Santos exporta mais microplásticos ao mar do que retém nas praias e canais
Estudo da USP revelou que 23% das partículas seguem direto pro mar aberto vindas de efluentes urbanos, atividades portuárias e até da pesca
Uma pesquisa conduzida por cientistas do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP) identificou os principais pontos de acúmulo de microplásticos no Estuário de Santos, onde fica o maior porto da América Latina.
O estudo, publicado na revista Ocean and Coastal Research em 28 de novembro de 2025, mostra que a maior parte dos microplásticos, 68%, permanece suspensa na coluna d’água. Eles se deslocam continuamente com as correntes marinhas. 23% são transportados para o oceano aberto, enquanto 9% permanecem acumulados no fundo e nas margens do estuário.

Para chegar a esses resultados, a equipe utilizou um conjunto integrado de modelos numéricos. Eles realizaram simulações computacionais que representam o comportamento do ambiente marinho. O estudo combinou três sistemas: um modelo hidrodinâmico, responsável por simular as correntes; um modelo de ondas de superfície e um modelo de deriva de partículas. Este último reproduz o deslocamento de milhares de fragmentos virtuais de microplástico.
Durante eventos de elevação extrema do nível do mar, como as ressacas, as partículas são empurradas em direção à costa. Isso eleva significativamente a quantidade de microplásticos nas praias e margens de canais. As praias centrais de Santos, os canais urbanos e a região da Ilha Porchat, em São Vicente, foram identificados como as áreas mais propensas à acumulação de microplásticos.
Já em períodos de mar mais calmo ou de nível mais baixo, as partículas se dispersam, permanecendo ativas na coluna d’água. “Essa permanência prolongada aumenta as chances de ingestão das espécies marinhas. Assim, amplia os riscos ecológicos e reforça a urgência de políticas de controle”, alerta Arian Dialectaquiz Santos, oceanógrafo e doutorando na USP, um dos autores do estudo.
Dados para monitoramento
Segundo os autores, os resultados funcionam como um mapa de risco ambiental e podem orientar a formulação de políticas públicas e ações de mitigação, pois permitem identificar áreas prioritárias para monitoramento da qualidade da água e limpeza costeira.
“Em situações de ressaca, por exemplo, os órgãos ambientais e de defesa civil poderiam usar essas informações para prever a chegada de grandes quantidades de resíduos nas praias e preparar ações de limpeza preventiva. O mesmo modelo pode ser utilizado para avaliar a eficácia de medidas futuras, como a instalação de ecobarreiras, simulando diferentes cenários e comparando os resultados”, destaca Santos.
Entre as fontes prováveis de microplásticos estão os efluentes urbanos e as águas pluviais provenientes de áreas densamente povoadas. Além disso, há as atividades portuárias, os resíduos transportados pelos rios e as atividades de pesca e navegação. Nestas, há degradação de redes, cordas e boias.
Para reduzir a poluição, os pesquisadores sugerem aprimoramento do saneamento básico e da drenagem urbana. Além disso, propõem o reforço de protocolos ambientais no Porto de Santos para evitar o extravasamento de pellets plásticos. Também incentivam campanhas de educação ambiental voltadas à população e aos setores náutico e pesqueiro. Finalmente, sugerem programas de limpeza focados nas áreas mais vulneráveis.
A equipe pretende expandir o estudo para abranger uma área mais ampla, incluindo a plataforma continental adjacente. Eles desejam incorporar diferentes tipos de plásticos, com densidades e comportamentos variados. Outra etapa futura será investigar o impacto de eventos climáticos extremos, como períodos de bloqueio atmosférico e chuvas intensas, sobre o transporte e a concentração de microplásticos.
Fonte: Agência Bori