Sofri violência doméstica em Santos. E agora?
A gente sabe que a violência ainda faz parte da realidade de muitas mulheres no Brasil, atingindo diferentes faixas etárias e classes sociais. E quanto à violência doméstica em Santos? Na cidade mais feminina do país, com as mulheres representando 54% da população, os números mostram a gravidade do problema:
- A cada 24 horas, 13 mulheres sofrem violência;
- Em 2024, 9 vítimas de estupro por hora;
- 78.463 casos de violência doméstica;
- Uma morte a cada 17 horas no país;
- Crescimento de 1,6% nos boletins de ocorrência de violência contra a mulher em Santos em relação a 2023;
- Registros de violência em todos os bairros de Santos;
- Aumento em todas as modalidades de violência (física, psicológica, stalking, tentativa de homicídio, ameaças, tentativas de feminicídio);
- Em 2024, números significativos de importunação sexual, assédio sexual e divulgação de cenas de estupro/pornografia;
- Aumento de mais de 1600% nos crimes de feminicídio desde 2016.
Foto de Tarun Savvy na Unsplash
E, muitas vezes, os sinais surgem de forma silenciosa: um comentário humilhante, um olhar ameaçador, o controle sobre o dinheiro ou sobre com quem a mulher pode falar. Esse contexto, aos poucos, vai comprometendo a saúde física, emocional e a autonomia.
O mais importante é saber: você não está sozinha. Em Santos, existe uma rede de proteção que avança continuamente para garantir acolhimento e apoio especializado, da denúncia ao recomeço. Mesmo que seja difícil, tente pedir ajuda – aqui reunimos algumas das formas de como seguir à diante.
O ciclo da violência e os sinais que nem sempre são visíveis
Infelizmente, muitas mulheres permanecem em relações abusivas por medo, vergonha, dependência financeira, pressão social ou trauma emocional. Tudo isso contribui para a dificuldade em romper o que é chamado de ciclo da violência. Primeiramente, a tensão aumenta com ameaças, xingamentos e destruição de objetos. Depois, vêm as agressões físicas e verbais mais intensas. Em seguida, o agressor demonstra arrependimento, promete mudar e age de forma carinhosa. Mas, com o tempo, o ciclo se reinicia.
É importante lembrar que a violência pode ser física (empurrões, tapas, chutes, estrangulamento), sexual (relações forçadas, inclusive pelo parceiro), psicológica (humilhações, ameaças, xingamentos, isolamento), patrimonial (quebra de objetos, controle de dinheiro), moral (calúnia, difamação, injúrias), institucional (omissão ou negligência de serviços públicos) ou motivada por discriminação, como no caso do preconceito por orientação sexual.
Como e onde buscar ajuda em Santos
Romper esse ciclo não é simples, mas é possível. Santos conta com diversos canais e equipamentos para garantir a segurança e o apoio necessários. Veja onde você pode procurar:
-
Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) – Rua Assis Corrêa, 50, Gonzaga. Tel.: (13) 3223-9670. A unidade especializada faz o registro de boletins de ocorrência e encaminha a vítima para serviços da rede de apoio.
-
Central de Atendimento à Mulher: ligue 180 – Canal gratuito e confidencial, disponível 24 horas por dia.
-
Polícia Militar: ligue 190 – Para situações de emergência e risco imediato.
-
Delegacia Eletrônica da Polícia Civil – Denúncia online em www.delegaciaeletronica.policiacivil.sp.gov.br ou pelo WhatsApp (61) 9610-0180.
-
Defensoria Pública do Estado – Rua João Pessoa, 241, Centro Histórico. Tel.: (13) 2102-2450. Apoio jurídico gratuito para ações como divórcio, guarda dos filhos, pensão alimentícia e medidas protetivas.
-
Cadoj (Coordenadoria de Assistência Judiciária Gratuita e Orientação Jurídica ao Cidadão) – Rua General Câmara, 5, 14º andar. Tel.: (13) 3201-5632.
Além desses canais, a cidade conta com estruturas de acolhimento fundamentais:
-
Casa Abrigo Sigiloso e Casa de Passagem, que oferecem abrigo e proteção para mulheres e filhos em risco grave, em local seguro e com atendimento integral.
-
Casa das Anas, que funciona como um lar de transição, com suporte psicológico e social, além de cursos de capacitação para inserção no mercado de trabalho.
-
Casa da Mulher – Av. Rangel Pestana, 150, de segunda a sexta, das 9h às 18h. O local oferece acolhimento, escuta qualificada, capacitação, atendimento jurídico gratuito e o serviço do Guardiã Maria da Penha, com visitas periódicas e acompanhamento do cumprimento das medidas protetivas.
Quando a violência é sexual: o que posso fazer?
Vítimas de abuso sexual devem procurar atendimento médico nas primeiras 72 horas em uma das UPAs da cidade:
-
UPA Central – Rua Joaquim Távora, 260, Vila Belmiro
-
UPA Zona Noroeste – Av. Jovino de Melo, 919, Areia Branca
-
UPA Zona Leste – Praça Visconde de Ouro Preto, s/nº, Estuário
Se esse prazo for superado, o PAIVAS (Programa de Atenção Integral às Vítimas de Violência Sexual) realiza o atendimento especializado na Av. Conselheiro Nébias, 267, 1º andar. Tel.: (13) 99743-7928 / (13) 3235-6466 ou e-mail: [email protected].
Serviços sociais e apoio
Santos conta ainda com CREAS e CRAS, que realizam acolhimento, atendimento e orientação para mulheres em situação de vulnerabilidade. Os endereços estão disponíveis no site da Prefeitura: acesse aqui.
E um avanço recente foi a criação da Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, a primeira da Baixada Santista. Ela busca um atendimento mais humanizado e eficiente na aplicação da Lei Maria da Penha.
Independentemente do tempo de relação, dos sentimentos envolvidos ou do histórico da convivência, a culpa nunca é da vítima. Procurar apoio e denunciar o agressor é um ato de coragem e de amor próprio. A violência contra a mulher não deve ser um destino — há como romper esse ciclo e recomeçar.