Navios Imaginados transforma arquivos portuários em poesia e paisagens fictícias
Um mergulho que mistura poesia, arquivo fictício e paisagens portuárias inventadas. Essa é a premissa de Navios Imaginados, novo trabalho do artista visual e escritor Raphael Morone.
Novo horizonte ancorado em Santos
A jornada poética de Morone parte da investigação meticulosa em jornais antigos de Santos, disponíveis na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.
Essa viagem ao passado revela anúncios de companhias marítimas atuantes desde o início do século XX até os anos 1980, uma rica fonte de vocabulário publicitário e detalhes operacionais das embarcações. Portanto, um recorte específico de tempo e espaço através da linguagem.
Este material, segundo o artista, se transformou em um verdadeiro “léxico poético”.
Morone convida a refletir sobre o movimento e a existência efêmera dos portos como espaços de infinitas possibilidades narrativas.
A construção do livro não se restringe ao resgate histórico; ela propõe uma reinvenção. Inspirando-se nesses arquivos, o autor usa da sua criatividade para reconfigurar os cenários, rotas e navios para transcender a realidade factual.
Processo criativo
Navios Imaginados engloba mais do que a fabricação de uma narrativa linear. E sim propõe um arquivo fictício em que companhias marítimas extintas e memórias inventadas se intercalam com paisagens marítimas em diferentes formatos literários, como poemas e panfletos. Esses elementos convergem para colocar os navios em um papel de protagonismo, entre fragmentos, ecos e rotas desenhadas pela imaginação do autor.
Recriando realidades
Não dá para deixar de identificar uma homenagem ao romance de Ranulpho Prata, Navios Iluminados. O clássico da literatura entrelaça a realidade dura dos trabalhadores do porto com a fascinação pelos imponentes navios que coloriam o canal de Santos no início do século XX.
Com apoio da Lei Paulo Gustavo – Santos, a obra de Raphael Morone estará disponível para download no formato digital em maio de 2025.
Nascido em 1987 em Santos, Raphael Morone divide seu tempo entre sua cidade natal e Belo Horizonte desde 2015. Multifacetado, atua como artista visual, escritor e designer gráfico, combinando pintura, desenho e literatura em seu trabalho. Graduado em Design Gráfico pela UNIMONTE e em Artes Visuais pela UEMG, onde também cursa mestrado em artes.
Começou sua carreira cultural cofundando o coletivo ACTION, criando cartazes sobre Santos e textos sobre música negra e arte. Sua obra explora a experiência migratória e a conexão entre memória e paisagem. Em 2021, publicou Pãozin de Cará, obra que entrelaça poemas e imagens relacionando Santos e Belo Horizonte. Colaborou como ilustrador no álbum “Narciso Deu um Grito” e publicou em diversos veículos independentes.