Texto porVictória Silva
Jornalista, Santos

Lavanderia 8 de Março: roupas limpas e uma nova oportunidade de vida

Um carinho de bebê num canto da Lavanderia 8 de Março.

Numa primeira olhada, seria mais uma peça lavada pela cooperadas do local. No entanto, descobre-se um bebê, dormindo ao som das máquinas que não param o trabalho nem por 1 segundo.

Carinhosamente apelidado de Tiquim, o recém-nascido (de apenas 2 meses) não parece se incomodar com o barulho das centrífugas. Pelo contrário: pra ele, é como se fosse música de ninar.

lavanderia

“Trabalhei durante toda a gravidez, parei só quando ele ia nascer. E logo depois já voltei. Trago-o quase todos os dias comigo”, conta Roselaine Nascimento, uma das lavandeiras, que aos 40 anos é mãe de 7 filhos.

Junto a ela, outras 6 mulheres em situação de vulnerabilidade trabalham como lavandeiras no equipamento.

“Elas são encaminhadas pelo CRAS (Centro de Referência de Assistência Social). Os nossos critérios são diferentes dos utilizados no mercado de trabalho. Buscamos mulheres com filhos, sem formação técnica, que não teriam oportunidades lá fora”, explica Márcia Reis, chefe do serviço.

“Isso aqui tem um impacto muito grande na vida delas. Aqui elas se sentem valorizadas, elas têm um endereço fixo de trabalho, o que possibilita a abertura de crediários. De uma maneira geral, podem reorganizar suas vidas”.

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Sempre sorridentes, as senhoras cuidam de 2 máquinas industriais e 14 comuns. Os serviços prestados vão desde a lavagem simples de cestos de roupas até o cuidado com peças de festa, vestidos de noivas e tapetes.

As lavagens oferecidas por elas têm valor convidativo. Um cesto com 20 peças sai a R$ 50. Roupas com manchas de graxa, bolor e afins saem a R$ 3. Também atendem empresas com grandes quantidades de peças. Além disso, o local recebe óleo usado, que é entregue ao pessoal da reciclagem.

*preços de julho de 2015

Durante a nossa passagem pela lavanderia popular em Santos, o movimento de clientes buscando as roupas já limpas ou trazendo material para ser higienizado foi grande. “Temos clientes desde a Ponta da Praia até aqui nas redondezas. Mas a concorrência é grande”, explica Márcia.

Nova vida

“Além de poder ajudar em casa e passar a me sentir mais útil, aqui eu aprendi muito de lavanderia, tenho curso para cuidar de roupas especiais e ganhei novas amigas, somos como uma segunda família”, diz Iracema Maria, que, de tempos em tempos, dá uma olhada no bebê da amiga, que continua a dormir.

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Para Maria Aparecida (ou dona Cida, como gosta de ser chamada), a opção de atuar na 8 de março foi um alívio. “Eu trabalhava cuidando de idosos, mas é um serviço muito pesado e eu já estou de idade também. Vir pra cá foi muito bom, fico bem menos cansada”, diz, enquanto dobra uma pilha de roupas tiradas da máquina.

Já Creuza Feliciano destaca as melhorias financeiras. “Antes, eu fazia bicos, trabalhava em casa de família”.

Esse é um dos objetivos do serviço, dar autonomia as mulheres. A possibilidade de abrir uma nova lavanderia, dessa vez na Zona Noroeste, é um sonho da Márcia, responsável pelo serviço. Mas a Prefeitura ainda não demonstrou interesse em mais uma unidade.

Em meio a tudo isso, o pequeno Tiquim continua dormindo. “Ele é sossegado, já esta acostumado com o barulho daqui, ouve desde a barriga”, brincam as cooperadas.

A Lavanderia 8 de Março fica na Rua Amador Bueno, 309, Centro.