Uma história do Canal 3
Eu conhecia o ‘seu’ Josué havia algum tempo. Sempre cordial, nossas conversas nunca passavam do “bom dia” e “boa tarde”. Mas, eis que o gosto pela história de Santos nos aproximou. Então, descobri que aquele senhor de seus 80 anos de idade tinha guardado em sua memória, fatos do cotidiano santista que eu e muita gente desconhecia.
Um deles, foi contado à partir das lembranças de seu trabalho como pintor de paredes no antigo Parque Balneário Hotel. Sim, o antigo e glorioso hotel que ocupava uma quadra da Avenida Ana Costa com a praia.
Fotos: Novo Milênio
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O trabalho de pintura do seu Josué acabava por permitir acesso a muitos lugares onde poucos poderiam ter acesso naquelas luxuosas e grandes instalações. Preparações para grandes festas, contato com hóspedes, o dia-a-dia de um hotel de luxo que recebia hóspedes de todo o Brasil e também do Mundo.
Em meados da década de 1950, ele notou a presença de um senhor distinto, que vinha à Santos com certa frequência e se hospedava no hotel. Ele descobriu que se tratava de Washington Luiz, que foi deputado, prefeito da capital paulista, governador de São Paulo e também presidente da República, do qual foi deposto em 1930.
Em sua gestão no governo estadual, em 1923 veio a Santos para inaugurar o Canal 3. Era comum, na época, nomear logradouros para homenagear autoridades no poder, e provavelmente não foi diferente com relação ao Canal 3, cuja avenida recebeu o nome do próprio Dr. Washington Luiz. Uma justa homenagem, pois o governador tinha, entre outras obras, pavimentado e recuperado o Caminho do Mar, única ligação entre Santos e São Paulo na época.
Voltando à história contada pelo o seu Josué, o ex-governador e ex-presidente deposto, sempre que vinha a Santos, já com seus 80 anos de idade, fazia questão de, devagarinho, ir andando até o Canal 3. Parava e procurava a placa com o nome da avenida. Aliviado, Washington Luiz voltava para o Hotel.
Ele viria a falecer em 1957 aos 85 anos.
Teria ele receio de ter sido “deposto” também do título da avenida? Esta história não sabemos, mas pode ser acrescentada às memórias santistas.
By: EMILIO SERGIO PECHINI