A Rua XV de Novembro já foi a Wall Street santista
Cenário para produções audiovisuais de todos os gêneros, por causa da parede externa com singular desenho em azulejos, o prédio sede do Banco do Brasil em Santos, na Rua XV de Novembro, 195, foi a leilão recentemente.
Acontece que, no fim de agosto, nenhum comprador se interessou pelo imóvel. O lance mínimo era de R$ 20.713,00.
“O banco estuda uma nova oferta pública do imóvel, ainda sem data definida. O lance mínimo será divulgado oportunamente, quando do anúncio do novo leilão”, informou, em nota, a assessoria de imprensa do BB.
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Uma operação, aliás, para lá de controversa. Vejamos: você venderia sua casa para ficar morando nela de aluguel? Pois é, ninguém com bom juízo faria isso. O Banco do Brasil está a fazer. Vender sua sede para gastar com locação nela própria.
Bom, por ora lanço só a reflexão; o tema da prosa agora é outro.
É que a notícia do tal leilão fez a gente relembrar que a sede do Banco do Brasil em Santos é a mais antiga da instituição financeira fora de uma capital. E trata-se da 4ª agência mais antiga do BB no País.
E fez lembrar também do seguinte: até início dos anos 90 – a Santos dos anos 90, você sabe, é o mote deste espaço ocupado por este signatário –, a Rua XV de Novembro era como uma Wall Street santista.
Se hoje bares, restaurantes e outros espaços de lazer e entretenimento se misturam a corretoras de café, agências e despachantes de comércio exterior e atividades afins, até o comecinho da última década do século passado instituições bancárias e financeiras compunham a paisagem como protagonistas da Rua XV também.
Os bancos da Rua XV de Novembro
O Banestado, Banco do Estado do Paraná, privatizado em 2000 e um dos bancos de melhor qualidade do país, tinha na Rua XV sua sede do litoral de São Paulo. Ficava em frente ao Banco do Brasil. Hoje, é a agência do serviço gourmet do Itaú.
O Banespa, Banco do Estado de São Paulo, igualmente dava as caras na Rua XV. A agência, hoje Santander, tinha entrada também para a Praça Mauá. O Banespa foi uma das maiores instituições financeiras do Brasil e, enquanto banco público, contribuiu sobremaneira para o desenvolvimento de São Paulo.
De imponente fachada, quase esquina com a Riachuelo estava o Banco Real do Canadá. Não estou seguro, mas é provável que até hoje o imóvel apresente o letreiro anunciando o nome da instituição. Também creio que esteja, ou pelo menos até pouco tempo esteve, em entrada de um edifício perto da Rua do Comércio, a placa indicando que funcionou ali a Bolsa de Mercadorias e Futuros, a BM&F, outra representante do mercado financeiro.
Se está achando exagero adjetivar a Rua XV da antiga Wall Street santista, saiba que, antes de escrever estas linhas, igualmente procurei fazer a mesma ponderação. Fui, então, a buscas na internet, e numa rápida pesquisa confirmei que não se trata de exagero não.
Pelo contrário.
Correto até seria dizer que a Wall Street é a versão nova iorquina da Rua XV de Santos.
Afinal, olha só a lista de instituições financeiras que tiveram como sede a nossa XV: City Bank, Banco Holandês Unidos, Banco Ítalo-Belga, Banco do Minho, Bank of London & South America Limited, Banco da América S/A, Banco Nacional Transatlântico, Banco Português do Brasil, Banco Commercial do Porto, Banco do Distrito Federal, Banco do Comércio e Indústria de Minas Gerais, Banco Nacional da Cidade de São Paulo…
Ufa!
Evidente que nem todas sobreviveram até os anos 90. Mas, sim, em boa parte do século XX, todas essas instituições foram vizinhas na Rua XV de Novembro. O site Novo Milênio traz propagandas interessantíssimas desses bancos, publicadas em jornais e revistas de suas épocas.
Ah, sim, isso sem falar na Bolsa do Café. Era da imponente edificação que saía a cotação internacional do grão, em tempos áureos.
*A coluna Santos90, dedicada a resgatar a memória da cidade e da região na década mais divertida do século XX, tem autoria de Wagner de Alcântara Aragão, em colaboração para o Juicy Santos.