Rádios de Santos
Acabei de ouvir que a ex-Rádio Rock (98 FM) de Santos virou retransmissora da paulistana Mix FM.
Sai da programação o rock clássico e contemporâneo – ainda que estivesse cada vez mais raro no dial da 98 ultimamente – e entra o pop farofa de Katy Perry, o hip hop enlatado de Chris Brown e os coloridos do Restart.
Isso me fez pensar: as rádios de Santos estão cada vez piores e sem identidade.
Antes da 98, ainda este ano, perdemos a Litoral FM (91,9) para uma estação religiosa. Das rádios genuinamente santistas, sobraram a Santa Cecília (107,7), Saudade FM (100,7), Tri FM (105,5), Cultura FM (106,7) e Guarujá (105,5) – estas três últimas voltadas para o público popular e com uma grade que privilegia sertanejo, pagode e músicas de novela.
Kiss FM, Jovem Pan, Classic Hits e, agora, a Mix são disseminadoras de uma programação padronizada, ou seja, como se fossem filiais de suas matrizes na capital.
E agora? Quem quer ouvir música diferente, livre de tanto jabá (se é que isso é possível), sintoniza onde?
Há uns 2 anos, a Oi FM tentou entrar no mercado em Santos, sem sucesso. Com faixas indies, boas descobertas nacionais e notícias sobre tecnologia, foi uma surpresa pra todo mundo que gosta de novidades musicais. Mas a experiência foi um desastre e a rádio saiu do ar de repente, depois de poucos meses, sem maiores explicações. Na época, até tentei entrar em contato com a Oi FM de SP para saber o que havia acontecido, mas ninguém me respondeu.
Enseada FM
É impossível falar de rádio em Santos sem lembrar da melhor de todas, a Enseada FM. Vários profissionais da comunicação santista passaram por lá, como Alexandre Fernandes (editor de esportes do Expresso Popular) e a Flávia Durante (editora de mídias digitais das revistas TPM e Trip), além de locutores inesquecíveis como o Rodrigo Branco, Felipe de Paula, Melissa Paiva, Johnny (que também gravava as vinhetas dos comerciais e o programa Mar Games) e Fábio Félix. Eu, particularmente, tinha uma relação de amor com essa rádio. Sonhava em trabalhar lá um dia.
A rádio Enseada FM misturava clássicos do rock com tudo de novo que estava bombando na segunda metade da década de 90. Em alguns programas específicos diários e semanais, a Enseada apresentava aos ouvintes novidades da música eletrônica, do metal e do hardcore que iam além do circuito MTV.
Foi assim que eu ouvi, pela primeira vez, bandas e artistas que marcariam para sempre a minha vida. Lembro de um dia, aos 15 anos, estudando para uma prova, ouvir Somebody To Love com os Blues Brothers e achar aquilo tão incrível que não queria que acabasse. Acordava para ir à escola com meu rádio-relógio tocando David Bowie, Cardigans, Nirvana, Oasis…
Lembrem-se que essa era uma época em que não tinha esse negócio de ouvir, curtir e baixar o mp3. Existia toda uma emoção na resolução do mistério: “quem tá cantando?”. A gente ficava na expectativa de ouvir o locutor dizer o nome da banda que tanto chamou a atenção e, se tivesse sorte, conseguia apertar o botão REC a tempo de gravar a música e ouvi-la de novo e de novo e de novo no walkman.
A Enseada foi um dos pilares de uma cena musical quentíssima na cidade e promoveu até festivais que revelaram artistas locais para todo o país. A rádio durou até 2003 e também deu lugar a uma emissora evangélica.
Está com saudades? Aqui no Podomatic do Rodrigo Branco tem algumas vinhetas feitas para a Enseada FM. O site Novo Milênio também tem uma postagem sobre as rádios de Santos. E no semi-falecido Orkut, existe uma comunidade chamada Amigos da Falecida Enseada FM.
E agora, como ficam as rádios?
Ouvir rádio sempre foi a melhor maneira de conhecer sons novos. Com o rádio ligado, a gente faz faxina, estuda, trabalha e passa o tempo cantarolando em um engarrafamento monstro. Desde os anos 50, quando a TV chegou ao Brasil, a turma do contra diz que o rádio vai acabar. O rádio não acabou, mas mudou.
A internet, ao mesmo tempo que nos deu a liberdade de ouvir rádios de qualquer lugar do mundo, matou nosso hábito de sintonizar. A sensação de ser surpreendido por uma descoberta ficou em outros tempos. No entanto, em outras cidades do Brasil, as rádios alternativas persistem como meios importantes de divulgação de novos artistas, independentes ou não. Por que em Santos é diferente?
A 98 continua no ar, mas apenas na encarnação online, no site A Rádio Rock. O mesmo destino teve a Litoral FM e sua programação focada em jazz e easy listening.
E você, quais são suas lembranças das rádios santistas?
Claro que tem gosto para tudo. Este texto fala, particularmente, da minha opinião e dos meus gostos pessoais para música.