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O amor chegou ao fim – a história do Charm’s Motel

O ano era 1997. Celso de Jesus tinha 23 anos e acabara de sair do emprego em um banco em Santos. Realizou o sonho de ter um automóvel bacana, seu primeiro carro, o que daria mais conforto para os passeios com a namorada.

O início da demolição do Charm’s Motel, nesta semana de maio, aguçou suas lembranças. As paredes do aglomerado de suítes consideradas sofisticadas e modernas para época em que foi inaugurado, na metade da década de 1980, em São Vicente, registraram muitas histórias.

O local chegou a ganhar prêmio de favorito dos usuários do Guia de Motéis em 2016.

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Agora só restaram as memórias de quem por lá passou.

“Lembro muito bem dessa passagem porque estava muito feliz com a compra do carro, um Gol GL todo elétrico. Levei minha mulher lá no Charm’s, na época éramos noivos. Disse para ela que iríamos a um lugar diferente ‘namorar’. Fomos fazer um lanche nas barracas da praia, naquele tempo não tinha os quiosques ainda. Ela reparou que não fomos para Santos e que não ficaríamos no Centro, Japuí ou Praia Grande. Inclusive ela perguntou ‘já vai me deixar em casa?’, eu disse não e entrei no Charms”, conta Celso, que morava no Jóquei Clube, muito próximo ao hoje já ‘saudoso’ motel.

Luxúria e luxo

O Charm’s era considerado sofisticado para os padrões da época.

Abrigava suítes com jogo de luz, pista de dança e banheira com hidromassagem. Foi inaugurado no final dos anos 1980. Ficava no número 585 da Avenida Penedo, no Jardim Nosso Lar, entre os bairros Catiapoã, Parque São Vicente e Jóquei Clube, em São Vicente.

“No dia da inauguração, a fila de carros era enorme. Algumas pessoas foram para frente tirar foto. Foi um grande evento. A espera era muito grande e as suítes muito concorridas. As pessoas saíam do carro lá dentro para fumar e acabava fazendo amizade. Ele foi construído em lugar que era afastado na época. Era rota para a Rodovia Imigrantes. Fazia pouco tempo, inclusive, que tinham pavimentado a avenida”, disse Andreia Lamaison, que morava no Jóquei Clube.

Eliana Vieira, que na época tinha 31 anos, foi uma das primeiras funcionárias.

“Ficava muito boba, nunca havia entrado num motel, e era muito luxo, muitos detalhes. Perdia tempo olhando tudo. Demorava mais que as outras camareiras para terminar o serviço. Acabei sendo demitida”, lembra.

Ela foi contratada junto com outras duas vizinhas.

No dia da inauguração a fila chegou quase no Guassú (bairro que fica no início da avenida a aproximadamente dois quilômetros do motel).

www.juicysantos.com.br - suíte do charms motel em são vicente

Charms Motel de toda uma cidade

Com o tempo, o grande motel da Avenida Penedo virou ponto de referência para os vicentinos, seja para o transporte público ou para o encontro com amigos. “Desce no Charms, motorista”. “Me espera no Charms, fulano”. 

Ele também deu nome à comunidade que cresceu em cima do canal à sua frente. Tinha os que vinham da região continental da cidade em busca de conforto e luxo para namorar.

“Quis impressionar uma namorada na época. Foi uma noite maravilhosa. Tinha acabado de comprar um carro e fomos comemorar. Tinha 18 anos e pedi uma suíte top, uma das melhores, tinha um carpete muito fofinho, melhor que a cama até”, disse Ueliton Hugo, morador da Área Continental.

Histórias do Charm’s

O fechamento do Charms Motel tem movimentado as redes sociais nos últimos dias. São inúmeros os relatos. Afinal, foram mais de três décadas realizando sonhos, fantasias e histórias.

Regina Bessa, moradora de São Vicente, também lembrou com carinho de muitos momentos.

“Namorava um cara de Jundiaí, o Eduardo. Todo fim de semana ele descia e íamos com uma turma para a Pink Panther (boate antiga já extinta que ficava na avenida da praia na divisa entre os municípios de Santos e São Vicente). Após o show íamos para o motel. Fizemos amizade com uma camareira/atendente de cozinha, Zilda o nome dela. Sempre que chegávamos lá pedíamos vinho e petiscos com a ‘ordem’ de sermos atendidos por ela”, conta Regina.

A irreverência do namorado de Regina e a amizade com a camareira renderam situações engraçadas.

“O Edu era muito palhaço e a fazia entrar no quarto. Nós debaixo dos lençóis fingindo estarmos pelados para deixar o pedido na cama. No começo ela ficava envergonhada, mas com o tempo foi entrando na brincadeira porque sabia que ele era generoso na gorjeta. Bons tempos aqueles. Foram quase dois anos de Charm’s todo santo fim de semana”, relata.

O que vai ser do Charm’s Motel?

Com a expansão e a modernização de estabelecimentos do ramo, o Charm’s, que ficava ao fundo do terreno do Golfe Clube, perdeu o status de sofisticado. O movimento nos últimos anos não era mais o mesmo. O antes isolado motel, agora já tinha como vizinhos conjuntos habitacionais, vilas e estabelecimentos do ramo de transporte.

Extraoficialmente, a notícia é que, no local, será instalada a filial de uma rede atacadista. A Prefeitura de São Vicente não confirmou.

A informação oficial, de acordo com a Secretaria de Comércio, Indústria e Negócios Portuários (Secinp) de São Vicente, é que a área está em licenciamento ambiental e há a expectativa da instalação de empreendimento comercial.

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