Eleições em Santos: um pouco de anos 90 no ar
No dia 15 de novembro de 2020, os santistas irão às urnas para escolher prefeito e vereadores.
E as eleições em Santos de 2020 terão um pouquinho de anos 90.
Expliquemos.
Ocorre que a pandemia – ela ainda não passou! – impõe uma série de restrições, necessárias. Comícios, corpo a corpo em feiras livres, caminhadas, reuniões e outras atividades típicas do período estão impossibilitadas.
A comunicação entre candidatos e eleitores vai se dar, sobretudo, pela mídia.
É verdade que as ferramentas de internet terão seu protagonismo. Não é de hoje que os atuais postulantes já se fazem presente em redes sociais e canais de vídeo buscando expor o que pensam e o que propõem.
No entanto, a internet traz uma desvantagem. Fragmentada e pulverizada, muitas vezes a mensagem não chega a quem deveria.
Uma postagem pode cruzar o Atlântico e ser visualizada, curtida, compartilhada por quem está do outro lado do planeta. Do outro lado da rua, porém, por vezes, o vizinho nem toma conhecimento.
Os meios de comunicação de massa – jornal, rádio, televisão – exercem de maneira mais eficiente a função de comunicar a públicos em territórios e territorialidades bem definidas.
De modo que, os concorrentes ao Executivo, principalmente, devem apostar firme neste ano no horário eleitoral do rádio e da televisão. E nos debates que forem transmitidos por esses meios.
Aqui está a semelhança com as eleições em Santos dos anos 1990
Voltemos ainda mais no tempo.
Nós, santistas, ficamos proibidos de escolher nosso prefeito por 16 anos, durante a ditadura.
Elegemos Esmeraldo Tarquínio Filho, em 1968. O primeiro prefeito negro do país. Mas o regime cassou os direitos políticos e impediu a posse do prefeito eleito.
Em 1984, após muita luta, veio, enfim, a reconquista da autonomia político-administrativa do município.
Tivemos, então e finalmente, eleições municipais. As eleições de 2020 serão, portanto, a décima em Santos desde o processo de redemocratização.
Na época das duas primeiras, em 1984 e 1988, as campanhas (acirradíssimas, por sinal) ocorreram nas ruas e pelo rádio.
A cidade não contava com emissoras locais de televisão (a exceção era a TV Litoral, mas de circuito fechado, na Rodoviária da cidade).
Em Santos, assistíamos à propaganda eleitoral e aos debates da capital.
Anos 90 e a TV em Santos
Nos anos 90, enfim, negócios de comunicação começaram a obter, do governo federal, a concessão de canais regionais. A própria TV Litoral, em 1991; a TV Tribuna, que se afiliou à Globo, e a TV Mar, afiliada à Manchete, foram as precursoras.
Dessa forma, já em 1992 as eleições em Santos passaram a ser televisionadas. O dia a dia dos candidatos, horário eleitoral local e debates passaram a estar presentes na telinha.
A população passou a ver e a reconhecer suas lideranças naquele que era o meio mais poderoso de comunicação.
A ouvir e memorizar jingles caiçaras.
As campanhas políticas se profissionalizaram em marketing, em produção audiovisual, em assessoria de imprensa, em relações públicas.
Tornou-se determinante não apenas a campanha na rua. Comunicar-se pelo vídeo, dentro de padrões de técnica e estéticas tido como convencionais, virou requisito também.
Padrões, técnicas e lógicas que chegaram a ser rompidos do início da atual década para cá, com a massificação da internet. A comunicação nas redes mais as atividades em campo diminuíram a dependência da televisão.
E o que os anos 90 nos ensinam sobre as eleições de 2020?
Em 2020, temos, como dito, uma pandemia no caminho a inviabilizar grandes encontros presenciais, aglomerações, discursos para a massa.
Ademais, com a tsunami de fake news que contaminou as eleições nacionais mais recentes, de 2018, o povo anda com pé atrás diante do que circula na internet.
No ano em que completa 70 de vida, a televisão parece ter fôlego para recuperar parte do terreno perdido.
É bom acompanhar a propaganda eleitoral e os debates pela TV. Com o pé atrás também, uma vez que imagens e sons por vezes são hábeis para divertir. Mas é, sim, indispensável.
*A coluna Santos90, dedicada a resgatar a memória da cidade e da região na década mais divertida do século XX, tem autoria de Wagner de Alcântara Aragão, em colaboração para o Juicy Santos.