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Quando Raul Seixas transformou a praia do Gonzaga em uma Sociedade Alternativa

Há mais de 40 anos, 150 mil pessoas se reuniram na areia do Gonzaga para testemunhar Raul Seixas transformar um show em manifesto por liberdade em plena ditadura militar

Tempo de leitura: 5 minutos

Natal está chegando, época que a Baixada fica lotada de shows. Teremos Gabi Melim e Alceu Valença no icônico Hotel Atlântico em Santos, os shows do Estação Verão e logo mais Alexandre Pires animando Santos no primeiro mês de 2026. Mas estamos aqui para relembrar um dos shows mais icônicos que a praia do Gonzaga já vivenciou, e falando em natal, o show é do cara que via o papai Noel montado em urubu! Estamos falando de Raul Seixas!

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Foto: Frederico Mendes / Acervo Kika Seixas

Toca Raul! É a frase que todo mundo que se arriscou no violão já ouviu. E não é para menos, afinal, Raul Seixas se tornou um dos maiores ícones da música brasileira com seu jeito único de maluco beleza. Não é todo mundo que você conhece na rua que já transou com deus e com um lobisomem. Isso sem falar do gato do cara que colocava ovo…de fato ele era um vampiro doidão.

Mas convenhamos, é melhor ser uma metamorfose ambulante do que ter a cabeça dura não é mesmo?

O Dia em Que 150 Mil Pessoas Viraram Sociedade Alternativa

Era fevereiro de 1982, véspera de carnaval, e a cidade de Santos respirava música. O festival Música na Praia tomava conta da orla durante uma semana inteira, trazendo grandes nomes da MPB como Erasmo Carlos, Wanderléa, Benito di Paula e Zé Ramalho. Mas no dia 13 de fevereiro aconteceu algo que marcaria para sempre a história da cidade litorânea.

Aproximadamente 150 mil pessoas se aglomeraram na areia da Praia do Gonzaga para ver Raulzito subir ao palco. Era multidão para todo lado, gente que vinha de Santos, do litoral inteiro, da capital, tudo para ver de perto o maluco beleza que estava sacudindo o Brasil com suas letras anarquistas e seu rock’n’roll brasileiro.

Uma Hora de Pura Energia Rock

Durante uma hora intensa, Raul comandou aquela massa de gente com um repertório que era uma verdadeira aula de rock brasileiro e mundial. Ele mandou ver nos seus maiores sucessos, tocando músicas que todo brasileiro conhece de cor e que fazem parte da trilha sonora de gerações.

Mas Raul não era só o compositor genial de músicas que falavam da realidade brasileira. Ele também era um roqueiro de raiz, daqueles que cresceram ouvindo os discos que chegavam dos Estados Unidos. Por isso, entre suas próprias composições, ele também presenteou o público com clássicos absolutos do rock mundial, aquelas músicas que influenciaram sua formação e que ele fazia questão de manter vivas.

A setlist passeava entre o rock puro e as letras filosóficas que marcaram sua carreira, mostrando todas as facetas daquele artista complexo e multifacetado.

A Banda Que Sustentou o Maluco Beleza

Raul não estava sozinho naquela noite histórica. Ele contava com uma formação poderosa de músicos que deram o suporte necessário para aquele show memorável: Tony Osanah nas guitarras, Oswaldo Luiz no baixo, Edu Rocha na bateria, Olmair Raposo nos teclados e piano, além de uma seção de metais de primeira com Gerson Galante nos saxofones, Dorival Galante Jr. no trompete e Wladimir Ferreguti no trombone.

Era uma banda completa, capaz de transitar entre o rock cru e os arranjos mais elaborados que algumas músicas de Raul pediam.

O Grande Manifesto na Areia

Mas o momento que transformou aquele show em algo ainda mais especial aconteceu nos minutos finais. Entre uma música e outra, Raul pegou um papel que parecia um pergaminho antigo e começou a ler para as 150 mil pessoas um texto do controverso ocultista inglês Aleister Crowley, conhecido como Liber Oz.

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Foto: Foto: Reprodução/ YouTube @RaulSeixasoficial

“Todo homem e toda mulher é uma estrela. Todo homem tem direito de viver pela sua própria lei, da maneira que ele queira viver, de trabalhar como queira, de gozar como queira, de morrer como e quando ele quiser.”

Imagine a cena: estamos em 1982, ainda sob a ditadura militar brasileira, e Raul Seixas, no meio de uma multidão gigantesca, começa a proclamar ideias libertárias e anarquistas, defendendo o direito de cada pessoa viver como bem entender, trabalhar como quiser, amar como desejar. Era pura coragem, era puro Raul.

Aquele manifesto ecoou pela praia, pelas ondas do mar, e ficou gravado na memória de quem estava lá. Era mais que um show – era um ato de resistência cultural, um grito por liberdade individual em tempos difíceis.

O Legado Preservado

Por décadas, esse show existiu apenas em gravações de áudio lançadas em vinil e CD. Mas em 2023, no dia em que Raul completaria 78 anos, as imagens da TV Cultura restauradas finalmente chegaram ao YouTube, permitindo que novas gerações pudessem testemunhar aquele momento histórico.

O show na Praia do Gonzaga é mais do que um registro musical, é um documento de uma época, um retrato de um artista no auge de sua capacidade de comunicação com o público, e uma prova de como a música pode ser transformadora e revolucionária.

Então, quando você estiver curtindo os shows deste verão na Baixada Santista, lembre-se: você está pisando na mesma areia onde 150 mil pessoas um dia se reuniram para celebrar a liberdade, o rock e a loucura genial de Raul Seixas.

Toca Raul!

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