Tantos jogos na TV, mas pouca magia nos olhos
A oferta das transmissões de jogos de futebol na TV é impressionante. Mesmo que você não esteja com a menor vontade de assistir algum, é capaz de ver, tamanha a quantidade de canais esportivos com horas a preencher. Qualidade é uma outra história para um outro dia.
Em 1993, estava bem longe de ser assim.
A TV por assinatura já existia no Brasil, mas era para poucos.
A maioria, como eu, tinha o rádio, a TV aberta ou ir ao estádio como opções. Tinha, então, 14 anos no mágico 17 de novembro daquele ano. O encanto se fez porque havia três partidas em horários diferentes para serem vistas em sinal aberto, raridade das raridades. E belos jogos.
À tarde, Alemanha e Brasil se enfrentaram em amistoso na cidade de Colônia, em território germânico. Depois do sufoco nas Eliminatórias para a Copa do Mundo, quando Romário garantiu a classificação diante do Uruguai, a Seleção perdeu por 2 a 1.
Foto: Futebol Nostálgico
Alguns dos jogadores que atuaram não chegariam ao Mundial, casos do goleiro Ronaldo e dos atacantes Edmundo e Evair – este último, o autor do gol canarinho. Nos microfones, Galvão Bueno pela Rede Globo e o saudoso Luciano do Valle, pela Rede Bandeirantes. Estes, sim, estavam nos Estados Unidos em 1994 transmitindo o tetra brasileiro.
À noite, Flamengo e São Paulo começavam a disputar no velho Maracanã a final da extinta Supercopa dos Campeões da Libertadores. No placar, 2 a 2 e emoção de sobra, que continuou na semana seguinte, com direito à decisão por pênaltis, e resultou no título do Tricolor. Na narração, Oliveira Andrade pela Globo e Silvio Luiz, pela Bandeirantes.
Foto: Futebol Portenho
Como o horário coincidia com parte da terceira partida em questão, o jeito era levar ao ar o segundo tempo. Foi Argentina 1 x 0 Austrália, em Buenos Aires, que carimbou na repescagen o passaporte dos portenhos para o Mundial de 1994. Na Bandeirantes, o saudoso Marco Antônio foi o locutor. Consta nos jornais que a Globo transmitiu também. Confesso não lembrar.
O fato é que eu tinha que ir para a escola na manhã seguinte. Estava nas últimas semanas de concluir a oitava série do primeiro grau – tudo bem, Ensino Fundamental para alguns que estão lendo. Por isso, consegui ver apenas o amistoso do Brasil e parte da final da Supercopa. Ver a Argentina em campo, nem pensar. Já estava dormindo.
Os resultados que faltaram saber na hora em que ocorreram acabei conhecendo na manhã do outro dia. Costumava assistir os gols no Bom Dia Brasil, àquela época transmitido às 7 horas e com meia hora de duração. A aula começava às 7h30 e dava tempo, pois o Colégio Santa Inês, em Santos, onde estudei por uma década, ficava a cinco minutos de casa.
Se não desse para ver os lances por qualquer motivo, o jeito era esperar o retorno da escola e conferir no Globo Esporte, da Rede Globo, ou no Esporte Total, da Rede Bandeirantes.
O sinal tocava ao meio-dia e tinha tempo de sobra para chegar. Não tinha internet. Nem jogos às pencas na TV. Mas tinha magia. E expectativa.
*Ted Sartori é jornalista desde 2000. Atualmente, trabalha no jornal A Tribuna, de Santos. Escreveu o livro “‘100 anos da Vila Belmiro” e também tem o blog Arquivos 1000 e o canal de YouTube de mesmo nome, que apresentam um registro incrível da TV brasileira, em especial das transmissões esportivas.