Morar com crianças em Santos: por que pensar neles melhora a cidade inteira
Morar em Santos costuma ser apontado como um privilégio: cidade litorânea, com boa oferta de serviços, clima agradável e índices de violência mais baixos do que grandes capitais. Em rankings que elencam os melhores lugares para criar filhos, ela costuma aparecer com destaque. Mas será que essa é a realidade para todas as famílias santistas?
Esse foi o tema de um dos episódios do podcast do Juicy: Santos é uma cidade boa para ter filhos? A resposta, como você vai perceber, vai muito além dos slogans bonitos. Criar filhos envolve uma rede de apoio real — com políticas públicas eficientes, acesso à moradia, oportunidades de trabalho e mobilidade urbana de qualidade. E esses fatores, infelizmente, nem sempre caminham juntos na Baixada.
Nos últimos anos, movimentos sociais e coletivos formados majoritariamente por mulheres vêm chamando atenção para um ponto essencial: pensar uma cidade boa para as crianças e para as mães é, na verdade, pensar em uma cidade melhor para todas as pessoas.
A ideia de “cidade ideal” esbarra na desigualdade
A percepção de que Santos seria uma cidade ideal para famílias cresceu após a pandemia. Famílias migraram da capital em busca de mais qualidade de vida e uma rotina mais tranquila. Mas, junto com esse movimento, veio a alta dos imóveis e a especulação imobiliária.
Hoje, boa parte dos imóveis na cidades é voltada para um público com maior poder aquisitivo — pessoas mais velhas, muitas vezes já sem filhos. O impacto é direto: crescimento populacional estagnado, menor proporção de nascimentos e, com isso, redução no investimento em infraestrutura voltada à infância.
Quando o número de crianças não cresce, muitas vezes as políticas públicas também desaceleram. O efeito dominó é evidente: menos creches, menos escolas, menos incentivo à permanência das famílias.
A ausência de um olhar metropolitano
Outro ponto fundamental levantado por quem vive a maternidade na prática é a falta de integração entre as cidades da região. Santos, São Vicente, Praia Grande, Cubatão e Guarujá formam um aglomerado urbano praticamente contínuo, mas ainda operam de forma isolada.
Na prática, isso significa que muitas famílias enfrentam verdadeiras maratonas diárias: pais e mães que residem em uma cidade, trabalham em outra e têm filhos estudando em uma terceira. A ausência de políticas unificadas transforma tarefas simples, como buscar uma criança na escola, em um desafio logístico.
Mobilidade urbana para quem cria filhos
A mobilidade urbana apareceu como o principal gargalo para quem cria filhos na região. As distâncias entre cidades podem ser curtas no mapa, mas a sensação de isolamento é real. Falta integração entre modais, linhas de ônibus escassas, dificuldade de acesso a bairros mais afastados e quase nenhuma opção para trajetos diretos e confortáveis.
Algumas soluções já foram testadas no passado, como os ônibus seletivos — que ofereciam mais conforto, linhas diretas e maior segurança. Mas, sem continuidade ou modernização, acabaram extintos.
Enquanto isso, as mães (e pais) seguem enfrentando percursos diários longos e estressantes. E quem depende exclusivamente do transporte público ou se locomove com carrinho de bebê, cadeira de rodas ou mobilidade reduzida, sente ainda mais os obstáculos no caminho.
Cuidar de mães e filhos é cuidar de toda a cidade
Existe um entendimento cada vez mais forte de que investir em infraestrutura urbana pensando nas mulheres e nas crianças tem um efeito positivo para toda a população. Uma calçada acessível serve a quem usa bengala, a quem empurra um carrinho e até a quem está com malas ou sacolas. Um sistema de transporte eficiente favorece não só as mães, mas trabalhadores, idosos e estudantes.
O que é bom para mulheres e crianças é bom para todo mundo – é por isso que a discussão sobre cidades mais acolhedoras para a infância precisa deixar de ser apenas uma pauta da maternidade e se tornar uma prioridade coletiva.
Afinal, a cidade ideal para criar filhos não é apenas aquela com belas paisagens e bons índices. É aquela que oferece apoio concreto, acessibilidade, autonomia e oportunidade. Morar com crianças em Santos tem esse potencial — mas, para isso, é preciso enxergar além dos números e ouvir quem vive a realidade todos os dias.
Você pode entender mais sobre o tema clicando no episódio abaixo do podcast do Juicy Santos