Malhação do Judas em Santos: quem seriam os “judas” de hoje?
Os dias que antecediam a Páscoa eram assim em alguns bairros de Santos: a comunidade mobilizada para a Malhação de Judas.
Bonecos de palha e pano eram afixados em postes. No Sábado de Aleluia, eram “malhados”. Ou seja, vinham abaixo e se desfaziam a golpes de paulada e descarga de muita ira.
Uma tradição recorrente até há pouco mais de 20 anos.
Reproduções de fotos de Raimundo Rosa (A Tribuna), em postagem no site Novo Milênio, sobre a Malhação de Judas.
No Macuco, em meados dos anos 90, estava o mais famoso ponto de Malhação de Judas de Santos. Ficava na esquina das ruas Santos Dumont com Euzébio de Queiroz.
Havia, em média, de meia dúzia a uma dezena de bonecos. Cada um representava ou uma figura pública ou um fato local ou nacional que merecia ser “malhado”.
O organizador da Malhação de Judas no Macuco, Nêgo Wilson, definia os judas a partir de sugestões da vizinhança.
Políticos, líderes duas caras, desemprego, fome, carestia de tarifas de ônibus, de água, luz eram alguns dos judas objeto da “malhação” na Santos dos anos 90. Cada boneco recebia uma plaquinha, manuscrita, identificando uma pessoa ou episódio a ser simbolicamente eliminado.
Hoje, quem seriam os judas a serem “malhados”?
Não a pauladas, nem na base da violência. Os tempos atuais não permitem – ainda bem – brincadeiras brutais como aquelas.
Mas há, sim, pessoas e fatos a serem “malhados” – denunciados, investigados, punidos, à luz da lei.
Sem brutalidade.
É a boçalidade reinante que precisa ser desconstruída – e logo, antes que nos destrua.
*A coluna Santos90, dedicada a resgatar a memória da cidade e da região na década mais divertida do século XX, tem autoria de Wagner de Alcântara Aragão, em colaboração para o Juicy Santos.