Semana Tereza de Benguela discute trabalho doméstico e racismo estrutural
Debates, oficinas e muita reflexão sobre o papel da mulher negra no território e na sociedade estão em pauta na Semana Tereza de Benguela até 3 de agosto.
A luta das mulheres negras está em pauta em diversas cidades da Baixada Santista entre os dias 24 de julho e 3 de agosto, durante a 5ª Semana Tereza de Benguela. O evento, que passou a integrar o calendário de grupos, movimentos sociais e coletivos que buscam a valorização e o fortalecimento das lutas antirracistas e feministas na região, estreia em 2025 com uma mesa de abertura dedicada a um tema fundamental: a naturalização da exploração do trabalho doméstico e o racismo estrutural no Brasil.
O debate aconteceu já no primeiro dia, na quinta-feira, no Sindicato dos Bancários de Santos e Região. A mesa teve a presença da professora e doutora em psicologia social Eliete Edwiges Barbosa, e da ativista sindical Eliete Ferreira da Silva, com mediação de Eugênia Lisboa, promotora legal popular.
E não para por aí! Ao longo de dez dias de programação, o evento se espalha por todas as nove cidades da Baixada, sempre trazendo para o centro da conversa a realidade das mulheres negras e seus diferentes territórios de atuação, desafios e conquistas locais.
Além de marcar o Dia Internacional da Mulher Negra Latina-Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela — ambos celebrados em 25 de julho —, a Semana propõe discussões atuais sobre políticas públicas, resistência, violências do Estado, reparação histórica e o bem viver.
Trabalho doméstico e racismo no Brasil: o que dizem as pesquisas
O trabalho doméstico, no Brasil, sempre esteve profundamente ligado à história da escravidão e da desigualdade racial. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em 2023, mostram que mais de 92% das trabalhadoras domésticas do país são mulheres e, entre elas, praticamente dois terços se autodeclaram pretas ou pardas. A informalidade é uma marca do setor. Portanto, mais da metade dessas profissionais atuam sem carteira assinada, o que evidencia vulnerabilidades, baixos salários e ausência de direitos trabalhistas.
Segundo a pesquisa “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça”, também do IBGE (2022), mulheres negras brasileiras são o grupo social que mais enfrenta barreiras no acesso a emprego, renda, direitos básicos e posições de liderança. Historicamente naturalizada, a exploração do trabalho doméstico evidencia o cruzamento entre racismo, machismo e desigualdade de classe. Essa estrutura se reflete não apenas nas relações de trabalho, mas também nas políticas públicas, no sistema judiciário e nas escolhas individuais que moldam o cotidiano das famílias brasileiras.
Programação da Semana Tereza de Benguela
Os eventos da 5ª Semana Tereza de Benguela propõem debates, rodas de conversa, oficinas, encontros culturais e intervenções artísticas em Santos, Guarujá, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe, São Vicente, Bertioga, Cubatão e Praia Grande.
Entre os temas em destaque, estão a luta das mulheres negras contemporâneas, racismo ambiental, educação popular, cultura negra nos diferentes espaços e a atuação das mulheres negras frente ao sistema de justiça.
O evento é uma construção coletiva de diversos coletivos, acadêmicas e ativistas da região. Não tem fins lucrativos e seu foco é dar visibilidade à atuação das mulheres negras no território e em fortalecer redes de formação e mobilização.
Qualquer pessoa interessada pode participar das atividades, que são gratuitas. Para se inscrever, é só clicar aqui.