As histórias por trás dos sebos de Santos
Uma praça no centro da cidade, bancos para os mais velhos sentarem, pontos de táxis e quatro bancas. Um cenário normal, a não ser pelo fato de nenhuma delas ter o jornal do dia ou aquela revista semanal disponível, elas vendem livros, DVDS, CDs e jogos antigos.
Os sebos da Praça dos Andradas já se tornaram uma espécie de cartão postal do lugar e, como todo cartão postal, temos o habito de apenas olhar. No entanto, cada uma das banquinhas tem histórias – que vão muito além dos títulos dos clássicos ali presentes – para contar.
E se boas historias esperam por ouvintes, por que não oferecer nosso ombro (ou ouvido) amigo?
Largar um cargo de funcionário público para viver de livros pode parecer loucura, e talvez seja, mas foi isso que o Marcos Roberto fez. Na praça há 20 anos, ele iniciou sua vida profissional ali e, depois de mais de uma década afastado, decidiu voltar às origens com a banca Dom Pedro II.
“Tudo começou com uma banca só, aqui na praça mesmo. O dono era o seu Habib, que foi o meu primeiro chefe, ainda na adolescência. Foi ali que eu aprendi e passei a amar a profissão. Com o passar do tempo os sebos começaram a se desenvolver, foram abertas bancas no Gonzaga e em outras praças. Alguns sobreviveram aos tempos de livrarias e estão no mercado até hoje”.
Seu sebo, assim como todos os outros ali presentes tem uma organização que da “olé” em muitas livrarias. As seções são:
– Literatura mais atual
– Destinados ao público feminino
– Clássicos da Literatura
– Literatura Contemporânea Brasileira
– Literatura Brasileira para Vestibular
– Ciências Humanas
– Livros Técnicos
– Espíritas, Religiosos e Exotéricos
– Auto Ajuda
– Coleções
– CDs e DVDs
– HQs
O que mais chama a atenção é o conhecimento dos “vendedores”, é só falar o título e eles já sabem quem é o autor, algo meio automático. “Pra trabalhar aqui tem que gostar. Não vou dizer que conheço a história de todos os livros, seria loucura, se eu tivesse lido todos os livros que já vendi, Einstein seria uma criança ao meu lado”, brinca França, dono do sebo Feirão do Livro.
Por mais tradicionais que sejam, não tem como resistir aos tempos de modernidade. A venda online existe e faz com que a banquinha ali da praça distribua para todo o Brasil. “Não tem como ficar de fora, mas nem tudo pode ser vendido. Tem que ter um filtro, tem livro que eu não quero aqui de forma alguma” conclui.
Apaixonado por mangás e histórias em quadrinhos, Marcelo José é o dono do sebo Espaço Cultural, que deve mudar de nome em breve. “Estou aqui há 2 anos, quero mudar o nome, mas é lista de opções é imensa e não consigo decidir”. Com os olhos brilhando ele me apresentou aos HQs ali presente e a história de seu preferido, Lobo Solitário, “é a maior história de vingança que já li, o final é emocionante” contou.
A quarta banca, Second Hand, estava fechada durante a tarde em que estive na praça, mas certamente ótimas histórias podem sair de lá também.
Além destes, Santos conta com mais lojas na Praça José Bonifácio (Banca Republica), ao lado da Alfandega e na Av. Presidente Wilson , 1935 (Travessa da Praia).
Curiosidade
O nome sebo tem sua origem histórica. Segundo os comerciantes da praça, e pesquisas em alguns sites, o nome surgiu pelo fato de, antes da energia elétrica, utilizar-se de velas para emitir luz para a leitura, o que faziam com que os livros tivessem um aspecto ensebado.
Outro ponto interessantes é: enquanto em Santos temos todos esses sebos, nas cidades vizinhas não existe essa “cultura” – vamos chamar assim. Podemos, novamente, viajar na história para explicar.
Por conta do Porto a cidade abrigou, no período do império, uma parte da população burguesa, que consumia teatro e literatura. Podemos responsabilizar à esse fato o grande número de construções antigas, teatros, autores santistas e, é claro, a quantidade de livros e lojas destinadas ao ramo.