Quando o Papai Noel chegava de helicóptero em Santos (e as crianças piravam)
Por quase três décadas, o Bom Velhinho fez entradas dignas de rockstar na praia do Gonzaga
Pensa na cena: você tá na praia do Gonzaga, olha pro céu e vê um helicóptero se aproximando com o Papai Noel acenando lá de dentro. Parece roteiro de filme, né? Mas foi realidade em Santos por quase três décadas. O Natal na cidade tinha esse luxo todo e a galera pirava.
Se você acha que a Caravana de Natal da Coca-Cola já causa comoção na cidade, é porque talvez não saiba que o bom velhinho costumava chegar de uma forma até mais, digamos, glamurosa na Santos do passado.
A chegada mais aguardada do ano
O Papai Noel oficial de Santos vinha direto das nuvens, de helicóptero mesmo, como se fosse o maior astro do pedaço. E era!
No dia 10 de dezembro de 1966, por exemplo, o esquema estava armado para as 17h30. Claro que o bom velhinho se deu ao luxo de chegar uns minutinhos depois (coisa de celebridade).
Fotos: Memória Santista
Antes de pousar na areia, o helicóptero fazia um tour completo pela cidade, voando baixinho pelos morros e bairros mais distantes. Assim, até quem não conseguiu ir pro Gonzaga podia ver o show aéreo do Papai Noel acenando lá do alto.
Quando o Pouso Virou Tumulto (do Bom)
A organização preparou uma área enorme para o desembarque, com cordões de isolamento e esquema de segurança. Mas aí o helicóptero encostou na areia e… tchau, organização!
As crianças simplesmente ignoraram todas as barreiras e partiram pra cima do Noel como se não houvesse amanhã. Teve gente puxando a barba pra confirmar se era de verdade, outras agarrando a mão dele, uma confusão generalizada e emocionante. A Guarda Civil suava pra abrir caminho até o tal do “Tremendão” – sim, esse era o nome do iate decorativo que esperava o velhinho. Anos 60, né, meu amigo.
Desfile e doces
Às 18h começou o desfile pela orla, com bandas do Exército, Polícia Militar, fanfarras de colégios. E o melhor: não tinha aquela de ficar atrás de grade não. A criançada podia circular livre, chegando pertinho do desfile.
Ah, e rolava uma chuva de chicletes Kibon durante todo o percurso. Milhares e milhares de tabletes sendo jogados pra galera. Os dentistas da cidade devem ter adorado esse detalhe.
A chave da cidade nas mãos de Noel
Depois de todo o show das fanfarras, chegava o momento solene: o prefeito Sílvio Fernandes Lopes entregava a chave da cidade pro Papai Noel. Tipo, o cara literalmente recebia as chaves de Santos. Poder máximo!
E pra fechar a noite com glamour, o prefeito acionava a iluminação especial: mais de cem árvores de Natal e 220 estrelas se acendiam pela orla toda, da Ponta da Praia ao José Menino. Um espetáculo de luzes que transformava a cidade.
Ele vinha pelo ar
Segundo conta o Memória Santista, essa tradição bombou de 1955 a 1982. No primeiro ano, até teve perrengue: o avião deu problema e o Noel teve que vir de carro mesmo. Que decepção! Mas em 1960, quando os helicópteros entraram no esquema, aí sim a coisa decolou de vez.
Em 1978, a Prefeitura deu uma pausa nas aterrissagens no Gonzaga. Com as praias cada vez mais lotadas, alguém finalmente pensou: “Será que pousar helicóptero no meio de milhares de banhistas é seguro?” A resposta foi não. Naquele ano, o Noel pousou no campo da Sociedade Esportiva Nova Cintra, lá no morro. Em 1979, foi a vez do estádio Ulrico Mursa receber a visita aérea.
Mas em 1980, o Gonzaga voltou a ser o ponto de pouso oficial. Durou até 1982, quando o evento ficou tão desorganizado que frustrou todo mundo. No ano seguinte, já era: fim da era dos Papais Noéis voadores.

Nostalgia das boas
Hoje em dia, o Papai Noel chega de carro alegórico, de trenó inflável, dessas coisas mais comportadas. Funciona? Funciona. Mas convenhamos: nada supera a época em que o Bom Velhinho literalmente descia do céu enquanto uma chuva de chicletes caía e crianças invadiam tudo.
Era uma época mais simples, mais ousada e, vamos combinar, bem mais épica. Aquele tipo de tradição que marca gerações e vira história pra contar pros netos.
E você, conhece alguma história do Natal santista? Conta pra gente!