Quem foi Vicente de Carvalho
Ele dá um dos nomes para a avenida da orla de Santos. Vicente de Carvalho também está presente na região como um distrito do município de Guarujá. Mas e quem foi esse cara que está em tantos lugares por aqui?
Seu nome quase sempre é associado com a poesia e a literatura, já que esteve envolvido com o início do movimento literarário chamado Parnasianismo e até fez parte da Academia Brasileira de Letras. Mas a gente precisa destacar que Vicente de Carvalho, esse homem multifacetado nascido em Santos, teve uma carreira eclética como personalidade progressista e antiabolicionista. Talvez por isso seja lembrado com frequência em monumentos, ruas e outras homenagens.
Nascido em 5 de abril de 1866, em Santos, foi advogado, jornalista, político, magistrado, poeta e contista.
O início da vida de Vicente de Carvalho
Filho do Major Higino José Botelho de Carvalho e de D. Augusta Bueno Botelho de Carvalho, Carvalho fez seus estudos primários em Santos.
Aos 12 anos, partiu para São Paulo. Lá, ele estudou no Colégio Mamede, no Seminário Episcopal e no Colégio Norton, onde concluiu sua formação básica. Com apenas 16 anos, matriculou-se na Faculdade de Direito e, em 1886, aos vinte anos, já era bacharel em Direito.
Quem foi Vicente de Carvalho na atuação política e pública
Vicente de Carvalho era um republicano combativo.
Enquanto cursava o 4º ano de Direito, se elegeu membro do Diretório Republicano de Santos. Em 1887, ele participou como delegado do Congresso Republicano em São Paulo. No ano seguinte, em 1891, tornou-se deputado no Congresso Constituinte do Estado. Em 1892, durante a organização do primeiro governo constitucional do Estado, ele foi escolhido para a Secretaria do Interior.
Porém, com o golpe de estado do Marechal Deodoro da Fonseca, Carvalho abandonou o cargo e mudou-se para Franca, no interior paulista. Lá, se tornou fazendeiro.
Somente em 1901, Vicente de Carvalho regressou a Santos e dedicou-se à advocacia. Mais tarde, em 1907, ele mudou-se para São Paulo e recebeu a nomeação de Juiz de Direito. Em 1914, alcançou o cargo de ministro do Tribunal da Justiça do Estado.
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Opiniões fortes
Além de suas contribuições no campo do direito e da política, Vicente de Carvalho atuou como jornalista formador de opiniões durante toda a sua vida.
Até 1915, ele teve uma presença quase que ininterrupta na imprensa. Em 1889, ele foi redator do Diário de Santos e, no mesmo ano, fundou o Diário da Manhã, também em nossa cidade. Além disso, ainda colaborou com A Tribuna e, em 1905, fundou O Jornal. Até 1913, ele colaborou no jornal O Estado de S. Paulo.
No final de sua vida, ele se revelou cansado do jornalismo. Mas continuou a se conectar com seus leitores através dos versos que publicava nas páginas da publicação A Cigarra.
Poesia era sua paixão
Como poeta lírico, Vicente de Carvalho esteve ligado desde o início ao grupo de jovens poetas de tendência parnasiana. Ele foi um dos criadores do Parnasianismo como estilo literário no país. Dentre suas produções poéticas, Rosa, Rosa de Amor é um dos livros mais conhecidos.
Essa obra, aliás, selou seu destino como “poeta do mar”.
“Palavras ao mar”, “Cantigas praianas”, “A ternura do mar”, “Rosa, rosa de amor”, “Velho tema” e “Pequenino morto” estão entre seus poemas mais conhecidos.
Cantigas Praianas
Ouves acaso quando entardece
Vago murmúrio que vem do mar,
Vago murmúrio que mais parece
Voz de uma prece
Morrendo no ar?Beijando a areia, batendo as fráguas,
Choram as ondas, choram em vão:
O inútil choro das tristes águas
Enche de mágoas
A solidão…Duvidas que haja clamor no mundo
Mais vão, mais triste que esse clamor?
Ouve que vozes de moribundo
Sobem do fundo
Do meu amor.
Por sua brilhante carreira como poeta, Vicente de Carvalho foi o segundo ocupante da cadeira 29 da Academia Brasileira de Letras, eleito em 1º de maio de 1909, sucedendo Artur Azevedo.
A poesia de Vicente de Carvalho nos transporta para um universo de sentimentos profundos e paisagens inspiradoras. Seus versos capturam a essência do mar, o amor, a liberdade e diversos temas que tocam a alma.
Mas, para além disso, Carvalho também foi um abolicionista engajado.
Nunca se furtou de abordar temas sociais em sua produção literária. Ele trouxe à tona questões como a escravidão, presente no poema “Fugindo ao Cativeiro”, e a miséria, que se manifesta em sua preocupação retratada em “A Voz do Sino”. Essas temáticas revelam sua sensibilidade e o situam como um poeta atento às questões sociais do seu tempo.
Em suas palavras, Vicente de Carvalho encontrou uma forma poderosa de transmitir a realidade e despertar a reflexão sobre questões que afetavam a sociedade brasileira no fim do século XIX e começo do século XX. Ao explorar esses temas em seus versos, ele não apenas evidenciou a crueldade da escravidão e a dor da miséria, mas também deixou um legado de conscientização e empatia através da arte.
O fim da vida de Carvalho foi em Santos, onde faleceu em 22 de abril de 1924.