Santista Djamila Ribeiro visita a cidade e conhece Casa da Mulher
Ela é referência na luta antirracista e feminista no país e no mundo. E é uma prata de casa, nascida em Santos. Quando se fala de Djamila Ribeiro, é uma tarefa árdua listar todas as suas conquistas, seja como filósofa, escritora, ativista ou professora.
Se você acompanha o Juicy Santos há mais tempo talvez já saiba que Djamila Ribeiro é de Santos. Embora resida em São Paulo atualmente e passe temporadas fora do país, ela ainda tem um enorme carinho pela Baixada Santista. Djamila esteve de volta à sua terra natal nesta segunda-feira (5 de maio) e aproveitou para conhecer a Casa da Mulher.
Fotos: Francisco Arrais
Ela destacou a importância de existir um lugar como esse no território, que integra todos os serviços e se apresenta como “mais um espaço importante para garantir não só o acolhimento, mas também o direito das mulheres”.
Desde dezembro de 2024, o equipamento público funciona como centro de proteção, capacitação e acolhimento às mulheres. Resultado de uma parceria entre a Prefeitura, o Governo do Estado e a sociedade civil, a Casa da Mulher dá apoio às mulheres santistas, em especial às vítimas de violência e em situação de vulnerabilidade. Mas não só isso. Já que a autonomia real só pode vir da geração de renda e da liberdade financeira, a casa oferece cursos de capacitação nas áreas de beleza, oratória, padaria e empreendedorismo. A gestão é da Secretaria da Mulher, Cidadania, Diversidade e Direitos Humanos (Semulher).
Vem aí um filme sobre Djamila Ribeiro
A vinda de Djamila a Santos e o reencontro simbólico com suas raízes teve um outro motivo especial: a gravação de cenas para um documentário sobre sua vida e obra.
Djamila, que se mudou de Santos em 2016, mantém uma ligação profunda com a cidade. Ela a considera seu “lugar de pertencimento” e diz que a carrega “sempre no [seu] coração”.
“Não tem como negar a importância da Cidade na minha história”, declarou.
A cidade moldou a sua consciência desde cedo: nascida em 1980, a filha de Joaquim José Ribeiro dos Santos, estivador e ativista do movimento negro, e de Erani Benedita dos Santos Ribeiro, empregada doméstica e praticante do candomblé, cresceu rodeada por debates políticos e pela valorização da herança africana. Em obras como Cartas para Minha Avó, Djamila homenageia a avó Antônia, benzedeira que morava em Santos, celebrando a sabedoria popular local. Foi em Santos, também, que nasceu sua filha Thulane, em 2001.
Embora tenha enfrentado o racismo estrutural em Santos na sua fase escolar, chegando a sentir-se tímida e insegura e a esconder-se no banheiro durante o recreio para evitar chacotas, Santos foi também o palco do seu despertar ativista. Aos 19 anos, a Casa de Cultura da Mulher Negra de Santos foi um espaço transformador na sua vida. Lá, rodeada por mulheres acadêmicas negras, descobriu o feminismo negro, superando a insegurança e compreendendo a sua identidade enquanto mulher negra.
Djamila também deu aulas voluntariamente no projeto Educafro, que oferece cursos de pré-vestibular a alunos carentes. Foi lá que conheceu a guia turística Augusta França, que acompanhou a visita de Djamila na Casa da Mulher e é uma das referências no afroturismo e ativismo negro na região.
Ela também ganhou justíssima homenagem no samba-enredo da União Imperial em 2024.
Filha de Santos, reconhecimento no mundo
Essa base santista impulsionou a sua jornada, tornando-a uma das vozes mais ativas e conhecidas no Brasil e no mundo na luta contra o racismo e pela igualdade de gênero. Através de livros impactantes como Lugar de Fala, finalista do Prêmio Jabuti, e o premiado Pequeno Manual Antirracista, vencedor do Jabuti em Ciências Humanas e que vendeu mais de 1 milhão de cópias, e o seu trabalho editorial na coordenação de selos como Feminismos Plurais e Feminismos do Sul Global, Djamila descontrói estruturas opressivas e amplia vozes historicamente marginalizadas.
O seu trabalho tem visibilidade internacional, incluindo o Prêmio Prince Claus e a homenagem no BET Awards, além de a ter levado a falar na Assembleia Geral da ONU. Em 2022, foi eleita para a Academia Paulista de Letras.
Recentemente, em abril de 2025, Djamila recebeu o convite para ser a primeira brasileira a lecionar como visitante no programa Dr. Martin Luther King Jr, do Massachusetts Institute of Technology (MIT).