Texto porFlávia Saad
Santos (SP)

Santos está ficando cada vez mais quente

Sim, Santos está ficando cada vez mais quente a cada ano que passa.

Não, não é apenas impressão sua.

Para aqueles que duvidam do aquecimento global, o jornal New York Times colocou no ar uma ferramenta interativa que mostra o aumento da temperatura ao longo dos anos nas cidades ao redor do mundo.

Nós fizemos o teste com Santos e aqui estão os resultados.

Pôr do sol em Santos

O aumento da temperatura em Santos ao longo dos anos

Levei em consideração o meu ano de nascimento, 1982.

O que aconteceu naquele ano? O Brasil perdeu Elis Regina. A Legião Urbana começava a despontar no cenário musical. Começou a Guerra das Malvinas. Nos cinemas, todo mundo correu pra assistir Blade Runner e ET, o Extraterrestre.

E a cidade de Santos vivia 34 dias quentes por ano. Isso significa uma temperatura de 32 graus Celsius ou acima.

Para efeito de comparação, nos anos 50, eram apenas 30 dias.

Hoje, 36 anos mais tarde, em 2018, Santos tem, em média, 49 dias anuais de calor. São 15 dias extras de sol na cabeça e ar condicionado ligado. Portanto, 1 mês e 19 dias de MUITO, MUITO, MUITO calor.

Eu tenho certeza que você já se perguntou por que faz tanto calor em Santos.

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E em que isso nos afeta?

Consequentemente, idosos, crianças e pessoas com problemas crônicos de saúde em Santos sempre sofrem bastante nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro.

Mundo afora, as temperaturas altas aumentam o risco de doenças e mortes decorrentes do calor. Pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica estão mais expostas ainda, por nem sempre terem acesso a aparelhos eletrodomésticos para minimizar os efeitos.

Quem trabalha ao ar livre – agentes de trânsito, policiais, trabalhadores da construção civil, etc – está ainda mais em perigo. Mas funcionários de fábricas em países em desenvolvimento, como o Brasil, também se abalam. Esses lugares dificilmente são climatizados.

Quando eu entrar na terceira idade, a coisa vai ficar ainda pior. Até o fim do século XXI (2099), pode chegar a 89 dias acima de 32 graus por ano. A maior possibilidade é entre 74 e 155 dias quentes anuais!

Preocupante, né?

Por que faz tanto calor em Santos?

Segundo o levantamento do NYT, desenvolvido em parceria com os cientistas, economistas e analistas de dados do Climate Impact Lab, a tendência para a região de Santos é de calor intenso e crescente, mesmo que os países pelo mundo arregacem as mangas e comecem a diminuir suas emissões de carbono até o fim do século.

O Climate Impact Lab é composto por profissionais do Rhodium Group, University of Chicago, Rutgers University e University of California (Berkeley).

Provavelmente, se as nações continuarem nesse ritmo de emissões de poluentes (um recorde na história da humanidade), o futuro será ainda mais quente.

As projeções futuras da análise da ferramenta interativa levam em conta o controle de emissão dos gases de efeito estufa, alinhado com o Acordo de Paris (de 2015). No entanto, vários países não vêm se empenhando energicamente para chegar a essas metas.

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Santos está ficando cada vez mais quente – MESMO!

Segundo Kelly McCusker, cientista climática do Rhodium Group e membro do projeto do NYT, a maneira como cidades e regiões se adaptam e sobrevivem ao limite de 32 graus Celsius depende, em parte, de como lidamos com o calor.

Isso significa que locais como Santos e o Brasil de forma geral não sentem tanto a diferença. Mas que ela existe, existe. Santos está ficando cada vez mais quente. E isso é fato. Já locais no Sul do país, por exemplo, sofrem mais. Nem todo mundo tem ar condicionado em casa ou no carro, por exemplo.

O índice de elevação da temperatura também se mostra relevante. Isso quer dizer que, conforme aumentam os dias acima de 32 graus, também chegamos próximos aos 40 graus mais dias por ano. Ai, ai, ai…

O aumento do número de dias de calor vai ser pior em locais com alta umidade (nosso caso) do que nas cidades com clima mais seco, como Brasília e Salvador, por exemplo.

“Um fator importante em como o ser humano lida com o calor é a umidade. Se está quente e também úmido, não conseguimos evaporar o suor com tanta facilidade e não refrescamos nossos corpos de forma eficiente”, diz Kelly. 

As temperaturas lá em cima influenciam, ainda, a produção de alimentos (agricultura e pecuária) e aumenta a demanda por eletricidade. Também pode dar origem a secas e iniciar incêndios em regiões secas. É o que costumamos ver nas florestas de Portugal.

“O aumento de dias quentes afeta diretamente os sistemas dos quais dependemos. Comida, água, transporte, energia e ecossistemas sofrerão as consequências em nível municipal e nacional”, diz Cynthia Rosenzweig, chefe do departamento de impactos climáticos da NASA.

Faça a análise do clima por localidade na ferramenta How Much Hotter is Your Hometown?

Então já sabe. Podemos fazer nossa parte pra minimizar esse dano consumindo menos energia, menos combustível (alô, bicicleta!) e menos recursos naturais a partir do consumo desnecessário.

E beba muita água, porque o calor do próximo verão não vai ser fácil…