População protesta contra CT do Santos que ameaça Mata Atlântica
Ato realizado em 25 de outubro reuniu população contra desmatamento de 90 mil m² de vegetação nativa para construção de complexo esportivo financiado pelo pai de Neymar
Em agosto de 2025, o empresário Neymar da Silva Santos, pai do jogador Neymar Jr., anunciou junto com a diretoria do Santos FC a construção de um novo Centro de Treinamento em Praia Grande, ao lado do shopping Litoral Plaza.
O plano busca modernizar o clube, cujo CT atual já não atende às necessidades do time. No papel, o projeto impressiona: três campos de futebol, um estádio para 25 mil pessoas, hotelaria, academia e um clube social. Neymar pai promete custear tudo, sem gasto para o Santos.

Foto: @frentecontradesmatamento
Mas esse sonho tem um custo. E muitos moradores acreditam que ele é alto demais para o meio ambiente.
Vale lembrar que o empresário já enfrentou problemas parecidos. Em 2023, recebeu multa de R$ 16 milhões por danos ambientais em Mangaratiba, no Rio de Janeiro. A punição acabou anulada, mas o episódio deixou marcas.
A resistência se organiza
No dia 25 de outubro, moradores de Praia Grande saíram às ruas para protestar contra o projeto. O ato reuniu ambientalistas e defensores da Mata Atlântica, que temem a destruição de 90 mil metros quadrados de vegetação nativa.
O terreno fica na zona de amortecimento do Parque Estadual Xixová-Japuí, criado em 1993 para proteger 900 hectares de floresta. Essa faixa serve como escudo natural contra os impactos da urbanização.
“O desenvolvimento é bem-vindo, mas é triste ver a derrubada de mata nativa com espécies da Mata Atlântica”, afirmou Leniro Guedes, presidente da Associação dos Moradores do Canto do Forte (Amoforte), em entrevista à Agência Pública.
Um erro que se repete
Os manifestantes lembram que o shopping Litoral Plaza já marcou um retrocesso ambiental. Inaugurado em 1998, o empreendimento ocupa uma área que hoje seria considerada ilegal. O novo CT pertence aos mesmos donos do shopping, o Grupo Peralta.
Na época, apenas um decreto federal protegia a Mata Atlântica, com regras mais flexíveis. A Lei 11.428, sancionada em 2006, proibiu o desmatamento do bioma em propriedades privadas, salvo em casos de interesse público. Um centro de treinamento não se enquadra nessa categoria.
“Só é possível derrubar a Mata Atlântica em áreas privadas quando a obra tem utilidade pública. Esse não é o caso”, explicou Luís Fernando Guedes Pinto, diretor da ONG SOS Mata Atlântica.
O deserto de concreto esquenta a cidade
A preocupação vai além da perda da vegetação. A Baixada Santista enfrenta ondas de calor cada vez mais intensas. Em Praia Grande, a urbanização removeu quase toda a cobertura verde próxima ao mar, transformando a cidade em um deserto urbano. Em 2025, as sensações térmicas chegaram a 50 °C.
A floresta que resta ajuda a equilibrar o clima, reduz o calor e mantém a umidade. Sua destruição pode aumentar as temperaturas e comprometer a qualidade de vida.
Moradores também denunciam a falta de diálogo. Segundo a Amoforte, o projeto foi divulgado à imprensa e a patrocinadores sem consulta pública.
Uma petição online já ultrapassa 3.400 assinaturas. O texto chama o projeto de “gol contra a natureza” e pede um modelo de desenvolvimento que preserve o meio ambiente.
E o tema também se espalha pelas redes sociais. Adriano Liziero, do Geopanoramas, publicou um vídeo que chegou a 1 milhao de views e quase 40 mil curtidas no Instagram nos 5 primeiros dias.
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A luta continua
Os movimentos ambientais prometem continuar pressionando. O Ministério Público de São Paulo confirmou que analisa uma representação sobre o caso.
O projeto pode parecer moderno e ambicioso, mas a dúvida permanece: vale destruir um dos últimos refúgios verdes da Baixada Santista em nome do progresso?
Para quem ocupa as ruas em defesa da floresta, a resposta continua sendo não.