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TAMTAM, o projeto de saúde mental que colocou Santos no mapa nos anos 90

A Santos TAMTAM, a Santos da loucura.

Não estamos falando dos insanos que, nestes tempos de pandemia, põem os interesses financeiros acima da vida.

Isso não é loucura – há incontáveis outros adjetivos que melhor definem comportamentos mesquinhos.

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Estamos falando dos loucos de verdade.

Daqueles que expressam sua humanidade de outras formas, que não as convencionais. Em lógica, linguagens, em modos que não alcançamos. E estamos falando daqueles que entendem esses loucos, e tratam humanamente a loucura alheia, quebrando insensatas normas convencionais.

Neste mês de maio, especificamente no dia 18, celebrou-se o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. A palavra é complicadinha de pronunciar, e de escrever também. Mas o significado é simples: a luta pelo direito à liberdade, ao tratamento humano – fraterno, solidário – a que todo mundo tem direito. Inclusive, e sobretudo, os loucos.

E o Dia Nacional da Luta Antimanicomial tem tudo a ver com Santos.

Saúde mental e Santos nos anos 90

Na Santos dos anos 90, foram implementadas políticas de humanização da saúde mental que se tornaram referência em todo o planeta. Espalharam-se por outras cidades e estados, até serem formalmente estabelecidas como política pública em todo território nacional, por meio da lei federal 20.216/2001.

A maior expressão dessa loucura santista foi o Projeto TAMTAM, que foi criado no finalzinho dos anos 80: em 1989, depois da intervenção da Prefeitura na Casa de Saúde Anchieta, o hospício conhecido como “Casa dos Horrores”. A alcunha, por si só, explica os motivos da intervenção, que foi seguida de uma série de medidas.

Entre as medidas, um tratamento mais humanizado dos pacientes. Desse tratamento humanizado nasceu a Rádio TAMTAM, conduzida pelos loucos – os pacientes e os profissionais de saúde e arte responsáveis pelo projeto, afinal tamanha ousadia reflete uma dose boa de loucura.

A Rádio TAMTAM foi sucesso absoluto na primeira metade dos anos 90. O pessoal passou a ser tema de reportagem de revista, de jornal, de televisão. O projeto incorporou outras formas de expressão artística. A Flávia Saad, aqui mesmo no Juicy Santos, já contou essa história – vale voltar lá para saber mais detalhes.

A loucura do coração

A luta antimanicomial é antiga. Remonta aos anos 40, com a psiquiatra Nise da Silveira revolucionando o tratamento em um hospital no Rio de Janeiro. Aliás, o filme “Nise – o coração da loucura”, com Glória Pires interpretando a personagem principal, é um primor no relato dessa trajetória.

A data de celebração – 18 de maio – faz referência ao dia em que, em Bauru, em 1987, realizou-se um encontro de trabalhadores em saúde mental; em Brasília, por sua vez, ocorria a I Conferência Nacional de Saúde Mental.

Mas foi a Santos TAMTAM que mostrou ser possível um outro mundo. Confirmou que Nise da Silveira estava certíssima. E que a boa luta vale a pena.

*A coluna Santos90, dedicada a resgatar a memória da cidade e da região na década mais divertida do século XX, tem autoria de Wagner de Alcântara Aragão, em colaboração para o Juicy Santos.

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