mulheres são mais abertas. Mas seria hipocrisia da minha parte não falar que existem exceções, sempre. 

Deixem uma mensagem aos leitores da coluna do Juicy Santos:  

Diogo: Diversas vezes no nosso canal voltamos no mesmo ponto: respeito.

É preciso respeitar as diferenças. Quando a gente para um minutinho pra se colocar no lugar do outro, e pensar no que vamos dizer, dá pra sentir se aquilo é algo bom ou ruim pra pessoa que vai ouvir.

Nós somos uma população com expectativa de vida de 35 anos. Entre as mortes de pessoas trans, uma média de 44% foi assinada a tiros, 23% a facadas, 12% foram espancadas, 5% estranguladas, 3% apedrejadas, 2,5% desmembradas e outras 9% foram assassinadas de outras formas, de acordo com o grupo de pesquisas Transgender Europe (http://transrespect.org/en/transgender-europe-idahot-tmm-2015/) . Isso comprova que as pessoas não são apenas assassinadas por conta da sua identidade de gênero, mas que também são BRUTALMENTE assassinadas.  Essa situação precisa mudar com urgência.

Enquanto isso não acontece, a gente vai usando de várias ferramentas pra fazer com que a informação chegue nas pessoas. O canal é uma forma que nós encontramos de tentar contribuir, nem que seja pouco, pra diminuição do preconceito, da transfobia, do ódio.

Thomaz: Olha, se você leu até aqui, eu já fico feliz. A gente tem muito o que falar e pouco espaço, então situações como essa são importantes. Eu espero, sinceramente, ter feito você entender um pouquinho da complexidade que é ser uma pessoa trans e da importância que é respeitar a identidade do outro. A luta não é por privilégios, nem estamos pedindo favores…Nossas pautas giram em torno de direitos básicos. O canal sempre estará aberto para diálogo, contando que seja feito de forma respeitosa. Então se você quer continuar acompanhando o nosso trabalho procura a nossa page no Facebook e não esquece de se inscrever no nosso canal.

Por fim, EU NÃO RECONHEÇO GOVERNO GOLPISTA!