Islândia incrível: como explorei o país de carro no inverno
Na Islândia as manhãs começam às 10h da manhã e as noites caem às 16h30.
Os ventos mais fortes do mundo habitado.
Vulcões que podem entrar em erupção a qualquer momento.
Auroras boreais que podem ou não aparecer depois de longas horas de espera.
Essas são apenas algumas “atrações” de um dos países mais selvagens do mundo, onde as placas tectônicas da Europa e América se encontram: a Islândia.
Fotos: Vinícius Vaguetti da Costa/Que a Estrada nos Encontre + divulgação
Em formato de ilha, o país fica ao Norte do Atlântico e seria ainda mais isolado se não fosse pela vizinha Groenlândia.
O destino é ideal para quem ama natureza e os esportes radicais, mas também para quem procura paisagens bucólicas e excelente gastronomia. O que o país tem de frio e perigoso, tem de extraordinário.
Islândia no inverno: clima frio, povo quente
Acho que uma situação que figura bem viajar na Islândia no inverno foi uma manhã em que nos despedíamos do confortável hotel Rangá, cravado entre Selfoss e Vík, em uma das últimas áreas habitadas do Sul da Islândia.
Encontramos nosso carro coberto de neve. Ao perceber que estávamos saindo, o proprietário do hotel Fridrik, que supervisiona a operação de perto, disse para que ficássemos tranquilos: ele próprio foi nos ajudar a tirar a neve para que pudéssemos seguir viagem tranquilos. Nos deu dicas importantes sobre a estrada e as condições climáticas para o dia. Ou seja: a natureza pode ser dura com a gente, mas sempre terá alguém pronto para ajudar e um hotel aconchegante para recuperar as energias.
Escolhemos viajar pela Islândia no inverno. Optar pela época do ano em que fará a sua visita implica em experiências completamente diferentes.
No inverno, você pode mesclar a possibilidade de ver a aurora boreal – que precisa de céu escuro e nada de nuvens para ser vista – com esportes de inverno e paisagens bucólicas.
No verão, as chances de ver a aurora são quase zero, mas permite ver a maior parte das cachoeiras e apreciar o sol da meia-noite.
Outro planeta
Na Islândia, eles costumam dizer que “se você não está gostando do clima, espere cinco minutos”. Como paulistana, achei essa frase curiosa e lá no fundo pensei: “eles não conhecem São Paulo!”.
Mas rapidamente percebi que a ilha tem um outro nível de mudanças bruscas de tempo: é realmente como se estivéssemos em outro planeta.
Além de ser o lugar habitável que mais venta no mundo, a Islândia tem paisagens exóticas que nos transportam a uma atmosfera quase alienígena. Não é à toa que a ilha foi escolhida para ser cenário de filmes e séries como Game of Thrones, Interestelar e Oblivion. A paisagem, ora de planícies de musgos, ora de deserto de areia vulcânica e gelo, passa por glaciares, vulcões, cachoeiras (muitas vezes congeladas no inverno), gêiseres e lagos com icebergs.
Nos últimos anos, o país nórdico começou a entrar no mapa turístico internacional, mas ainda é um lugar bastante original, sem estrutura para turismo de massa, o que a torna ainda mais encantadora e selvagem.
Para ter uma ideia, a principal rodovia do país é duplicada apenas em uma pequena área mais urbana, próxima da capital. O restante dela é uma pista simples, praticamente sem acostamento.
Reykjavík, capital da Islândia
As paisagens naturais já fariam valer a pena a viagem até a Islândia, mas o país tem muito mais a oferecer.
A capital islandesa, Reykjavík, é cosmopolita e charmosa. Mesmo sendo uma das menores capitais da europa, tem uma vida cultural agitada, restaurantes e cafés aconchegantes e um cenário fashion imperdível, com marcas como 66° North e Geysir.
Não volte para casa sem pelo menos uma peça dos tradicionais artigos de lã, que têm ganhado ares contemporâneos nas mãos de estilistas locais.
A cidade é um bom ponto de partida para uma viagem pelo sul da Islândia. Somando à população de Keflavík, cidade onde fica o aeroporto internacional, a região concentra 80% dos habitantes do país, que é de cerca de 300 mil pessoas.
O que comer na Islândia
Na capital, há uma cena gastronômica original em que o chef Thráinn Freyr Vigfússon se destaca.
Não deixe de visitar o Sumac, restaurante de Vigfússon de gastronomia islandesa com toques marroquinos e libaneses.
O Sky, do CenterHotel Arnavohll vale pela vista e ambiente descontraído. O restaurante fica na cobertura do hotel e tem vista para o antigo porto da cidade e para o Harpa Center, sala de concerto que é um ícone arquitetônico do país. Aposte nas opções com frutos do mar e salmão selvagem locais. São imperdíveis.
A vida noturna de Reykjavík também é bastante movimentada. Tudo acontece em volta da Rua Laugavegur, no centro da cidade.
A noite em Reykjavík faz valer a fama de sociedade igualitária e feminista: praticamente não existem áreas VIPs, não se paga para entrar e não é raro ver mulheres tomando a iniciativa e convidando os rapazes para um drink.
Dois dos lugares mais badalados são o Kaffibarinn e o Hurrá. Mas lugares novos surgem com frequência, todos a poucos metros de caminhada uns dos outros.
E lembre-se, quando estiver caminhando à noite pela cidade, fique sempre de olho no céu: o inverno na Islândia é uma ótima época para ver a aurora boreal e Reykjavík é uma das únicas capitais do mundo em que o fenômeno pode ser visto sem a necessidade de se afastar do perímetro urbano.
Passeios em Reykjavík
No dia seguinte, visite a Catedral Luterana Hallgrímskirkja, desenhada pelo arquiteto Guðjón Samúelsson, que se inspirou nas montanhas e glaciares do país para o projeto.
De lá, desça a Rua Laugavegur que, além de ter os principais restaurantes e bares da cidade, concentra as principais lojas e o Museu Islandês do Punk Rock.
Falando em música, Reykjavik é uma das cidades com mais músicos no planeta. E tem uma cena musical surpreendente para seu tamanho. Bjork, Of Monsters and Men e Sigur Rós são apenas alguns dos nomes mais conhecidos. Há dezenas de festivais de música durante o ano na cidade, vale a pena verificar o calendário cultural antes de embarcar.
Quem quer conhecer um pouco mais da herança viking, pode visitar dois museus: o Viking World, que fica entre Reykjavík e Keflavík e o Museu Nacional da Islândia, na capital.
Na estrada de gelo
Depois de Reykjavik é hora de pegar a estrada e conhecer a natureza selvagem da ilha.
Caso você goste de dirigir, é possível, sim, fazer isso no inverno, com alguns cuidados extras: alugue um 4X4 (que normalmente vem com pneus de neve), tenha um pequeno estoque de comida e água no carro – para o caso de ficar preso na estrada por conta de nevascas -, abasteça sempre que vir um posto e vá com calma. Isso porque o limite de velocidade nas estradas do país é de 90 km/h em áreas rurais e 50 km/h em trechos urbanos.
No entanto, muitas vezes você precisará dirigir bem mais devagar que isso. O gelo na pista e o vento exigem muita cautela e velocidades baixas.
Na Islândia, além dos seguros comuns que são feitos na hora de alugar um carro você precisará também de uma proteção para cinzas vulcânicas e tempestades de areia.
As chances de um vulcão entrar em erupção são pequenas, mas completamente imprevisíveis. Tempestades de areia também podem acontecer, com mais frequência no verão do que no inverno, o que torna esse seguro uma tranquilidade extra na hora de viajar pela ilha de carro.
E não, você não precisa dirigir se não quiser: há várias opções confortáveis e luxuosas para conhecer o sul da Islândia em tours privativos. Empresas como Arctic Adventures oferecem roteiros personalizados em super jeeps com motorista e guia. No Brasil, a Terra Mundi organiza grupos pequenos e saídas sob medida.
Perigo real e hipnotizante
Na Islândia, há um certo perigo charmoso sempre iminente. A sensação é que os quatro elementos entram em colapso a todo instante para encantar e nos dar a certeza de que não temos controle algum da natureza.
Um vulcão pode entrar em erupção. O vento pode criar uma tempestade de areia vulcânica. Uma noite perfeita para ver a aurora boreal pode decepcionar, assim como uma noite com pequenas chances pode te pegar de surpresa.
Aqui é a natureza quem manda
Foi essa sensação que tive ao dirigir em direção ao sudeste da ilha, para a lagoa Jókülsárlón, que fica no glaciar Vatnajökull, o maior da Europa, a 372 Km da capital.
Parece uma distância pequena, mas o ideal é separar ao menos três dias para chegar até lá, para ir com calma, curtindo a natureza e levando em conta que a imprevisibilidade do tempo pode tornar a viagem muito mais longa.
No caminho, passe por Skógafoss, queda d’água deslumbrante de 60 metros de altura que pode estar parcialmente congelada no dia da sua visita.
Curta a luminosidade difusa do sol, que nunca fica alto nesta época do ano e dura, no máximo, cinco horas por dia.
Fique uma noite no charmoso vilarejo de Vík e visite Reynisfjara, famosa praia de areia negra. Tome apenas cuidado para não chegar a mais de 10 metros da linha d’água, pois as ondas são imprevisíveis o que a torna uma das mais perigosas e misteriosas em todo mundo.
Ao chegar em Jókürsálón, uma das áreas mais remotas do país, aproveite para contemplar os icebergs do lago e contrate uma visita às cavernas de gelo. Elas variam entre azuis e cinzas hipnotizantes e você nunca visitará a mesma, pois ela se formam a cada ano em diferentes pontos do glaciar.
Na natureza selvagem
Próximo a Vík, no glaciar Sólheimajökull, é possível fazer hiking e escalada no gelo.
Você não precisa viajar com equipamentos: a maior parte dos tours incluem o básico, como botas, grampos e capacetes.
Se seu hobby for mergulho, não deixe de visitar o Thingvellir, parque que abrigou um dos mais antigos parlamentos da europa, em 930. É lá que é possível mergulhar em Silfra, entre as duas placas tectônicas da América do Norte e da Eurásia.
Onde se hospedar na Islândia
Nesse trajeto, é possível dirigir por dezenas de quilómetros sem ver uma única casa, quem dirá hotéis. Mas os que existem são muito confortáveis, como a rede Foss e o hotel Laki.
A maioria das boas acomodações na Islândia tem o serviço de wake up call para a aurora boreal. Normalmente basta comunicar à recepção que você gostaria de ser avisado e pronto!
No caminho de volta para Reykjavík, o Hotel Rangá é parada obrigatória para recarregar as baterias, aprender sobre o céu da Islândia e comer e beber muito bem. Já o Diamond, em Keflavik, com apenas sete suítes, é uma experiência aconchegante a apenas 20 minutos do aeroporto internacional.
Neste ano, surgiu outro luxoso hotel na Islândia. O Retreat at Blue Lagoon (foto) tem sessenta e dois quartos, spa e restaurante e promete ser uma opção elegante para quem quer ficar dentro do complexo da Blue Lagoon, uma das principais atrações do país.
Localizada na península de Reykjanes, a Lagoa Azul fica em um campo de lava e é aquecida por energia geotermal. Além de relaxar e tomar um drink sem sair das águas quentinhas, é possível fazer tratamentos faciais e corporais.
Algumas opções de hotéis na Islândia
Hotel Rangá
Hotel boutique quatro estrelas com suítes luxuosas, restaurante gastronômico (foto) e atividades como observação de estrelas, tours a cavalo e jacuzzis.
Hotel Diamond
Hotel cinco estrelas com sete suítes modernas e luxuosas. Fica próximo ao aeroporto internacional e tem fácil acesso à Blue Lagoon.
Centerhotels
A rede tem seis hotéis no centro de Reykjavík, com três ou quatro estrelas. Fica em uma localização excelente, ao lado do Harpa Center e fácil acesso às principais atrações da cidade.
Fosshotels
É uma rede de hotéis boutique islandesa. Tem três unidades próximas ao glaciar Vatnajökull.
Laki Hotel
Fica no pequeno vilarejo de Efri-vík, quase chegando à Lagoa Jökulsárlón. Tem ótimo restaurante e ambiente contemporâneo.
Quer ver a aurora boreal na Islândia? Então leia até o fim
A Islândia fica em um ponto estratégico do globo para admirar a aurora boreal. É possível assistir a seu espetáculo de luzes verdes, azuladas e brancas em qualquer noite sem nuvens com atividade solar de moderada a intensa.
Sites como o do escritório meteorológico islandês trazem boletins diários sobre as condições climáticas locais.
É possível vê-la da estrada ou do hotel, mas quem quer aumentar suas chances de presenciar esse grande espetáculo da natureza pode contratar os tours de “caça à aurora boreal”. Eles levam os turistas para fora do perímetro urbano, para que as luzes da cidade não atrapalhem, no caso de atividades solares não tão intensas.
Ver a aurora boreal na Islândia exige paciência, tolerância ao frio e a certeza de que, mesmo com todas as chances, ela pode não aparecer.
E a beleza de cinco horas no frio, no meio do nada, olhando para o céu e esperando por ela, é que ainda não podemos comprar auroras boreais. Nem podemos prever quando um vulcão pode entrar em erupção. E isso nos coloca em nosso devido lugar na natureza.
O que comer na Islândia
A bebida típica da Islândia é o Bennivin, um destilado de batata também conhecido como Black Death. É um bom souvenir para trazer na mala!
A tradição manda tomar um shot de Black Death com petiscos de tubarão defumado, outra iguaria islandesa (o aroma lembra um queijo camembert feito com leite cru, mas o sabor é muito mais forte!).
Aproveite a viagem na Islândia e prove os frutos do mar e peixes frescos regionais como salmão e lagostim.
A carne de cordeiro islandês também é bastante celebrada na gastronomia local, uma das combinações clássicas são as costelas acompanhadas de batata.
Não deixe de provar o famoso Skyr (foto acima), iogurte islandês. Encontrei no café da manhã de todos os hotéis em me hospedei.
Onde comer e beber na Islândia
Sumac Grill + Drinks
O restaurante pertence a um dos mais celebrados chefs do país, Thráinn Freyr Vigfússon. É inspirado na gastronomia islandesa com toques da tradição culinária do Marrocos e Líbano. A entrada de falafel com molho de ervas é seguido de carne de cordeiro ou salmão selvagem.
Lava Restaurant
Especializado em gastronomia Islandesa, funciona durante o almoço e jantar dentro do complexo da Blue Lagoon. Peça para ver a carta de vinhos e aproveite para harmonizar com os peixes frescos locais.
Fiskmarkadurinn (Fish market)
Aposte no menu degustação criado pela chef chef Hrefna Rósa Sætran. Todos os ingredientes vêm da pesca e agricultura local. O robalo do ártico ao limão com purê de edamame é um dos pratos mais pedidos do restaurante.
Gló
Quem tem uma pegada mais natural e não come carnes, os restaurantes Gló são uma ótima opção. Com dois endereços em Reykjavik, é um endereço encantador para um almoço saudável e delicioso.
Kaffibarinn
Um dos bares mais badalados de Reykjavík, abre às e vai até 4h30 nos finais de semana. É frequentado por músicos, artistas e hipsters.
Hurrá
Tem jazz às segundas feiras e recebe DJs e bandas de diferentes estilos.
Sky Bar & Restaurant
O bar e restaurante fica no topo do CenterHotel Arnarvholl e vale pelo ambiente descontraído e a vista magnífica do Harpa Center e do antigo porto da cidade.
Salka Valka – Fish & More
Endereço despretensioso com deliciosas receitas de peixes, cervejas, carta de vinhos honesta e equipe super simpática.
Compras na Islândia
66º North
Uma das marcas islandesas mais cobiçadas da atualidade, mescla tecnologia de ponto em isolamento térmico e design.
Geysir
Marca local que combina a tradição da lã islandesa com a estilo de vida em cidades nórdicas, aliada à designs contemporâneos.
Turismo na Islândia: quem leva?
No Brasil, algumas poucas agências estão se especializando no destino. A Terra Mundi tem pacotes privativos e saídas em grupos.
Como chegar
Saindo do Brasil o mais fácil é fazer conexão em Londres ou em Paris e de lá, para Keflavík.
Informações úteis para sua viagem para a Islândia
- Brasileiros não precisam de visto para entrar na Islândia, que faz parte da área Schengen.
- Para alugar um carro, basta a carteira de motorista brasileira, ser maior de 20 anos e ter um cartão de crédito internacional.
- É importante lembrar que a ilha tem risco constante de erupção vulcânica e tempestades de areia e por isso é essencial contratar um seguro específico para estes tipos de ocorrências.
- O inglês é amplamente falado no país.
Sites úteis para quem viaja para a Islândia
Para monitorar a previsão da aurora boreal
Para aprender mais e se inspirar
Veja outras ideias de viagens no Juicy Santos.
Texto por Ellen Bileski