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A Rua General Câmara já foi uma Broadway santista

Pink, documentário sobre a boate Pink Panther que há poucas semanas saiu no YouTube do Juicy Santos, nos fez lembrar de outro point da noite santista, que se despediu da paisagem (mas não da memória) na Santos dos anos 1990.

Falo do quadrilátero formado pelas ruas General Câmara, João Otávio, Travessa Dona Adelina e Aguiar de Andrade.

Bem na quina da ilha, onde o cais vindo do Valongo faz a curva em direção a Outeirinhos e Ponta da Praia.

Sugestões para você

Imagem do filme “O Porto de Santos – 1978”, de Aloysio Raulino, que retrata, entre outros aspectos,
a boemia da zona portuária

Era, como os santistas resumiam, a região da General Câmara.

Quem não viu de perto as luzes neons a piscar nas fachadas, a reluzir letreiros de bares, restaurantes e casas noturnas naquele quadrilátero, ao passar por ali hoje capaz até de duvidar que na General Câmara tínhamos uma espécie de “Broadway” santista.

Arte publicada com reportagem do Almanaque Santista 1970, sobre a região da General Câmara.
Extraído do site Novo Milênio

A era de ouro da noite de Santos

Leio, ouço, assisto que o apogeu se deu nos anos 1960 e 1970; até os anos 1980 o brilho daquele auge se manteve conservado.

Não vivi a era de ouro.

Da fase do apagar das luzes, tenho imagens flagradas a partir da janela – das janelas de ônibus.

No 52, indo de manhãzinha para o colégio Primo Ferreira, não raro quando o ônibus deixava a João Otávio e entrava na General Câmara, ainda se notavam vestígios da madrugada boêmia.

Ou, por alguma razão, passando de coletivo por ali no início da noite, dava para ver os globos no interior da ABC House, a iluminação avermelhada do Love Story, o som que saía do My Love, a entrada extravagante do Zanzibar.

ABC House nos anos 90. Foto extraída do site Novo Milênio, que credita a Bandeira Jr./A Tribuna

Chegamos – eu e um grupo da faculdade – a fazer uma reportagem nessas casas noturnas, uma pauta para o Agência Facos, um dos jornais laboratórios do curso de Jornalismo da UniSantos.

A pauta, engendrada por nós mesmos, era um retrato da noite santista. Começamos na sexta-feira, depois da aula, pela orla; de madrugada, rumamos para o Paquetá. E terminamos ali, conversando com quem dava vida à General Câmara, e fazia tudo resistir até o amanhecer de sábado.

Um livro – Bendita Boca, de Sérgio Teles Fernandes Lopes – registra a fase mágica daquele ponto de encontro noturno de Santos. Vou procurar para ler.

E depoimentos, testemunhos, relatos, comentários, materiais jornalísticos traduzem a efervescência do quarteirão.

O auge e o declínio da General Câmara

Apontam duas razões para o declínio: a epidemia de Aids a partir dos anos 1980, que afugentou o público que frequentava a General Câmara em busca de programa, e a automação das atividades portuárias. A mecanização, além de diminuir o número de tripulantes dos navios, fazia com que as embarcações permanecessem por menor período atracadas, não dando tempo de a equipe curtir os atrativos da cidade.

Atualmente, a paisagem da região é de absoluta degradação urbana: imóveis abandonados, vias esburacadas, servindo de descarte de lixo, entulho e carcaças de caminhão.

O poder público anda muito, muito ausente para as bandas do Paquetá. Se cumprisse o que determina o Estatuto das Cidades, teria tudo para tornar a dar vida, dignidade àquele lugar.

*A coluna Santos90, dedicada a resgatar a memória da cidade e da região na década mais divertida do século XX, tem autoria de Wagner de Alcântara Aragão, em colaboração para o Juicy Santos.

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