Santos ganha pista exclusiva para treinos de corrida na orla
É, gente, ao que tudo indica a enorme polêmica causada por corredores ocupando a ciclovia de Santos está prestes a terminar. E com uma solução que pretende tentar resolver a treta do uso das ciclovias para treinos de corrida na orla.
A partir do dia 8 de julho (terça-feira), entra em fase de testes a Área de Treinamento de Pedestrianismo (ATP), um espaço exclusivo para treinamentos de pedestrianismo.
Entenda a polêmica da corrida na ciclovia de Santos
A primeira matéria que publicamos sobre o assunto foi em setembro de 2024.
Nessa época, a audiência começou a relatar cada vez com mais frequência acidentes e intercorrências entre corredores e ciclistas.
A ciclovia em Santos tem um perfil não apenas de passeio, mas de mobilidade e deslocamento entre as cidades de toda a região.
Correr na ciclovia não é permitido pela legislação, conforme estabelece o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). A lei determina que ciclovias são vias de circulação exclusiva para bicicletas.
Há bastante clareza no CTB sobre a hierarquia de prioridades. Pedestres têm prioridade sobre ciclistas, que por sua vez têm precedência sobre veículos motorizados (isso inclui bicicletas elétricas). No entanto, isso não significa que pedestres possam usar ciclovias.
Os argumentos de cada lado
Corredores defendiam o uso da ciclovia alegando que o piso de asfalto é mais adequado que o mosaico português do calçadão, que é irregular e prejudica a performance. O terreno plano e a sombra das árvores também ajudam, segundo os praticantes.
Ciclistas, por sua vez, denunciavam que a presença de pedestres “coloca em risco a segurança de todos”, especialmente quando corredores usam fones de ouvido ou andam em grupo, dificultando a fluidez e aumentando o risco de acidentes.
Recentemente, a Prefeitura de Santos fez uma tentativa de mitigação ao intensificar a sinalização das ciclovias com placas que proíbem explicitamente corrida e caminhada na faixa de bicicletas. E com razão. O uso inadequado se tornou um risco tanto para os pedestres quanto para os ciclistas.
Mas a divergência seguiu e, agora, essa novidade vem para tentar solucionar as tensões entre ciclistas e corredores.
Como vai funcionar a pista para treinos de corrida na orla de Santos?
O projeto-piloto da ATP funcionará às terças, quartas e quintas-feiras, das 4 às 6 horas da manhã, no trecho da orla que vai da Avenida Bartolomeu de Gusmão, altura do núnero 36 (logo após a rotatória em frente à Igreja Santos Antônio do Embaré), seguindo até a Rua Alexandre Martins, no bairro Aparecida.
Segundo a Prefeitura de Santos, o trajeto contará com monitoramento da CET-Santos, Guarda Civil Municipal e Polícia Militar.
Durante o funcionamento da ATP, a pista da orla no sentido José Menino/Ponta da Praia será temporariamente interditada para veículos, com rota alternativa pela Avenida Epitácio Pessoa. As linhas de ônibus municipais também terão seus trajetos ajustados. Portanto, as linhas 05, 139 e 194 seguirão pelas avenidas Bartolomeu de Gusmão, Siqueira Campos, Epitácio Pessoa e Rua Alexandre Martins, enquanto as linhas 23, 42, 52, 152 e 194 seguirão até a Praça Gago Coutinho.
“A Área de Treinamento para Corredores vai proporcionar aos atletas uma pista plana, linear e, acima de tudo, segura para treinos. O objetivo é que seja um espaço de referência para os atletas”, explica Gelasio Fernandes, diretor administrativo e financeiro da CET-Santos e um dos idealizadores da nova área.
Fotos: sala de imprensa/PMS
A ATP se inspira na bem-sucedida Área de Treinamento de Ciclismo (ATC), que funciona há mais de uma década na mesma região, entre as ruas Alexandre Martins e Capitão João Salermo. Essa iniciativa começou com apenas 30 frequentadores em 2014 e hoje atende cerca de 200 ciclistas diariamente, vindos de 10 assessorias esportivas diferentes.
O prefeito Rogério Santos pediu estudos sobre a viabilidade para instalar uma pista permanente para treinos de corrida na orla. Ou seja, se der certo a ATP, isso pode se tornar uma mudança definitiva em Santos. E, vale dizer, a ATP poderá se tornar um modelo para outras cidades brasileiras que enfrentam conflitos similares no cotidiano dos esportes urbanos.
Cidade esportiva precisa ser boa para geral
A criação da ATP acontece em um momento especial para o pedestrianismo brasileiro e santista. As corridas de rua cresceram 29% no país em 2024, saltando de 2.186 eventos em 2023 para 2.827 provas oficiais.
Claro que Santos sempre foi uma cidade tradicional nessa modalidade, tanto em praticantes quanto em número de provas nacionais e internacionais de corrida. O município sedia há décadas o Campeonato Santista de Pedestrianismo, que em suas 37 edições já atraiu milhares de participantes. Também rolam quase todos os fins de semana por aqui corridas de 5km que chegam a reunir mais de 8 mil participantes.
Pois é, isso é mais do que uma moda passageira. Correr em Santos se consolidou como estilo de vida e motivo de transformação cultural e urbana. Prova disso é a ATP que surge a partir de uma demanda da população, respeitando as necessidades de diferentes grupos de usuários dos espaços urbanos.
Porque praticar esportes com segurança é fundamental para uma cidade que se orgulha da sua vocação esportiva e quer oferecer qualidade de vida e urbanização inteligente para todos e todas.