Texto porVictória Silva
Jornalista, Santos
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Um avião na orla de Santos

Sempre que a gente imagina como eram as coisas há décadas atrás, temos uma imagem meio estereotipada, né?

Nada de tecnologia, carros diferentes e um pouco de monotonia que as imagens em preto e branco imprimem. Pois bem, em 1958, a orla santista ostentava aviões de aluguel (vai vendo!).

Eu já tinha ouvido minha avó falar algo sobre isso uma vez, mas achei que ela estava exagerando e não dei muito ibope. Até que a história voltou à minha vida, ou melhor, ao meu feed do Facebook. A imagem em questão é bem curiosa, olha só:

aviãoImagem: Marcelo Gil

Sim, é um hidroavião parado na faixa de areia da Ponta da Praia. Bem em frente ao Aquário, dá para imaginar?

Como assim tinha um avião na orla de Santos?

Depois de ver a imagem, decidi pesquisar melhor essa história.

Em resumo, o avião que podia ser alugado na praia de Santos era do modelo Republic RC-3 Seabee serie 457. O responsável pelo equipamento era o capitão-aviador Herbert Cukurs, que veio da Letônia para o Brasil, fugindo da II Guerra Mundial – guarda essa informação, vai ser importante daqui a pouco.

Antes de voar por Santos, o aviãozinho ficou por um tempo no Rio de Janeiro. A cidade maravilhosa tinha sido a primeira escolhida do capitão, mas ele precisou se mudar e escolheu Santos como sua nova moradia.

“No começo, era uma atração. As crianças queriam ir ver e até nós que já éramos mais velhos achávamos bacana. Só não vou saber te dizer como era o passeio. Só sei que não era barato e, por isso, nunca fiz. Só ficamos olhando mesmo e já achávamos lindo”, lembra minha avó.

Além do avião na orla de Santos, Cukurs também trouxe esquis aquáticos para o Brasil e inventou os pedalinhos. Parecia um cara super gente boa, mas na verdade não era bem assim. 

O capitão era um nazista protegido pela DOPS

Cukurs é acusado de ter ser o mandante de mais de 30 mil mortes durante a guerra.

Durante sua estadia no Brasil, ele foi acusado de ser nazista em algumas ocasiões. Aliás, foi por isso que saiu do Rio de Janeiro e veio para Santos. Mas, como contava com a proteção da DOPS, acabou sendo inocentado. Dá para conferi melhor a história dele clicando aqui. A estadia em Santos não foi muito longa, durante um passeio mais longo ele pousou na represa de Santo Amaro, em Guarapiranga, e gostou do lugar. Aí ele se mudou de novo, ficou ali pela Riviera.

Depois disso, o capitão tentou se naturalizar brasileiro, mas teve o pedido negado e se mudou para o Uruguai. Por lá, foi assassinado por um intitulado ‘Aqueles que não esqueceram’.