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Porto de Santos bate recorde em toneladas em 2025. O que isso significa para a cidade?

De programas que fortalecem microempreendedores a jovens criando soluções que revolucionam operações portuárias, o maior porto da América Latina vai se transformando

Tempo de leitura: 8 minutos

Quando olhamos para os navios de carga cruzando a barra, muitas vezes achamos lindo, mas não entendemos bem o que acontece ali. O ir e vir dos navios e o “balanço” de 2025 do Porto de Santos nos conta uma história muito mais profunda. E talvez, humana.

Não se trata apenas de recordes econômicos. Mas de como essa potência logística começa a olhar com mais cuidado para quem vive na cidade que sempre brada que possui o maior porto da América Latina.

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O Porto de Santos encerra 2025 com a maior movimentação de cargas de sua história, superando a marca de 179 milhões de toneladas. Para se ter uma ideia da magnitude, esse número consolida um crescimento de 7% nos últimos cinco anos. 

Mas por que devemos celebrar isso, se nem todos nós atuamos diretamente nesse setor? Ampliar o olhar sobre a conexão entre o porto e a nossa vida é essencial, não apenas por razões econômicas do hoje, mas do futuro.

E o tarifaço? 

Ao contrário do que se esperava em julho, o recorde de 2025 sofreu influência direta de fatores geopolíticos. O anúncio de novas tarifas pelos EUA gerou uma “corrida de exportações” entre julho e agosto. As empresas anteciparam o envio de cargas como café, suco de laranja e celulose para evitar as novas taxações que entraram em vigor.

No entanto, não foi apenas o tarifaço o responsável pelos números. Passado o pânico noticiado por diversos veículos de comunicação, inclusive por nós, o resultado de 2025 mostrou a força de Santos para o país e para o mundo. O resultado foi impulsionado por recordes mensais consecutivos

O mês de novembro movimentou, sozinho, 16 milhões de toneladas, refletindo não apenas a demanda aquecida, mas uma antecipação estratégica do mercado frente ao cenário externo.

Porto como indutor de novas rotas econômicas

Sempre mencionamos aqui no Juicy Santos a importância da diversificação econômica para a cidade de Santos. É uma das estratégias mais poderosas para a economia local e que faz parte da nossa tese. Atualmente, mais de 60% do ISS da cidade de Santos está ligado ao porto. 

O porto de Santos tem grande potencial (e responsabilidade) nessa virada, podendo ser um grande indutor para a inovação e a economia local.

Uma das boas notícias de 2025 foi o programa Porto Fortalece, lançado em junho. Com atividades até março de 2026, a ideia é integrar as micro e pequenas empresas de diferentes setores da Baixada Santista à cadeia de suprimentos dos grandes terminais. Isso promove a retenção de riqueza na economia regional. A iniciativa é da Autoridade Portuária de Santos (APS), do Sebrae-SP e do Parque Tecnológico de Santos.

Vale resgatar que essa é uma ação que se alinha ao fortalecimento da cultura de ESG no porto e em seus principais atores. Durante o lançamento do programa, Cláudio Bastos destacou:

“E, no fim do dia, o que é ESG? É negócio. O porto que não investir em sustentabilidade vai ficar para trás, vai pegar apenas carga que ninguém mais quer”.

Programas como esse ajudam a transformar a relação entre grandes empresas da cadeia logística-portuária e as micro e pequenas empresas da Baixada Santista para incentivar que terminais, operadores e prestadores de serviços portuários priorizem fornecedores locais, promovendo compras mais conscientes e sustentáveis.

Outro destaque de 2025 é o projeto Cais de Oportunidades, que selecionou negócios que atuam nas áreas da Catraia, Bacia do Mercado e Cais.

Realizado pelo Instituto Procomum, a ideia é apoiar quem está na linha de frente das marmitas, salgados, lanches e entregas no entorno do cais. Os empreendedores receberam aulas, oficinas e integração. Tudo isso para melhorar a renda das famílias, trazendo mais cidadania e segurança alimentar para toda a comunidade.

E como fica a inovação em Santos?

O setor de inovação e tecnologia ligado ao porto ainda é emergente na região.

Existem diversas empresas que prestam serviços e talentos incríveis na área de TI. Porém, o número de startups ligadas ao setor portuário ainda é desproporcional ao tamanho das oportunidades e dos números do porto de Santos e emerge lentamente. Nos últimos anos, hackathons buscaram acelerar esse contexto.

Em outubro de 2025, Santos recebeu o Porto Hack Santos, um evento de peso realizado pela Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (ABTRA) e organizada pelo Instituto AmiGU. Contou com o apoio do Ministério de Portos e Aeroportos e da APS. 

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O desafio esteve em construir inteligência para um modelo simulador de Port Community System (PCS), buscando a tão sonhada integração digital e eficiência logística. Essa é uma dor concreta do porto. Foram 61 equipes na disputa, reunindo desde calouros até doutorandos de 38 instituições de ensino superior. E aqui vai fica o nosso orgulho bairrista: a equipe vencedora foi da Fatec de Santos.

Eles criaram o PortoBot, assistente virtual inteligente que acelera o processamento de dados e ajuda os gestores a tomarem decisões rápidas. Isso gera economia real nas operações. Uma prova de que nossos jovens têm capacidade de resolver problemas de gente grande. E que, com as oportunidades certas, poderiam instalar essas startups em Santos.

Um mar de soluções possíveis

A inovação também está olhando para o mar e para o meio ambiente. A própria APS tem realizado seus hackathons com foco em ESG. Da edição de 2024, saíram projetos interessantes como a Data Over Seas.

Em 2025, a vencedora foi a startup EcoPilots. O trabalho deles é interessante porque resolve uma dor real e imediata. Eles estão em fase de validação na Praticagem de Santos para otimizar o consumo de combustível e a manutenção das lanchas. Isso amplia a eficiência operacional, além de monitorar dados e o impacto ambiental. 

As lições de casa do porto 

O crescimento dos indicadores do porto de Santos vem acompanhado de um ciclo de investimentos de R$12,5 bilhões até 2028, volume 174 vezes superior ao registrado na gestão anterior (2019-2023), segundo Anderson Pomini, presidente da APS. 

Essa é uma mudança de diretriz que vem de Brasília. Na gestão Bolsonaro, a estratégia para o Porto de Santos era focada na desestatização (privatização). Isso justifica o baixo volume de investimentos públicos diretos naquele período. O governo Lula retomou o investimento estatal.

E, após a celebração de boas notícias, há muitas lições de casa a se fazer. Um dos principais pontos para o porto de Santos é a manutenção de sua competitividade.

Entre os pontos críticos, estão o aprofundamento do canal. O calado deverá ganhar até 17 centímetros progressivos nos próximos três anos, permitindo a recepção de navios de maior porte e eficiência logística.

O gigante Tecon Santos 10

Além disso, o STS10 (Tecon Santos 10) tem seu leilão confirmado para março de 2026. O leilão deste terminal é apontado como o maior projeto de contêineres da história do porto. A concessionária vencedora terá a obrigação contratual de investir aproximadamente R$ 2 bilhões em obras, ampliando a capacidade do complexo em cerca de 50%.

Esperada há vários anos, as obras da região da Alemoa (margem direita) e novos viadutos em área operacional devem ter início no segundo semestre de 2026, financiados pelo Novo PAC.

www.juicysantos.com.br - Porto de Santos bate recorde em toneladas em 2025. O que isso significa para a cidade?Foto: arquivo Prefeitura Municipal de Santos

Durante apresentação no dia 12 de dezembro, Pomini também destacou o gargalo logístico e os condomínios de triagem. Um dos pontos críticos abordados no relatório é o fluxo rodoviário para o porto de Santos. Diariamente, cerca de 20 mil caminhões precisam acessar a área, gerando severos impactos nos bairros do entorno devido ao descumprimento de horários de agendamento.

A APS detalhou a implantação de dois condomínios logísticos estratégicos. Um deles fica na Margem Direita (em Santos) e ocupa uma área de 500 mil m² atrás do terminal da BTP, desenhada para atender o futuro STS10 e o terminal de cruzeiros. Já na Margem Esquerda, (Guarujá) destaca-se uma área de 300 mil m² na região de Conceiçãozinha, já considerando a logística futura do túnel Santos-Guarujá.

Além da infraestrutura, o porto precisa olhar para a cidade no microscópio. Mais startups locais úteis para o porto, mas não necessariamente exclusivas, seriam um mar de oportunidades. Ver estudantes da Fatec vencendo desafios e o nascimento de soluções como a EcoPilots surgindo em 2025 mostra que algo já está acontecendo.

Se os líderes do setor portuário compreenderem a importância de horizontalizar as oportunidades que nascem no porto, poderemos também celebrar outros recordes nos anos que virão.