O cara mais interessante do futebol brasileiro atual se chama Renato
Não há personagem mais interessante no futebol brasileiro, atualmente, do que Renato Portaluppi.
O técnico do Grêmio é, disparado, o cara que melhor se comunica com torcedores, jornalistas e até detratores, montou uma equipe que vem jogando o fino da bola e, por que não? Entra na fila de possíveis substitutos de Tite pós-Mundial da Rússia. É quem o boleiro atual gostaria de ser.
Mas nem sempre foi assim.
O eterno Renato Gaúcho já foi tratado apenas como folclórico, polêmico, mulherengo, pouco disciplinado, mau exemplo. Começou cedo, no próprio Grêmio, no início dos anos 1980.
Pinta de galã, começou agradando às gaúchas, mas sem descuidar dos marmanjos tricolores, com seus gols e boas atuações. Não aceitava provocação, dentro ou fora de campo.
Certa vez, um grupo de torcedores foi criticá-lo durante um treino no velho Olímpico. Com uma camisa do São Paulo (!), desceu do carro e perguntou quem havia o xingado. Ninguém se atreveu a responder.
Com a bola nos pés, era infernal. Na ponta-direita gremista, fez a festa sobre os alemães de cintura dura do Hamburgo, marcou os dois gols da vitória em Tóquio e deu o mundo de presente ao Grêmio. Virou ídolo. Mas era contestado, sobretudo, por seu comportamento.
A Copa e a não-Copa…
Pré-convocado por Telê Santana para a Copa do México, em 1986, Renato fazia jus à sua primeira participação mundialista. Foi bem nas Eliminatórias, com passes e cruzamentos milimétricos na cabeça dos centroavantes. Cabeça que não atinou para o risco que um ato de indisciplina poderia causar a ele. Uma escapulida da concentração o tirou da Copa de 1986.
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Porém, seu caminho rumo ao Rio, onde se tornaria rei, estava aberto. No Flamengo, fez parte do esquadrão campeão brasileiro de 1987, o que garantiu sua venda para a Roma, da Itália. O “Gullit branco”, referência ao craque holandês do Milan, porém, não vingou por lá.
Renato foi chamado por Sebastião Lazzaroni para a Copa de 1990, na Itália. Jogou quase nada, apenas quando o desastre diante da Argentina estava consumado. Assim encerrou sua história em Copas – até agora.
Mulheres, bailes, churrascos… E gol de barriga
Na Cidade Maravilhosa, “Renight” Gaúcho deitou e rolou. Namorou várias beldades da década de 1980, especialmente algumas modelos em evidência.
“Quando tem festa aqui em casa, até o Cristo Redentor tapa os olhos”, disse, certa vez, sobre um Baile do Vermelho e Preto, evento comum no pré-Carnaval carioca.
Posteriormente, em 1992, no dia seguinte à primeira final do Campeonato Brasileiro, entre Flamengo (seu ex-time) e o Botafogo, churrascou ao lado do amigo Gaúcho, que atuava no Fla. Polemizou – e nem havia redes sociais naquela época.
Mas seu último grande momento como jogador foi mesmo em 1995. Com um gol de barriga, deu o título estadual ao Fluminense, melando a “festa do primeiro centenário” do Flamengo. Virou de vez o Rei do Rio, com direito a roupa, coroa e cetro.
De Renato Gaúcho a Renato Portaluppi
Renato virou técnico “na marra”. Tentou salvar o Fluminense do rebaixamento em, 1996 e, mesmo prometendo correr pelado por Copacabana, caso o descenso ocorresse, não evitou a queda. Outros evitaram, mas isso é uma outra história.
Depois de perambular por vários clubes, fez seu primeiro grande trabalho como treinador no próprio Flu, em 2008. Chegou à final da Libertadores, em que foi derrotado nos pênaltis para a horrível equipe da LDU, do Equador. Tamanho revés, no fundo, deve ter mexido com seu inconsciente: jamais deveria montar um time de futebol tão ruim. Havia dito que, se viesse o título, iria “brincar no Brasileiro”. Pois brincadeira tem hora, e ele aprendeu.
Em setembro de 2016, Renato, agora Portaluppi, assumiu o comando do Grêmio. Já o havia feito em 2013, sem o mesmo êxito. Mas conseguiu montar um time que, aliando jogadores esquecidos de outros times com jovens bons de bola, mostrou que o tempo o havia amadurecido. Um time ofensivo, mas com bom poder de marcação. Enfim: futebol competitivo e de qualidade.
Foto: Lucas Uebel / divulgação Grêmio
Primeiro, conquistou a Copa do Brasil daquele ano. Em 2017, ergueu a Libertadores, a terceira da história tricolor. Suficiente parta que ele decretasse feriado em Porto Alegre e que cobrasse uma estátua para si. Ela vem aí, segundo as notícias do Sul.
Pouco importa se não ganhou o Mundial contra o Real Madrid. Ninguém ganharia. Mas o tricolor vendeu caro o revés, obtido num gol de falta de Cristiano Ronaldo – de quem, garante Renato, foi melhor. Mudou o ano, mas não o Grêmio. Continua encantando, já faturou dois troféus, o Gauchão e a Recopa Sul-Americana. Encanta no Brasileirão – que o diga o Santos – e , na Libertadores, também não decepciona.
Enfim: não faltam motivos para crer num futuro promissor, compatível com a realidade de Renato. Seleção brasileira pode ser uma possibilidade, assim quem começar o ciclo para o Mundial de 2022. Então, o pedido é singelo: Renato, vá se Catar!!
*Anderson Firmino é jornalista desde 2001