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De Praia Grande para o mundo: Nathan Torquato, primeiro campeão paralímpico de parataekwondo

Nascido em Praia Grande e representando Santos pela Fupes, Nathan escreveu seu nome na história ao conquistar o primeiro ouro paralímpico da modalidade em Tóquio 2021

Tempo de leitura: 5 minutos

Aos 24 anos, Nathan Torquato carrega um título que ninguém mais poderá reivindicar: o de primeiro campeão paralímpico de parataekwondo da história.

www.juicysantos.com.br - De Praia Grande para o mundo Nathan Torquato, o primeiro campeão paralímpico de parataekwondoFoto: Alessandra Cabral/CPB/PhotoSports

Nascido em Praia Grande e representando Santos pela Fupes (Fundação Pró-Esportes de Santos), ele não apenas escreveu seu nome nos livros do esporte mundial, como também se tornou símbolo de superação e representatividade para toda a Baixada Santista.

O destino bateu à porta aos três anos

A trajetória de Nathan começou de forma quase mágica.

“Eu sempre digo que o esporte entrou na minha vida praticamente como destino”, relembra o atleta.

Com apenas três anos, enquanto ia para a escola de bicicleta com a mãe, ele se encantou ao ver pessoas treinando uniformizadas em uma academia.

“Nessa época, eu não sabia o que era taekwondo, karatê ou judô. Só vi o pessoal lá lutando de dobô e aquilo me encantou de uma forma incrível.”

Depois de muita insistência, a mãe finalmente o matriculou nas aulas. A partir daí, nasceu não apenas um atleta, mas uma paixão que moldaria toda a sua vida.

Construindo caminho no taekwondo convencional

Antes de se tornar campeão paralímpico, Nathan competiu durante anos no taekwondo olímpico, enfrentando adversários sem deficiência. Ele nasceu com uma má-formação no braço esquerdo.

“Eu sabia que tinha uma desvantagem, mas nunca me apeguei a isso. Quando eu perdia, entendia que precisava treinar mais, ser mais forte e mais rápido. Se eu tinha uma limitação, precisava me destacar em outro ponto.”

Essa mentalidade de aperfeiçoamento constante se tornaria uma de suas marcas. Ainda assim, o início da carreira trouxe desafios, principalmente os financeiros.

A família que sonhou junto

No começo, a falta de recursos foi um obstáculo enorme. Vindo de uma família simples, Nathan e os pais precisaram ser criativos para custear viagens e competições.

“A gente procurava apoio em lojas da cidade. Eu fazia apresentações no farol, uniformizado de dobô, mostrando chutes e golpes, enquanto minha família pedia ajuda de carro em carro.”

www.juicysantos.com.br - FarolFoto: Nathan Torquato

Essas ações, aliadas a vaquinhas e muito esforço, marcaram seus primeiros passos.

“Minha família sempre viveu o meu sonho comigo. Acho que foi isso que me fez superar a parte financeira.”

O divisor de águas no Azerbaijão

Durante a trajetória, Nathan enfrentou um episódio marcante. Ele foi impedido de lutar no Azerbaijão por ser paratleta. No entanto, transformou a frustração em combustível.

“Eu poderia ter desistido, mas decidi transformar aquela situação em algo que me motivasse ainda mais.”

Em 2017, surgiu a chance de integrar a seleção de parataekwondo. O maior desafio, porém, não foi técnico, e sim interno.

“Foi uma lapidação pessoal. Eu precisei me reencontrar comigo mesmo”, conta Nathan, que credita ao técnico, Mestre Rodney Saraiva, o processo que o transformou em atleta profissional.

Anos depois, o destino mostrou sua ironia: Nathan retornou ao Azerbaijão para receber o prêmio de melhor atleta paralímpico de taekwondo dos Jogos de Tóquio, das mãos do presidente do país.

“Foi Deus me mostrando que eu tinha tomado a decisão certa. Ele me levou de volta para lá para me mostrar que tudo valeu a pena.”

Tóquio 2021: o momento mágico

Quando o parataekwondo estreou nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, em 2021, Nathan estava pronto. Contudo, ele só compreendeu a dimensão da conquista ao voltar para casa.

“Eu estava tão concentrado que a ficha não caiu lá. Só entendi o tamanho do que fiz quando cheguei em Santos e vi a cidade mobilizada na carreata com o carro dos bombeiros. Foi emocionante.”

O ouro veio com humildade e estratégia.

“Sempre entrei com respeito pelo adversário e confiança em mim. Fui construindo a vitória chute a chute, round a round.”

A queda em Paris e o recomeço

No dia 30 de agosto de 2024, Nathan viveu outro teste. Durante a semifinal dos Jogos de Paris, ele vencia por 10 a 6 quando sofreu uma grave lesão no joelho. O adversário acabou campeão.

“Enxergo como uma nova queda, igual à do Azerbaijão. Foi mais uma chance de provar minha força.”

Depois de duas cirurgias, no joelho e no pulso, e um ano longe dos tatames, Nathan manteve o foco.

“No dia seguinte à lesão, já estava com a cabeça no lugar, pensando na recuperação.”

Hoje, sua prioridade é clara: voltar com saúde.

“Quero retornar bem, sem dor, sem medo. O resultado virá naturalmente.”

A meta, claro, é Los Angeles 2028.

“Eu e meu mestre acreditamos que eu estava ainda melhor em Paris do que em Tóquio. Se chegarmos fortes e saudáveis, a medalha virá.”

O legado além das medalhas

Para Nathan, o taekwondo vai muito além das conquistas.

“O taekwondo me moldou como pessoa. Me ensinou a ser resiliente, acreditar nos meus sonhos e entender que o trabalho duro sempre traz recompensa.”

Representar a Baixada Santista no cenário mundial é um orgulho constante.

“Muitas vezes, a gente não se imagina vencendo. Mas quando alguém daqui conquista algo grande, inspira os outros. Quero que os jovens olhem para mim e pensem: ‘Se ele conseguiu, eu também posso.’”

A região, reconhecida como uma das mais esportivas do país, tem em Nathan Torquato um exemplo vivo de que dedicação e apoio familiar transformam sonhos em realidade.

“Representar a minha cidade no mundo é um privilégio que pedi a Deus, e Ele me concedeu”, conclui o campeão.

Um pioneiro que, a cada chute, a cada luta, continua abrindo caminho para as próximas gerações.