Santa Bakhita: a história da santa negra que realizou um milagre em Santos
Conheça a jornada da mulher sudanesa que foi canonizada no ano 2000.
Mais uma da série: parece que tudo acontece em Santos.
Você sabia que Santos tem uma ligação especial com Santa Josefina Bakhita? Negra, sudanesa e símbolo de superação, ela recebeu em nossa cidade o primeiro altar dedicado ao seu nome no Brasil.

Uma nova praça para celebrar a história
A Prefeitura de Santos, em parceria com a Diocese, inaugura a Praça Santa Bakhita, localizada na esquina das ruas Silva Jardim e República Portuguesa, na Vila Mathias. A cerimônia começa às 18h30 desta quarta-feira, 1º de outubro, e reunirá fiéis e autoridades religiosas. O espaço, totalmente revitalizado, recebe uma imagem em fibra da santa. Para encerrar a noite, haverá uma Santa Missa.
Além da praça, a Rua República Portuguesa, onde fica a Igreja Santa Josefina Bakhita, também passou por melhorias. A via ganhou 17 postes de iluminação no estilo republicano e recebeu cabeamento subterrâneo. Os paralelepípedos voltaram ao seu estado original, enquanto as calçadas acessíveis ganharam mosaicos que remetem às culturas portuguesa e africana.
O milagre que aconteceu em Santos
A ligação entre Santos e Santa Bakhita começou em 1992, quando Eva Tobias da Costa, moradora de Praia Grande, sofria de úlceras varicosas graves causadas pelo diabetes. Participante de um grupo de idosos da Catedral de Santos, ela recebeu um santinho da beata Bakhita e o passou sobre a ferida antes de dormir. No dia seguinte, acordou com a lesão totalmente cicatrizada.
O médico que a acompanhava não encontrou explicação científica para a cura. Por isso, o Vaticano reconheceu o caso como milagre. O processo seguiu para Roma e, em 1º de outubro de 2000, o Papa João Paulo II declarou Josefina Bakhita santa da Igreja Católica.
Desde então, a Catedral Paróquia Nossa Senhora do Rosário abriga o primeiro altar dedicado a ela no Brasil. Já em 2006, a Vila Mathias recebeu a primeira igreja do Estado de São Paulo com seu nome.
Uma história de superação e fé
Josefina Bakhita nasceu em Darfur, no Sudão, em 1869. Filha de uma família de prestígio, perdeu a infância aos 9 anos, quando traficantes a raptaram e a escravizaram. O trauma foi tão intenso que ela esqueceu o próprio nome. As pessoas passaram a chamá-la de “Bakhita”, palavra que em árabe significa “afortunada”.
Durante anos, sofreu violência, diferentes donos a venderam várias vezes e a marcaram como propriedade. Mais de sessenta desenhos cortaram sua pele, e os agressores aplicaram sal e farinha nas feridas para cicatrizarem. Em uma das surras mais violentas, ficou um mês sem forças para sair do colchão de palha.
Sua vida mudou quando patrões italianos a levaram para a Itália como babá. Durante uma viagem deles, ela e a criança ficaram sob os cuidados das Filhas de Santa Madalena de Canossa. Nesse período, conheceu o Evangelho, recebeu o batismo em 1890 com o nome de Josefina e decidiu se tornar freira.
Em Schio, onde viveu por muitos anos, conquistou o carinho dos fiéis, que a chamavam de “nossa Irmã Morena”. Ela dedicou a vida à caridade, à humildade e ao perdão, chegando até mesmo a perdoar seus antigos torturadores.
Um símbolo contra o tráfico de pessoas
A data de sua morte, 8 de fevereiro, se transformou no Dia Mundial de Oração e Reflexão Contra o Tráfico de Seres Humanos, instituído pelo Papa Francisco. Santa Bakhita nos lembra que apenas a força do cuidado pode combater o tráfico de pessoas e todas as formas de violência. Sua trajetória de fé e superação segue como inspiração na luta contra a escravidão moderna.