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Viver em Santos sem carro: entre a conveniência e a consciência ambiental

Em uma cidade onde quase metade dos habitantes possui um carro, talvez seja hora de questionar: será que realmente precisamos de tantos deles nas ruas?

Tempo de leitura: 5 minutos

No dia 22 de setembro, comemora-se o Dia Mundial Sem Carro. A data convida à reflexão sobre nossa dependência dos automóveis e seus impactos na qualidade de vida urbana. E viver em Santos sem carro, é possível? Se a cidade é plana, por que ainda tem tanto carro nas nossas vias (e vidas)? 

Pois é, por aqui, o tema ganha ainda mais relevância. Segundo dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), a cidade possui uma das maiores taxas de veículos por habitante do Brasil: aproximadamente um carro para cada 1,48 morador.

www.juicysantos.com.br - Santos no Dia Mundial Sem Carro entre a conveniência e a consciência ambiental

Cidade plana, trânsito complexo

Com cerca de 284 mil veículos registrados para pouco mais de 418 mil habitantes, Santos enfrenta um paradoxo curioso. Apesar de ser uma cidade praticamente reta e de contar com transporte público variado, com ônibus e VLT, além de condições ideais para caminhadas e ciclismo, os problemas de mobilidade persistem há anos.

O cenário fica ainda mais crítico com a movimentação portuária. Nos horários de pico, cerca de 10 mil caminhões e 19 mil carros extras circulam pelas ruas da cidade. Somam-se a isso as vias estreitas e a escassez de vagas de estacionamento. O resultado é um trânsito que desafia diariamente moradores e visitantes.

Santos sem carro: histórias de gente que fez essa escolha

Para entender como os moradores lidam com essa realidade, conversamos com três leitoras que fizeram escolhas conscientes sobre o uso do automóvel em suas rotinas.

Para ajudar o meio ambiente

Aos 71 anos, a pediatra aposentada Maria Angélica Brito representa uma geração que descobriu a preocupação ambiental ao longo da vida.

“Quando eu era jovem, não se falava muito em meio ambiente, não aprendíamos isso na escola”, conta.

Hoje, após se aposentar em 2019, ela quase não usa o carro. Prefere caminhar, pegar ônibus ou recorrer a aplicativos de transporte.

“O trânsito e principalmente a consciência que adquiri sobre os malefícios do uso do carro ao meio ambiente, também o preço do combustível, me fazem usar o carro o menos possível”, explica.

Maria Angélica observa as mudanças em Santos com preocupação. Para ela, o crescimento desordenado e o excesso de veículos contribuem para alterações no clima e na paisagem urbana.

Carro pra quê? 

A terapeuta e instrutora de yoga Michelle Moraes, de 41 anos, mudou de vida ao se mudar para Santos em 2022. Em sua antiga cidade, dependia do carro para tudo. Já no litoral, percebeu que o veículo quase não tinha utilidade

“O carro só servia para as compras de mercado, ficava a maior parte do tempo estacionado na garagem”, relembra.

No início de 2023, a família decidiu vender o automóvel.

“Realmente o carro só me faz falta para trazer as compras do mês para casa, já que a família é grande.”

Segundo Michelle, morar bem localizada facilita a rotina e evita preocupações com vagas de estacionamento.

Desafios para o pedestre

Para a farmacêutica Mariana Cruz, de 37 anos, a experiência de viver sem carro em Santos é até mais positiva do que foi em São Paulo.

“Aqui em Santos sou muito privilegiada de trabalhar de casa e morar numa área que tem muita coisa perto”, conta.

Ela destaca a segurança ao caminhar, inclusive à noite, e os preços mais acessíveis dos aplicativos em comparação à capital paulista.

Apesar disso, Mariana critica a falta de respeito dos motoristas com pedestres.

“Desde que me mudei para Santos, achei que a cidade está muito focada em dar preferência para carro, seja na falta de lombadas que permitem velocidades mais altas, mas principalmente no tempo que o semáforo fica aberto para pedestre.”

As três reconhecem, entretanto, que há avanços. Michelle cita a abertura da Avenida da Praia aos domingos como um “grande acerto”. Para ela, a iniciativa estimula tanto o turismo quanto os próprios moradores a caminharem pelo espaço.

Reflexão necessária

O Dia Mundial Sem Carro em Santos nos convida a repensar nossa relação com a mobilidade urbana. As histórias de Maria Angélica, Michelle e Mariana mostram que é possível viver bem na cidade sem depender exclusivamente do automóvel, mas também evidenciam que ainda há muito a ser feito para tornar Santos verdadeiramente amigável para pedestres e ciclistas.

Em uma cidade onde quase metade dos habitantes possui um carro, talvez seja hora de questionar: será que realmente precisamos de tantos veículos circulando? Ou será que podemos aprender com quem já descobriu as vantagens de uma vida com menos dependência automotiva?

A resposta pode estar não apenas em políticas públicas mais eficientes, mas também na mudança individual de consciência que essas três santistas já abraçaram.

Neste Juicycast, falamos um pouco sobre a cidade caminhável e como é viver em Santos sem carro